Já é muito tarde para falar do SPFW? Acho que não né. Na verdade, quando é tarde para falar de moda, não é mesmo. Na edição deste ano, ocorreram desfiles históricos que permitiram trazer cultura, poesia, conexão com a natureza, artesanato, criatividade, originalidade, história e ancestralidade para todos os públicos.
Uma dessas foi o desfile do stylist Maurício Duarte, indígena do povo Kaixana, nascido em Manaus. Maurício ganhou o prêmio GQ’s Global Criativity Awards no Brasil, “grandes ideias para um mundo melhor”. Na revista, o stylist está ao lado de grandes personalidades, como Emicida, Lewis Hamilton, Paulo Vieira, Kleber Simões, Amaro Freitas e Caio Nakane.
O nome “Piracema”, que o próprio figurinista escolheu para sua coleção, vem da língua tupi-guarani, uma palavra de origem Indígena que significa “subida do peixe”. — “É quando os peixes começam a migrar para fazer a fecundação, para entender todo movimento de crescimento dessa espécie viva. É uma analogia muito bonita, entre o que é pescar para as comunidades tradicionais, ribeirinhas, indígenas, principalmente da região norte. A gente entende que o peixe é a nossa principal fonte de alimento. Então nós respeitamos muito esse ciclo da água, do tempo em que as espécies podem ou não, serem pescadas. Quando você visita uma comunidade no interior do Amazonas, você entende que o peixe que está sendo servido naquele momento é um peixe que pode ser pescado, então é uma construção de respeito que não é ensinado em nenhum lugar, nem na escola. É entender que o imaginário afetivo que foi construído em muitas famílias da região norte pode trazer um novo olhar para moda”, conta em Entrevista.
A apresentação contou com ícones da Arte, como Zahy Tentehar, Zaynara, Thelma Assis, Nicole Balls e Ícaro Silva. As peças feitas manualmente com croche, que foram grandes destaques na semana de moda brasileira e continua sendo, ganharam diversas formas de algodão 100% sem aditivos químicos, seda e escamas de pirarucu naturais.


Junto ao Maurício Duarte, a marca Zay Shoes, também amazonense, calça todos os modelos. Na produção, muitas mãos trabalharam direta e indiretamente. Pequenos produtores e grandes marcas de tecidos, vozes de amigos que entendem a importância de seu trabalho, Dan Rose, amiga da família do Maurício que também é sua vizinha que topou a aventura, saindo de Manaus para costurar todas as peças no Ateliê em São Paulo.
Além disso, as escamas bordadas nos vestidos de croche pelas mãos do Júnior Crocheteiro e a Camila Ribeiro que saíram da vila de manejo sustentável de pirarucu, no interior do Amazonas e tratadas com muito cuidado pelo Luciano que vende artesanato no Mercado Municipal de Manaus. Carlos Penna esteve no Ateliê para moldar todos os cobres que foram desenvolvidos nas peças que faziam os tecidos flutuarem, arriscou-se com as escamas de pirarucu, flores de tucum feitas pelas mulheres da ASSAI em São Gabriel.


Para complementar a experiência do desfile, Duarte contou com a colaboração do DJ Eric Terena, que criou uma trilha sonora inspirada nos sons da natureza. Durante o desfile foram tocados sons de aves, das águas e as vozes das comunidades indígenas, criando a sensação de estar em meio floresta amazônica.
Escrito por: Bella Licurci