A literatura fantástica é um gênero que explora elementos sobrenaturais, extraordinários ou surreais. No exterior, temos Mary Shelley como exemplo. No Brasil, temos Saskia Sá. Escritora, diretora, roteirista e artista visual, Saskia Sá é a verdadeira “Barbie” — encarregada de múltiplas funções. Em suas histórias, as mulheres são as protagonistas, afetadas por questões contemporâneas, políticas, sociais e culturais.
Desde que se entende por gente, Saskia sempre foi apaixonada por histórias. Quando criança, desenhava histórias que vinham à mente, ou retratava fanfics a partir das narrativas que via nos filmes. Assim, sua paixão pela escrita e pelo cinema surgiu naturalmente. Por muito tempo, a escritora escreveu poesias intimistas, mas tinha receios em mostrá-las para o mundo. “Muitas mulheres têm esse receio, nós passamos por dificuldades em ter nosso trabalho validado. Muitas vezes, nós mesmas não o validamos, parece que estamos sempre aguardando para que o mundo nos valide”, complementa a autora. Progressivamente, ela transitou para a arte da escrita narrativa, a partir de suas experimentações no audiovisual, quando passou a escrever roteiros e mostrar seu talento para o mundo. “Eu fui estudando e aprendendo a minha forma narrativa, a forma pela qual eu gosto de contar minhas histórias. Foi assim que descobri minha paixão pelo fantástico, pelos elementos que tocam nossa realidade”, conta.
Com um pé na literatura e no cinema, Saskia é responsável pelo livro de ficção científica “Horizonte Líquido”, que narra o dia mais longo das vidas de Aylá, Lyn e Yur — todas confinadas em uma redoma com clima controlado. O enredo desdobra uma profecia envolvendo três mulheres tnwuará, desafiando o sistema exploratório que oprime os habitantes de Tnwuá. Inclusive, o livro leva o mesmo nome da empresa de produção audiovisual de Saskia. Além dele, tem inúmeros contos publicados em coletâneas e revistas de literatura fantástica. Também é curadora da Mostra Mulheres no Cinema do Festival de Cinema de Vitória.

Sua paixão por personagens fictícias é transcendental, afinal, são elas as protagonistas de suas histórias. Quando perguntada sobre qual personagem fictícia gostaria de trabalhar, a escritora responde “Orlando”, de Virginia Woolf. “Pela transição de tempos e espaços que ela faz na vida, as transformações pelas quais ela passa. Eu acho que ela é uma personagem fascinante, assim como várias da Virginia Woolf”, explica a autora. Em relação às suas personagens, ela conta que todas carregam um aspecto da personalidade de sua criadora. “Cada uma delas tem um processo de construção diferente, mas é como se cada uma tivesse surgido em mim naturalmente”.
Sua história, “Lacuna”, acaba de vencer o edital da Lei Paulo Gustavo para a produção de um longa-metragem. O filme será filmado no próximo ano e segue uma história que se passa em 2015, com uma garota assombrada pelo passado. Em suma, é uma história de horror com elementos góticos. “Nesse projeto, primeiro me surgiu o nome, ‘Lacuna’. Ele veio logo após a pandemia da Covid-19 e quase se transformou em um documentário. É um projeto sobre perda, desse tempo em que perdemos, nas questões que ficaram congeladas durante esses dois anos da pandemia”, explica.

Se tratando das suas inspirações na escrita, Saskia menciona Virginia Woolf e Gertrude Stein. Hoje, ela tem consumido escritoras da literatura fantástica, especialmente do eixo latino-americano. Em relação ao Brasil, ela cita Fernanda Castro e Vanessa Guedes. “Tenho me ocupado em ler mulheres, principalmente dentro do universo do fantástico, que tragam surpresas, inovações, novas maneiras de olhar para o mundo, que ultrapasse o real sem sair do real, mostrando o quando o real tem de insólito e não usual”, declara.
A respeito do projeto da Julietta, em apresentar ao público autoras nacionais, Saskia demonstrou seu profundo agradecimento. “Todos os meus projetos, sejam na literatura ou no cinema, sempre buscam mergulhar no universo das identidades femininas, para sair do espectro do homem branco, cis, hétero, que tem dominado as histórias ao longo dos séculos. Por isso, todo projeto que busca divulgar o trabalho de mulheres tem minha admiração”, finaliza Saskia. Que a carreira de Saskia continue percorrendo um caminho triunfal!
Escrito por: Isabella Breve