Se ficou perceptível a todos ou não, os remakes e reboots são uma tendência no audiovisual, seja nas séries, nos filmes ou até mesmo na música. Na matéria de hoje vamos focar apenas nas categorias séries e filmes.
Há meses, esta jornalista que vos fala, frequenta aulas na Universidade de Princeton, em New Jersey, em uma disciplina intitulada “Televisão Americana”, e em uma das últimas aulas do semestre que o assunto para este texto surgiu. O tema para esta matéria já estava definido, os primeiros rascunhos já estavam até escritos. Até que um dia, após uma aula com um dos professores mais geniais que já tive o prazer de estudar, ‘puft’, eu precisava escrever sobre a “Reinvenção dos Clássicos: O impacto dos Remakes e Reboots no audiovisual atual”.
Quando digo que os remakes e reboots são uma tendência, não quero que me entendam mal, eles sempre existiram, não é uma novidade. Entretanto, os últimos anos tem um gostinho de falta de inovação, nostalgia e a necessidade de tornar conteúdos antigos mais inclusivos e acessíveis. Uma tendência de mercado solicitada não somente pelas produtoras, mas principalmente pelo público que os consome. Quantos filmes e séries você assistiu nos últimos anos que tinham versões anteriores? Vou tentar te ajudar com algumas opções bastante conhecidas, ou talvez nem tanto.

Vou focar somente em produções lançadas em 2024, a princípio. O ano começou com o filme musical “Meninas Malvadas” chegando aos cinemas com uma pegada bastante diferente do original, lançado em 2004. Em março, “Matador de Aluguel” chegou com uma nova versão da produção original de 1989, a crítica não amou, mas também não foi considerada o pior remake do ano.
O título de pior remake do ano com certeza não fica com o próximo filme escolhido para compor a lista. “Twisters” conseguiu mais de 75% das críticas profissionais e um número absurdo de 91% do público geral. O filme é um reboot de uma obra lançada em 1966. “O Dublê” segue a lista, não ocupando um lugar melhor que a produção anterior, mas também não recebe um título ruim. A obra é inspirada em uma série de televisão produzida no início dos anos 80 e que fez um tremendo sucesso nos Estados Unidos.
O título com a nota mais alta entre os remakes e reboots citados, com certeza, vai para “Alien: Romulus”. Uma obra que agradou mais de 80% dos críticos e da população igualmente. O filme foi inspirado e redesenhado baseado em duas obras originais de 1979 e 1986.
Agora que vocês certamente entenderam o que eu quis dizer, vamos seguir com o que quero propor para hoje.
A Força da Nostalgia e a Representatividade Atual

Todas essas produções buscam validar algo que também anda muito em alta por aí, o sentimento de nostalgia. De tempos em tempos enxergamos novas versões de tendências antigas de praticamente tudo, moda, gastronomia, arquitetura, música, literatura e claro filmes e séries. É como gritar por um pouco de nostalgia, por um sentimento de saudade, talvez um pouco de conforto também seja a palavra.
A força da nostalgia reside na capacidade de conectar as pessoas a memórias emocionais que transcendem o tempo. Ela proporciona conforto e familiaridade em um mundo de constantes mudanças. Seja por meio de filmes, músicas ou objetos icônicos, a nostalgia resgata fragmentos do passado que remetem a momentos de alegria, simplicidade e segurança. Esse sentimento atua como um elo entre o cultural e o pessoal, unindo gerações e reafirmando identidades coletivas. É essa essência que torna o consumo nostálgico tão poderoso, não apenas como uma tendência de mercado, mas também como um reflexo da busca incessante por continuidade e pertencimento.
Entretanto, a nostalgia também ganha toques de originalidade e atualizações. É evidente que estamos em busca deste conforto, mas não queremos que os reboots e remakes sejam “levados a ferro e fogo”, como diria o ditado. O público clama pelo conforto, mas que traga personagens com mais personalidade, diversidade étnica, racial, identitária e sexual. Queremos sim uma nova versão de “Meninas Malvadas”, mas porque não incluir uma personagem lésbica que consiga criar identificação à um grupo, mas também trazer um personagem com alguma deficiência física ou cognitiva para representar outro. Ou, quem sabe, uma Ariel negra para o remake de “A Pequena Sereia”.
A representatividade unida à nostalgia tem grandes potenciais de transformar os queridinhos de 20/30 anos atrás em aclamações atuais.
A Reinvenção de Personagens Icônicas

Acredito ainda que precisamos discutir a reinvenção de personagens, principalmente femininas, nestas novas produções. Pensei muito se deveria unir o tópico anterior a este, mas decidi, por fim, dar um foco bastante específico para as mudanças feitas em personagens de filmes como “Ghostbusters”.
Em “Ghostbusters: Frozen Empire”, lançado em 2024, houve a introdução de uma nova personagem feminina importante, Melody, interpretada por Emily Alyn Lind. Ela desempenha um papel crucial na trama ao lidar com o vilão Garraka, um antigo deus fantasma. Melody inicialmente é revelada como uma aliada secreta do vilão, sendo manipulada por ele em troca da promessa de passagem para o além. No entanto, ela tem um arco de redenção ao ajudar os Caça-Fantasmas no confronto final, sacrificando-se para enfraquecer Garraka e permitir sua captura definitiva.
Além disso, a jovem Phoebe Spengler, já conhecida do filme anterior, continua como uma figura central. Ela lida com desafios emocionais e demonstra sua inteligência ao usar a tecnologia dos Caça-Fantasmas para combater ameaças sobrenaturais, destacando-se ainda mais como uma líder da nova geração da franquia.
Essas mudanças reforçaram a presença feminina na narrativa, dando complexidade a personagens femininas em papéis heroicos e vilanescos, alinhando-se com a evolução da franquia para incluir um elenco diversificado e mais camadas emocionais na história. O que é o completo oposto da versão original dos anos 80 onde o foco era inteiramente masculino.
O Impacto nos Filmes Originais: críticas e polêmicas

Quais seriam então os impactos dos remakes e reboots nos filmes originais? A discussão pode ser extensa quando pensamos em impactos, mas tentarei me manter em uma pergunta: Será que uma nova versão pode ofuscar a original ou criar uma nova forma de apreciá-la?
Na visão desta jornalista, os remakes e reboots podem sim ofuscar as versões originais, principalmente para as gerações mais novas, porém criam também uma extensão das palavras ditas há anos atrás. Filmes que poderiam cair em um esquecimento eterno são revividos em versões mais atuais e que tragam todas as questões de representatividades que conversamos acima e manter as histórias originais vivas de algum modo.
Então sim, de certa forma, as versões dos anos 60, 70, 80 ou até mesmo de 2004, que ganharam novas caras em 2024, podem sim ser esquecidas pela geração Alpha. Pode ser que as novas crianças jamais assistam ao primeiro Caça-Fantasmas, mas as versões mais novas, cumprem seu papel de manter viva a essência de uma boa história sobre caçadores de fantasmas.
Por fim, acredito que os próximos anos seguirão a tendência dos remakes e reboots a todo vapor, se mantendo firme na missão de consagrar os clássicos como clássicos, seja para os Boomers ou para a geração Alpha. É claro que existem riscos, uma ou outra versão vão acabar sendo péssimas adaptações, remakes ou reboots, mas talvez em mais dez ou vinte anos uma nova versão reviva a história que marcou uma geração, seja ela por ser muito boa, ou muito ruim.
O importante é manter o compromisso de evoluir as novas versões a cada vez, trazendo representatividades e identificações não só como trouxe na versão 1 ou 2, mas com o público em massa da época em que está sendo produzido. Manter a essência, mas evoluir sempre. Esse é o segredo para um bom remake, reboot ou adaptação. Seja lá qual for a proposta da nova produção, o compromisso é manter a ideia principal, e atualizar o que for possível e necessário.
Escrito por: Milly Ricardo.