A literatura constantemente nos faz questionar o mundo em que vivemos. Apaixonarmos por histórias fictícias e desejar que personagens irreais habitem a mesma órbita que o restante de nós. Para Luiza Ranuzzi, a resposta sobre qual personagem do universo literário gostaria de trabalhar é dupla: Hannah Wells, de “O Acordo”, e Feyre Archeron, da saga “Acotar”. “As duas têm a energia de fazer as coisas acontecerem, mas, ao mesmo tempo, sinto que são ótimas quando o assunto é trabalhar em grupo”, explicou Luiza.
Formada em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia, Luiza, desde criança, já usava os livros para escapar da realidade. Foi assim que ela se descobriu na escrita. Hoje, ela é autora de dois livros que compõem a série “Destinada”. “Escolhida pelo Destino” é o primeiro volume, e “Marcada pelo Destino” é a continuação. Mas esse não é o fim. Um novo livro vem aí para completar a trilogia.

Alyssa Monroe é a protagonista da trilogia de Ranuzzi e, além disso, foi altamente inspirada na personalidade de sua criadora. “Eu amaria trabalhar com a Alyssa, mas seria como trabalhar comigo mesma (risos). Creio que teríamos desafios, mas também direcionamentos em comum”, conta a escritora.
A pandemia da Covid-19 foi o impulso para que Luiza se aventurasse no mundo das palavras e, assim, estreasse sua carreira de escritora. Na época, ela ainda era estudante de Relações Internacionais e, em razão do período de quarentena, não possuía obrigações urgentes a cumprir. Foi assim que, em um momento em que as pessoas se abrigavam em casa, enquanto descobriam novos hobbies, praticavam a empatia pelo próximo e se questionavam a respeito do amanhã, a escritora sentiu que precisava fazer algo. Aos 14 anos, ela já pensava nos personagens que futuramente seriam os protagonistas da série “Marcada”: Alyssa e Nathan. Na mesma época, ela mantinha um grande caderno com anotações para sua história. Foi na pandemia que ela resgatou as primeiras ideias para sua história, escritas na adolescência e, apesar de ter modificado diferentes acontecimentos, a essência permaneceu a mesma. “A escrita me veio num momento de urgência, foi num processo da fase da adolescência em que você se pergunta quem é no mundo. Eu me lembro de querer colocar minha marca em algo, de descobrir qual o meu talento. Eu sempre quis trabalhar com algo artístico, mas não tinha talento para outras coisas, como desenhar, por exemplo. Sempre fui uma leitora assídua e, aos meus 14 anos, descobri que queria ter algo a ver com a escrita”, conta Luiza.

Em menos de três meses, “Escolhida pelo Destino”, a estreia da autora, bateu mais de um milhão de páginas lidas pelo Kindle Unlimited e centenas de avaliações na Amazon. “Eu nunca tinha pensado em escrever para publicar, sempre tive vergonha de mostrar meus textos. Eu escrevia para mim. Creio que meu começo na escrita aconteceu de uma forma ‘egoísta’, numa tentativa de me curar e me expandir no mundo de uma forma que eu não conseguia enxergar no meu dia a dia. Mas, hoje, passou a ser algo que eu dedico para meus leitores também, essa cura por meio das palavras”, explicou Luiza.
“Eu leio para escrever, e escrevo para curar.”
Apesar do imenso orgulho pelo seu trabalho como autora, Luiza conta que, no início, chegou a cogitar o uso de pseudônimo para a publicação de suas histórias. A ideia surgiu a partir de um crescente medo de perder a credibilidade na sua carreira como internacionalista. Entretanto, para sua surpresa, ela conta que tal fato nunca lhe ocorreu.
A motivação, segundo o dicionário, é “um impulso que faz com que as pessoas ajam para atingir seus objetivos”. Ela existe de diferentes formas e pode surgir por meio de diferentes pessoas, produtos culturais e dos lugares mais inusitados. Em momentos difíceis, a motivação pode ser o combustível para impulsionar os seres humanos em qualquer aspecto de suas vidas. Para Luiza, por exemplo, a motivação para permanecer na carreira de escritora são seus leitores. Uma vez que ela concilia dois empregos – o de internacionalista e escritora – seu processo para finalizar novas histórias é lento, quando comparado ao “ideal” do mercado literário. Por isso, são os leitores que a impulsionam a finalizar suas histórias, uma vez que são eles os responsáveis por enviar mensagens de euforia por conta de acontecimentos durante os livros, por apoiar sua arte e, principalmente – como relembra Luiza – por solicitar a continuação de “Marcada”.
À vista disso, a escritora comenta a respeito dos desafios do mercado editorial. Para ela, em se tratando da literatura nacional, “o mercado é falho”. “Eu gostaria que as editoras tivessem uma pluralidade de gêneros, e com 50% das publicações sendo nacionais. Seria interessante que houvesse uma abertura para o envio de manuscritos, e que elas realmente os lessem. Por ser escritora de fantasia, percebo que o gênero quase não é publicado por grandes editoras quando escrito por brasileiras. Acho necessário um empenho por parte do mercado editorial brasileiro e também da própria economia brasileira”, acrescenta a autora.
Quando questionada sobre seu processo de inspiração, ela conta que, quando era mais nova, as viagens de carro e ônibus, juntamente com músicas, lhe rendiam grandes ideias. Além disso, ver paisagens e a movimentação cotidiana das cidades são grandes fontes de inspiração para futuras histórias e cenas em suas narrativas. “Teve uma vez que eu estava no banho, pensando incessantemente em como iria escrever uma cena e, repentinamente, surgiu uma cena de romance, inclusive com os diálogos. Assim que saí do chuveiro, escrevi o diálogo para não me esquecer futuramente”, conta. “A última cena de ‘Marcada pelo Destino’, por exemplo, eu tive em um sonho. Não foi exatamente como eu escrevi, mas rendeu a maioria dela. Essa não foi a única vez que sonhei com uma parte das minhas histórias”, explica.
Você escreve para você ou para o público? “Para mim”, foi a resposta de Luiza. Apesar de entender que escrever histórias para o gosto do público os agradaria, afinal, são eles que leem suas histórias, ela conta que compreendeu ser impossível agradar a todas. Por isso, para a jovem autora, é essencial que suas histórias estejam conforme o seu agrado. “Eu tento escrever mais para mim do que para o público, pois irei sentir orgulho das minhas histórias. Além disso, acho pesada essa carga de escrever para o agrado dos outros, pois o futuro da recepção de uma história é incerto. Eu tento ser fiel à história que quero contar”, explica.
A respeito da iniciativa da Julietta, de apresentar escritoras nacionais ao público, Luiza enxerga como um “pontinho de esperança”. Na pandemia, ela comprou seu primeiro Kindle e, com isso, passou a enxergar um leque de possibilidades para a publicação independente. “O que a Julietta está fazendo, ao dar visibilidade para as autoras nacionais, é essencial para que nossos livros sejam conhecidos. Falar sobre a produção nacional é o cerne da questão, é o que vai contribuir para que nosso mercado sofra mudanças”, finaliza.
Escrito por: Isabella Breve.