Galante:
adjetivo de dois gêneros
- amável para com as damas; delicadamente obsequioso.
- que se destacou pela elegância, discrição etc.; donairoso, esbelto, distinto.
Para alguns jornalistas, o não conhecer o seu entrevistado pode ser um problema. Para outros, acredito que seja uma dádiva. Quem me conhece, sabe que eu adoro fazer umas gracinhas por aqui. Hoje, não poderia ser diferente.
A Julietta sempre valorizou o espaço para mulheres, porém, resolvemos abrir uma exceção em honra da literatura nacional. Pode entrar o primeiro autor entrevistado para a nossa revista: Breno Galante. Senhoras e senhores, é com prazer que apresento o príncipe desta edição da Noite dos Sonhos — e sim, gente, o sobrenome dele é mesmo esse! E não, meninas, ele não é baixinho — o divo tem 1,86 de altura.
(Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
Eu estava passando pela for you do meu Instagram um dia desses quando me deparei com um vídeo de um cara engraçadinho, dizendo o quanto autoras estavam dificultando a vida dos homens por estarem escrevendo protagonistas com mais de um e oitenta de altura, musculosos, cabelo escuro e, de quebra, sarcásticos. Ah, se essa última parte fazia realmente parte do vídeo, eu não me lembro, mas do garoto eu lembrei. Depois de dar uma olhada no conteúdo do querido, com o que eu chamo de “altas habilidades de análise de conteúdo” — para quem não sabe, sou formada em Marketing —, mas nada mais é do que “eu sou curiosa pra caramba”, percebi que, de alguma forma, nossos públicos poderiam muito bem se entrelaçar — e que timing bom, porque logo em seguida, ele foi convidado para estar de maneira especial na Noite dos Sonhos.
A carreira de autor
Antes de Breno Galante tornar mágica a noite de algumas meninas no melhor baile literário do Brasil, antes do criador de conteúdo, existe sua versão que o trouxe — e, provavelmente, você também — até aqui.
Ele é graduado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela SPTech (São Paulo Tech School) e pós-graduando de Engenharia e Arquitetura de Software na USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul).
E já que vamos falar da carreira de um escritor, a Julietta não poderia deixar de perguntar. Se ele pudesse trabalhar com uma personagem feminina por uma semana, seria com “Evelyn Hugo (“Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”), [porque] eu acho que o que ela pensa é a frente do que as pessoas esperam, então ela está sempre um passo à frente; e, às vezes, as coisas derrubam ela e ela sempre arruma um jeito de se levantar” e “Celaena (“Trono de Vidro”), porque ela é uma personagem que desde pequena perde tudo, então a história dela é se reconstruindo e conseguir mostrar quem ela é de verdade mesmo com as pessoas subestimando, não acreditando nela”, explicou o autor de vinte e um anos.
(Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
Na escola, mesmo período em que se apaixonou pela leitura, Galante podia se considerar um cara de exatas — e odiava redação, principalmente a do ENEM. Apesar disso, eis um fato curioso: a redação que o fez entrar na faculdade levou uma citação sobre “Clube das Winxs” e a história da Bloom como exemplo na aplicação de 2021.
“Sempre que eu podia, eu ia no mercado com a minha mãe. Teve um dia que eu olhei para um gibi da ‘Turma da Mônica’, eu virei para ela e disse ‘eu quero’, do nada. Ela comprou e durou uma semana. Na outra semana eu fui outra vez ao mercado. E chegou a um ponto em que o gibi não durava mais de uma semana, durava três dias. Minha mãe começou a comprar os almanaques, que eram maiores. Mas começou a não durar uma semana e eu falei ‘mãe, eu quero ler mais’, chegou num ponto que eu não tinha mais gibis novos os almanaques para comprar e ela comprou ‘Diário de Um Banana’ para mim. […] Eu continuei lendo e estava no shopping um dia com o meu pai e entramos na Saraiva, porque ele tinha que ver alguma coisa. Nisso, eu peguei o primeiro livro de ‘Trono de Vidro’ e sentei na poltrona enquanto meu pai pegava alguma coisa. Eu acho que li os três primeiros capítulos e, quando ele voltou, eu falei ‘pai, compra esse livro?’, eu tinha treze, quatorze anos”, contextualizou o paulista sobre sua inserção no mundo literário.
“Quando eu comecei a gravar para a internet, eu tinha plena consciência de que o meu público ia ser majoritariamente feminino, apesar deu ficar muito feliz quando tem algum cara que lê e me manda mensagem para conversar sobre algum livro ou quando algum cara comenta nos meus vídeos. Eu fico ‘não são apenas mulheres que leem’, sabe?”, comentou sobre a invisibilidade literária na rotina masculina.
O influencer confessou que cresceu com os irmãos não ligando para a leitura, chegou a ver o pai lendo algumas vezes, mas foi por intermédio da mãe da irmã mais velha, leitoras assíduas, que ele acabou tendo um exemplo maior. Em meio a isso, Breno Galante mencionou na entrevista o episódio em que viajou com o grupo de amigos e ele era o único cara lendo. A Julietta questionou se ele sentia falta de ler um livro e se identificar de forma mais aprofundada devido aos pontos de vistas femininos, e ele respondeu que, ao seu ver, era um pouco irrelevante — o mais importante é a construção das personagens, um enredo fluido e a diversão e o prazer na leitura.
(Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
Em contrapartida, em seu livro, “Trono de Sombras”, a história é narrada do ponto de vista masculino. Além do tom da história, ele acreditava que seria mais fácil montá-lo do seu ponto de vista — e como alguém que leu, eu posso confirmar: ele fez um bom trabalho. Ainda assim, parece que, em breve, há uma pequena esperança de vermos como ele narra de um ponto de vista predominantemente feminino — mas isso não é uma promessa, apenas uma… suposição incentivadora, talvez?
“Trono de Sombras” foi lançado no dia da colação de grau da faculdade do autor, em março deste ano. Ele escreveu o livro em quase total e absoluto silêncio, em que apenas dois amigos sabiam e, logo depois, antes do pacote chegar, sua mãe— a qual ele agradece por o incentivar tanto na leitura. E falando de família, se você achou divônico os dois looks usados por ele na Noite dos Sonhos, acho que podemos agradecer à ela — e deixo como sugestão, príncipe, contar como o Mercado Livre e uma máquina de costura podem deixar nossos cabelos em pé [risos].
(Foto: Reprodução/Amazon)
Por ser um cara criativo, ele sempre criava algumas histórias e as deixava na própria cabeça. Um dia, ele saiu com os amigos para uma festa, e ainda que alegue não se lembrar o que aconteceu, ele chegou uma da manhã em casa triste com alguma coisa que tinha acontecido e abriu no celular um documento de notas. “Eu pensei: ‘Tá, eu tô sem fazer nada, o dia foi uma tristeza’ e eu comecei a anotar. Comecei a anotar e quando eu vi, eram três da manhã e eu tinha um prólogo inteiro pronto”, compartilhou. A partir daí, ele começou a buscar técnicas de português e apenas seguiu o fluxo da história.
Para ele, um dos seus maiores objetivos com a escrita é levar diversão para as pessoas, fazer com que elas se sintam bem — e sinto que ele está conseguindo. Ao menos eu ri demais durante a leitura do seu livro — e da revisão também.
Trono de Sombras, fantasia para jovens adultos e personagens cativantes
(Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
É a primeira vez que eu misturo duas coisas juntas por aqui: uma entrevista e uma resenha literária no mesmo documento.
Quando eu comecei a ler a história de “Trono de Sombras”, eu me assustei comigo mesma. Primeiro, eu não compro e-books por nada nesse mundo, sou a maior fã daquilo que chamamos de livro físico. Segundo, eu nunca reagi uma história tão diretamente para um autor como eu fiz com ele. Terceiro, eu não me recordo como, mas eu acabei me oferecendo para revisar a história — e amigas, levamos mais de um mês para isso.
Assim que comecei este texto, sabia qual seria o meu objetivo. A Julietta sempre se importou muito com o conteúdo feminino, mas a Ana Clara jornalista e apaixonada pela leitura desde a infância, sempre sentiu muito pelos homens não serem tão apegados a literatura como a gente — todos, independente de gênero, deveriam ter o prazer de se aventurar em tantos universos. Uma das primeiras coisas que eu preciso avisar sobre “Trono de Sombras”, é que ele está longe de ser um livro para menores de quatorze anos, mas eu recomendaria a história para alguns adolescentes um pouco mais crescidinhos, aqueles que facilmente entenderiam as piadas da quinta série.
Eu não consumi os livros de “Percy Jackson”, ou os de “Harry Potter”, mas eu consumi os filmes. É uma pegada parecida, que te envolve nas dores de um personagem vítima do luto. Luke não é o meu protagonista favorito da vida, mas é um bom protagonista — depois do capítulo dezesseis, na verdade, a gente passa a gostar muito mais dele. Mas é a escrita leve e gostosa, que flui com a narração, e os personagens de apoio extremamente interessantes que nos fazem desejar acabar essa história e depois, lê-la como se fosse a primeira vez.
De longe, a enigmática Aurora é a minha personagem feminina favorita! O Liam é um melhor amigo de respeito e o Aspen, eu gosto de dizer que ele transformou o Luke no melhor pai de pet do mundo. Foi um livro que me fez dar altas risadas, passar madrugadas corrigindo e relendo e acendendo minha vontade de ler outra e outra vez também. Eu chorei, quase xinguei — porque sou uma lady e não faço essas coisas [risos] — o meu querido amigo Breno algumas vezes e até chantagem emocional eu tentei para ele mudar algumas coisinhas — spoiler: pode ser que você já tenha visto — ou não — algumas dessas mudanças.
Deste processo louco, eu tiro o chapéu para um livro que me teletransportou de volta à adolescência, quando eu sonhava em atingir a idade de algumas personagens literárias que eu amava. É surreal pensar que, hoje em dia, eu sou mais velha do que elas. Poder ter a oportunidade de não apenas interpretar as ações do Luke como verdadeiramente compreender os porquês dele ter parado ali não tem preço. Desta experiência surreal, eu digo que fiz o meu primeiro trabalho como revisora.
Me apaixonei, lamentei, fiquei de boca aberta com os plot twist dignos da Holly Black e mergulhei em um universo com portadores de elementos mágicos, mansões com dispensa automaticamente renováveis que voam e mini golfinhas — e eu ainda acho que está errado escrever assim [risos].
Mas que bom, amigas, porque a minha estante só tem um autor homem (Rick Riordan) e eu estou ansiosa para que ela tenha outro agora.
Escrito por: Ana Clara Reis.
Revisão por: Milly Ricardo.
Breno é uma das pessoas mais incríveis e inteligentes da Terra!
Ele é sim, Gui!