O audiovisual é uma construção quase que mágica na vida do ser humano; é poder criar o inimaginável, ou até mesmo recriar parcelas de uma realidade próxima. O cinema é capaz de transmitir sensações únicas, além conseguir construir verdadeiros refúgios seguros para os nossos corações. Nossa entrevistada de hoje tem o audiovisual como certeza de carreira desde os 15 anos de idade e apresenta um currículo para lá de triunfante. Vivianne Jundi tem 44 anos e é a diretora do longa “Meninas Não Choram” – disponível na Netflix nesta terça-feira (30).
Com mais de 20 anos de atuação na área da direção e produção audiovisual, Vivianne iniciou o bate-papo relembrando de como ingressou neste mundo. A diretora conta que seu pai trabalhava para uma empresa distribuidora de filmes, e que isso a motivava a consumir muito daquele conteúdo. Formada primeiramente em Rádio e TV pela faculdade FAAP, localizada em São Paulo, Vivianne começou sua jornada pela televisão, ao trabalhar em um programa de entrevistas intitulado “Circular”, na emissora Band.
Aos 24 anos, almejando achar um espaço para si no mercado, a profissional realizou em um curso de direção na New York Film Academy de Londres. Ao ser questionada sobre sua experiência de estudar fora, Vivianne declara que foi quase como um divisor de águas em sua vida, pois foi na instituição que ela aprendeu todos os passos possíveis para se tornar uma verdadeira diretora. “Eram aulas todos os dias e nos finais de semana a gente saia na rua para gravar. Nós tínhamos que entender de tudo e se virar com o que tem […] é aprender sobre direção de arte, direção de fotografia, até mesmo iluminação, sobre as luzes e os refletores. E carregando todo o equipamento do metrô. Então, isso foi muito importante para mim.” compartilhou a profissional.
Entre os anos de 2005 e 2016, Vivianne trabalhou na direção de diversas novelas na emissora Record como, por exemplo, “Mutantes”, “Terra Prometida” e “Os 10 Mandamentos”. Em 2017, integrou a equipe da série infantojuvenil do canal Gloob “Detetives do Prédio Azul” e foi onde sua trajetória com o público mais jovem foi alavancada. Em 2021, virou diretora-geral da série da Netflix “De Volta aos 15” – uma adaptação do livro “De Volta aos Quinze”, da escritora Bruna Vieira e com nomes de peso, como Maísa, Camila Queiroz e João Guilherme. Ainda no ano seguinte, dirigiu o longa-metragem “Uma Fada Veio me Visitar”, no qual no elenco tinha ninguém mais, ninguém menos, do que a Rainha dos Baixinhos – a Xuxa!
Durante a entrevista, perguntamos como foi esta troca de cenário de novelas de cunho mais religioso, ou até outras regadas de temáticas de romance ou violência, para algo mais singelo e muitas vezes divertido. A resposta de Vivianne foi simples: aconteceu como tinha que acontecer! Por mais que ela admita seu apreço e simpatia natural por trabalhar com crianças e adolescentes, a diretora relatou que nada foi planejado, e seus trabalhos são aceitos de acordo com seus sentimentos acerca daquilo, ou seja, se o projeto realmente a provoca e cativa.
Também muito atrelada ao seu instinto materno, Vivianne se sente verdadeiramente conectada com as pessoas mais jovens da qual trabalha. Uma delas é a atriz Letícia Braga, que participou da segunda geração do Detetives do Prédio Azul, e agora estreia como protagonista em “Meninas Não Choram”. Segundo a diretora, esta troca de experiências e vivências é um verdadeiro presente em sua vida. “A Letícia acompanhou toda o processo de produção do filme de perto. E foi tudo uma delícia. Acaba que fica um amor de filha […] A Letícia tem um jornada brilhante, ela continua estudando artes cênicas e eu acredito que ela tem um futuro de premiações pela frente”, declarou a profissional.
Ainda sobre “Meninas Não Choram”, ela contou um pouco sobre como foi o processo cauteloso de contar uma história forte e delicada de uma adolescente que precisa enfrenta a leucemia do dia para a noite. “Nós passamos um dia inteiro no GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) conversando com médicos e pacientes para entender melhor a questão da doença, não passar informações erradas e tentar ajustar dúvidas que ainda não tinham sido esclarecidas no roteiro. Isso é uma das nossas maiores responsabilidades. Na parte delicada da história, é muito do feeling dos roteiristas. Eu, como mulher, pensar em diversos aspectos e ter uma parceria aberta com o resto da equipe”, explicou Vivianne. Em resumo, um bom trabalho em conjunto é essencial para que o resultado seja o mais positivo possível.
Assim como a sociedade em geral, o desenvolvimento no audiovisual também teve que ser fechado por um período em 2020 em decorrência a pandemia da COVID-19. Foi em uma dessas que a produção de “Meninas Não Choram” teve de ser adiada. Vivianne desabafou que, na época, a maior barreira foi readaptar ambientes integralmente reconhecidos como centros de conexões para o elenco e a equipe como um todo. Com testes e preparações de roteiro e cenas sendo realizadas de maneira online, o grande truque era redobrar o olhar profissional, para que tanto os atores, quanto a direção, se sentissem 100% seguros e confiantes para contar a história da maneira mais digna possível, visto à uma realidade conturbada.
E já que tivemos um bate-papo para lá de especial com uma legitima diretora de cinema, a Julietta não poderia deixar de perguntar as produções favoritas de Vivianne Jundi. De maneira surpreendente e encantadora, a diretora fez questão de evidenciar três filmes recentes na indústria: “Vidas Passadas”, de Greta Lee; “Pobres Criaturas,” de Yorgos Lanthimos e por último, o filme mais cor-de-rosa de todos os tempos – “Barbie”, de Greta Gerwig.
Além disso, se Vivianne pudesse trabalhar com uma personagem fictícia por uma semana, essa personagem seria simplesmente a Fleabag! Segundo a diretora, o humor, adjacente a criatividade e os pensamentos atípicos, mas inteligentes da personagem a auxiliariam numa explosão de criatividade para a construção de muitas narrativas. Bom, e que essas narrativas e formas de contar histórias emocionantes continuem percorrendo o caminho de Vivianne Jundi. Ah! E para as Juli Girls cinéfilas de plantão, não se esqueçam de assistir “Meninas Não Choram”, disponível, a partir de hoje, na Netflix!
Escrito por: Letícia Guedes