#JuliettaEntrevista: Vanessa Guedes, direto de Estocolmo para a Julietta

Da periferia de Porto Alegre para Estocolmo, na Suécia. Vanessa Guedes, que morou a maior parte de sua vida na cidade grande de São Paulo, atualmente completa nove anos vivendo sua nova fase como escritora em Estocolmo, onde estuda Literatura Inglesa. Formada em TI, profissão que fez a intelectual, estudiosa e dedicada a programação a mudar de vida. Ela tem 34 anos, que, pelas suas pesquisas na adolescência, é a idade em que seus maiores ídolos da Literatura, como Agatha Christie, Machado de Assis e Tolkien, publicaram seus primeiros e grandiosos livros. Vanessa acredita que finalmente chegou o seu grande momento!

A escritora tirou esse momento da sua vida para se dedicar somente à Literatura, em Estocolmo, com um único objetivo: evoluir sua escrita, aperfeiçoar-se na área e se sentir intelectualmente pronta para publicar um grande livro. Nos contou que seu sonho sempre foi ser escritora, afinal, começou aos seis anos. Na adolescência, achava ser fundamental ser Jornalista para isso. “Queria muito ser jornalista, mas, na época, fiz algumas pesquisas e coloquei em minha cabeça, não sei porquê, que eu não teria [tanta] independência financeira tão rápido nessa profissão, então [fui e] escolhi TI”, confessa. Durante sua profissão como programadora, continuava escrevendo no seu tempo livre; criava diversos projetos de escrita e escreveu um Cyberpunk chamado “Suor e Silício na Terra da Garoa”, que se passa na grande São Paulo durante a década de 70 — o que veio a ser seu primeiro livro publicado, pela Editora Mafagafo, em 2020. Ele faz parte de um subgênero de ficção científica e também é uma noveleta, que permeia entre o conto e o romance, com 17 mil palavras — equivalente a 120 páginas, um livro curto. A autora se identifica com os gêneros de horror, ficção científica e ficção especulativa. Publicou algumas coletâneas de contos de vampiros e demônios, tudo em seu site, com links para todos os descontos, o vanessaguedes.substack.com.

Vanessa Guedes, autora da Magh. (Foto: Reprodução/Acervo)

Comecei a escrever crônicas aos 12 anos, tinha alguns ídolos no jornal, cronistas, autores, então comecei a imitar os meus autores de ficção como exercício e cronistas dos jornais. O primeiro autor nacional que imitei foi Machado de Assis, para observar a minha evolução na escrita e parecer ao menos um pouco com ele; imitava mesmo!”, alega. Amigas da época a elogiavam muito, passavam as folhas de caderno com suas crônicas de mão em mão, diziam que no próximo ano a veriam na feira do livro que ocorre todo ano em Porto Alegre, como a Bienal de Porto Alegre. Feira esta que, desde que era um bebê, frequentava ao lado de sua família. Vanessa ficava horrorizada com a ideia de seus amigos, pois se sentia apenas uma criança para isso, imatura para tamanho evento, sem história de vida, sem “fôlego”, como a mesma comenta. Resolveu, então, fazer uma pesquisa, tomou como sua missão descobrir com que idade seus ídolos da Literatura publicaram seus primeiros livros, e descobriu que foi aos 30 anos, o que a assustou — porque faltava muito para isso. Isso a desmotivou a publicar o seu primeiro livro e se dedicou somente aos estudos, aprendendo o máximo até chegar a idade que estaria apta. Com 17 anos criou seu primeiro blog, onde publicava fanfics.

Seu primeiro livro, na verdade, foi escrito em 2014, durante um rascunho no meio de uma aula de escrita, porém, só foi publicado em 2021. Do gênero de horror, chama-se “Gênese de um corpo quente”. “Deixei essa história na gaveta porque era apenas um rascunho. Embora eu tenha gostado muito, mandei para uns amigos comentarem o que acharam, eles deram suas opiniões e fui mudando algumas coisas que julgava necessário, e isso durou alguns anos, mas valeu a pena esperar! Eu costumo gostar mais do início das minhas histórias do que final, mas, esse em específico, gosto muito do final”, revela a autora, que se define como atenciosa, detalhista, e preguiçosa.

Vanessa responde para a Julietta que o que a motivou a escrever foram os traumas que já sofreu junto ao objetivo de também ajudar a elaborar melhor sua vida e registrar fatos. No entanto, o motivo principal foi sua mãe, que a mandava ir ao mercado. “Minha mãe pedia para eu ir ao mercado e citava uma série de coisas para comprar e, ao chegar no local, eu esquecia todas! Então, como solução, minha mãe começou a me dar cadernos para anotar as compras e dali comecei a escrever basicamente tudo. Tenho muitos diários guardados, desde 96, muitos mesmo. É incrível parar para ler alguns relatos de quando eu tinha 15 anos e não me reconhecer, nem mesmo lembrar do fato. Só acredito que vivi porque está escrito ali”, compartilha, com carinho.

Livro de Vanessa Guedes. (Foto: Reprodução/Amazon)

“Eita!” é a revista na qual Vanessa Guedes é tradutora do — Português para o Inglês —, onde é publicado autores brasileiros dos gêneros fantasia, ficção científica e ficção especulativa.

O que a tem deixado mais feliz atualmente é sua Newsletter, que se chama “Segredos em órbita”, uma coluna semanal que teve seu início em 2021. Elas chegam por e-mail para os cadastrados no site, possui mais de quatrocentos leitores, e é onde publica ensaios e crônicas de ficção e ficção especulativa. “Sempre li muito Newsletter, como Ana Cronista, Nevoeiro, Tira do Papel e muitas outras. Não moro no Brasil faz nove anos, então, estou um pouco por fora de revistas, mas lia muito Galileu, Superinteressante, Sofá da Surina, Alex Castro de Outrofobia”, relata. Ela ainda nos promete: “Estou juntando meus melhores textos para lançar um novo livro!”. Mais alguém ansiosa por aí?

Respondendo nossas perguntas, diz que se pudesse trabalhar com uma personagem por uma semana seria a Eleanor Olyphant do livro “Eleanor Olyphant Is Complete is Fine”. “Ela trabalha no escritório, é bem esquisita e muito funcional. Eu adoraria tê-la como minha assistente e adoraria bater papo com ela!”, comenta a autora, que também adoraria trabalhar com a Pipi Meialonga (“Pipi Longbottom”). “É uma personagem Clássica da Literatura Infantil aqui na Suécia, é uma criança ruiva que usa ‘maria chiquinhas’ pra cima, trabalha na fazenda e é muito forte, ela é uma espécie de ‘Emília do Sítio do Pica Pau Amarelo’ da Suécia, seria divertido!”, explica.

Ressalta ser movida pela política e acreditar na mudança do mundo por meio da Literatura. “Os livros me fazem ser empática, eu escrevo para o público e acredito que é esse o poder da Literatura; passar a ideia de que ensinamos a prática de um mundo melhor [por meio] dela”, diz Vanessa.

A personagem dos seus livros autorais com a qual mais se identifica é a Jéssica, protagonista de “Suor e Silício na Terra da Garoa”, porque suas histórias de vida são parecidas. Jéssica é uma programadora de Software que morava na periferia, veio de família humilde como a da autora, se mudou para cidade grande e também teve que se adaptar a novos amigos e de classe alta. Mudou completamente de realidade, saiu de um lugar desprivilegiado, enfrentando uma mudança brusca de classe social.

Entusiasmada, revela estar curiosa com o especial da Julietta. “Acho isso excelente! Eu mesma quero conhecer as autoras que vocês vão entrevistar, acho tão importante conhecer as mulheres que fazem história agora quanto conhecer autoras do passado, isso é cultura, é fundamental falar de quem está vivo, valorizar nossas contemporâneas”, expressa Vanessa, que carrega grandes inspirações como Martha Medeiros, Machado de Assis, Tolkien, Eça de Queiroz e Isaac Asimov de ficção científica. Curiosidade: Confessa ter lido 30 livros da Agatha Christie em um ano!

Vanessa deixa claro que as pessoas deveriam se interessar em seus livros por que ela é aquela que enxerga fora da curva; “doida”, como ela mesma disse, possui um ponto de vista diferente, e são esses que se identificariam mais com ela. Anota no celular ou no seu caderno todas as ideias e criações que surgem a qualquer instante, seja no metrô, vendo um filme ou até mesmo deitada. E, quando deseja montar uma história, ela dá uma misturada em algumas ideias, analisa se é uma história mais atmosférica ou fictícia, quantos personagens teriam, e às vezes demora uma semana ou meses. “Às vezes paro de escrever, finjo que esqueço da criação, para tentar ler como leitora. Modifico o que eu quero, busco editais e envio meu material”, afirma.

Eu mudaria tudo do mercado editorial, seria muito mais democrática, abriria mais as portas porque tem uma certa diferença com classes sociais mais baixas e isso precisa ser mudado [urgentemente]! E eu, como leitora, não curto brindes porque acaba se tornando entulho diante das coisas que tenho, mas, como escritora, eu gosto”, comenta Vanessa, que também confessa ao longo da entrevista que amaria transformar “Suor e Silício na Terra da Garoa” em audiovisual. “Seria uma incrível mini série da Globo! Mas eu transformaria mesmo em filme, o livro que estou escrevendo agora mas ainda não posso falar dele, então sendo de um livro já publicado, seria esse mesmo”, diz.

Relata nunca ter sofrido “hate”, porém, tem um certo receio com pessoas que não conhece acompanhando sua vida e de pessoas da sua família. Compartilha com a gente que tinha em média 400 seguidores antes de criar o “Segredos em Órbita” e, desses 3 anos pra cá, passou a ter 2.557 seguidores: leitores e admiradores do seu trabalho. Pedimos para nos revelar um sonho como autora e, na mesma hora, revela: “Ser lida em todos os lugares possíveis, ser bem distribuída em cidades pequenas e não somente nas grandes metrópoles”, finaliza.

Escrita por: Bella Licurci.

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