Já se perguntou como um simples detalhe no figurino de um personagem pode contar toda uma história? E mais, sem necessariamente precisar falar meia palavra ou estar presente em quase todo o filme?
No grandioso mundo cinematográfico, o figurino deixa de ter um papel de complemento da caracterização de um personagem e passa a ser um tipo de narrador silencioso. É o ato de contar a história nas entrelinhas. Nesse caso, a narração ocorre obviamente por meio das peças usadas pelas pessoas para podermos compreender seus pensamentos, comportamentos e emoções.
Do vestido amarelo icônico de Andie Anderson em “Como Perder Um Homem Em 10 Dias”, para os dois estilos completamente diferentes de Ray e Molly em “Grande Menina, Pequena Mulher”, os figurinos mostram como os detalhes realmente fazem toda a diferença.
É o caso de Ray e seu jeito adulto de se vestir. Apesar de ser apenas uma criança, suas roupas casam com sua personalidade madura, como uma verdadeira “Grande Menina”. Do outro lado, temos Molly com looks coloridos e estampados exageradamente, que fazem com que ela seja vista como alguém infantil demais para sua idade – ou, uma “Pequena Mulher”.
Ambos detalhes não são propriamente falados durante o filme. No entanto, os trejeitos das protagonistas refletem estritamente em seus estilos únicos.
Usar desse recurso é, ao mesmo tempo, arriscado e totalmente compreensível. Arriscado, uma vez que, de um lado, não se pode ter total controle do entendimento de cada telespectador sobre aquele assunto. Em contrapartida, é algo necessário, já que nem sempre se tem espaço no roteiro para explicar totalmente as nuances daquele personagem, ou como se sente e é motivado a se comportar de determinada maneira.
Em muitos filmes, o uso da Psicologia das Cores – estudo de como as cores influenciam nossa percepção de comportamento humano e emoções – está presente! Analisar um personagem conforme a cor que ele mais usa, quase sempre, é a saída para entendê-lo por completo.
Outra ferramenta são os acessórios! Como eles podem ser usados de maneira que demonstrem os pensamentos de um personagem? Simples! Um casaco e um óculos podem ser usados como uma armadura para uma figura vulnerável. Ou até mesmo podem demonstrar negação de um certo personagem ao enxergar algo, metaforicamente ou literalmente, ao mesmo tempo que podemos ver com o seu reflexo na tela.
O fenômeno do vestido amarelo é outra prova viva de como cinema e moda andam sempre de mãos dadas. Influenciando em tendências atuais, as peças se alimentam e criam um diálogo entre as telas e a realidade, reproduzido pelos figurinistas em um ciclo quase que vicioso.
Esses profissionais fazem todo o trabalho de pesquisar e colocar em seus personagens exatamente a cor e a textura específica que entregam autenticidade.
Os figurinos são narradores que criam uma ponte entre nós e a história que estamos assistindo. O recurso é um grande aliado ao tentarmos entender em nível mais profundo o que está acontecendo, mesmo que sua conclusão chegue bem depois!
Sendo assim, Julie, da próxima vez em que for assistir à alguma obra, tentem reparar na escolha das paletas de cores utilizadas. Talvez você descubra algo que nem sequer se passava pela sua cabeça. Além de se tornar uma curiosidade legal para se adquirir quando for indicar o filme para alguém.
Escrito por: Anna Athayde.
Revisado por: Letícia Guedes.