Se você está acompanhando o especial de autoras da Julietta, sabe que um dos nossos pontos principais foi a diversidade de autoras que poderíamos apresentar ao público! E a autora de hoje gosta de criar mundinhos emos e alternativos para pessoas que são fora do padrão e desejam encontrar um lugar de representatividade no mundo. Estamos falando de Mary C. Müller, vencedora de três Prêmios Wattys é autora da Editora Naci.
Mary é uma mulher autista e alega que, por não saber escrever músicas, ela escreve livros emos com protagonismo representativo que permeiam desde a sexualidade até a neurodivergência de suas personagens. “Eu não consigo separar meu eu de escrita. Acho que sem a literatura eu não sou eu mesma, então é como se eu não tivesse opção além de escrever. É algo que amo, que gosto de fazer. Desde muito criança eu já criava histórias, então foi um processo gradual que andou lado a lado comigo durante meu crescimento e amadurecimento. Como autista, eu encontro na escrita um escape para colocar para fora muito de mim, não apenas de forma terapêutica, mas aquilo que amo e que quero compartilhar com o mundo” desabafa a escritora.

“Meu último lançamento, “Desmortos”, entre várias coisas, é uma carta de amor à música, à fantasia, ao emo e ao gótico. Coloco minha verdade no livro e posso ver outras pessoas se encontrando naquela verdade e é mágico. Nos últimos tempos tenho visto muitas pessoas neurodivergentes se identificando com meus personagens e se sentindo acolhidas e já tive leitoras que foram atrás de diagnóstico após ler meus personagens e estão finalmente se descobrindo depois de uma vida de incerteza. Quero mostrar esses personagens neurodivergentes vivendo, amando, sendo eles mesmos; e retribuir pro universo o que a literatura também fez por mim”, afirmou. E, se fosse trabalhar com uma personagem feminina por uma semana, sua escolha seria a Bergamota, a bruxinha de “Desmortos”, porque “Eu só queria ver de pertinho a magia sendo feita”, confessou Mary.
“Acredito que eu apresento personagens que fogem do tradicional, do típico, então meus livros são para todos que já se sentiram desajustados, que não pertenciam a algum lugar. Meus contos são para todos que querem uma história quentinha e confortável. Meus romances, para quem quer chorar e se apaixonar”, comentou a autora sobre porquê as pessoas deveriam ler suas obras. Ainda em um bate-papo intimista, ela revelou que tenta passar um tempo longe do computador, e que, hoje em dia, é preciso mais do que gente desagradável na internet para a tirar do sério — principalmente depois que virou mãe.

Como todos os autores — ao menos, a maioria —, Mary tem o sonho de viver da escrita e ver suas obras sendo adaptadas para o audiovisual. E se ela pudesse escolher uma de suas obras para isso, seria “Desmortos”, com certeza! “A Atriz indígena Ellie Makuxi seria perfeita como Lorena”, escolheu a autora.
Para finalizar, Mary comentou a respeito da situação em que o mercado editorial se encontra: papel muito caro e monopólio no Kindle. “Além dos custos de produção de livro, acho que nosso mercado ainda precisa evoluir em relação à ebooks, que hoje vemos praticamente um monopólio com o Kindle. Algumas coisas no mercado editorial em geral precisam de inovações para facilitar o acesso à leitura para todos. É difícil dizer exatamente o que, mas as coisas não estão fáceis para autores, leitores e profissionais do livro em geral”, comentou Mary. A Julietta deseja todo sucesso e todo amor possível para essa rainha das histórias emo que está apenas decolando sua carreira!
Escrito por: Ana Clara Reis