#JuliettaEntrevista: Troca de figurinhas, preparação intensa e diversão marcam a entrevista de João Vitor Silva, o “Ronaldo” de “Garota do Momento”

Você já se questionou “por onde começamos a escrever uma entrevista“? Como jornalista, me faço essa pergunta todas às vezes — principalmente quando a matéria redigida trata de um artista o qual, pessoalmente, admiro.

Para essa reportagem gostaria de levá-los a um hábito antigo: você se recorda da última vez em que sentou no sofá para assistir uma novela no tempo real de seu lançamento? Algumas das minhas principais memórias da infância são de como era legal cada membro da família “usurpar” da TV em um momento específico do dia, mas todos se reunirem horas depois para assistirem as três tramas principais da TV Globo, intercaladas com os jornais.

Assim como eu, parece que muitas pessoas deixaram esse hábito para trás, seja por descontentamento com o roteiro das novelas, pelo brusco crescimento do streaming ou por sua aceleração pessoal. É possível, ainda, que parte dos leitores deste texto nem mesmo tenham crescido com essa cultura familiar e pessoal — e está tudo bem! Porque assim como a moda é cíclica e “relembrar é viver”, estamos passando por um momento de surpresa na televisão brasileira: o sucesso estrondoso da trama das seis “Garota do Momento”, escrita e dirigida por Alessandra Poggi. 

Se há tempos os jovens não se envolviam tanto com as tramas da Globo, principalmente após o fim de “Malhação”, a estratégia de divulgação da emissora nas redes sociais tem não somente dado certo, como colaborado para o aumento potencial do público do sofá.

A trama de Alessandra Poggi

Conhecida, também, por seu sucesso “Além da Ilusão”, estrelada por Larissa Manoela e Rafa Vitti, Alessandra Poggi apresenta ao público personagens cativantes, caricatos e interpretados por veteranos de peso, como Lilia Cabral (Maristela), Letícia Colin (Branca/Zélia) e Fábio Assunção (Juliano).

“Garota do Momento” apresenta Beatriz (Duda Santos), que vai para o Rio de Janeiro na intenção de se reencontrar com a mãe, Clarice (Carol Castro), e descobre que, agora, a mãe tem uma nova família — e uma nova filha, com o mesmo nome dela. Bia é a mimada, arrogante e preconceituosa filha dos Alencar. Namorada de Beto (Pedro Novaes), Bia começa a colocar em prática suas maldades quando vê o amado se apaixonando por Beatriz. A intérprete em questão é Maísa Silva, que abre uma sequência de atores conhecidos por seus trabalhos na infância, como Caio Manhente, Cauê Campos, Klara Castanho e nosso entrevistado do dia: João Vitor Silva.

“Eu tô em cena com a Maísa, que também é um símbolo da infância de muitas pessoas. Então, existe um certo encontro agora dos fãs adultos que também eram fãs quando criança. Os fãs da Maísa criança também são os fãs do João criança, que também são os fãs de #Ronia. É uma loucura que, no fim das contas, se reverbera em carinho, em afeto e trabalho”, comentou o ator.

Ronaldo, #Ronia e seu momento na novela

Se antes foi apresentado como um dos personagens mais chatos e insuportáveis da novela, João Vitor — e todos os telespectadores — observaram Ronaldo Sobral dar a volta por cima e se tornar um dos mais queridinhos da trama. 

“São coisas que a gente não espera. Lá no início da novela, a gente sabia existirem dados de que o Ronaldo era apaixonado pela namorada do irmão. Era o dado que a gente tinha até o capítulo quinze, por aí”, confessou João ao ser questionado sobre a reviravolta. 

Segundo o astro, chamaram ele e Maísa para uma preparação sozinhos. Curiosos, eles se questionaram sobre o que iria acontecer, mas entenderam que havia uma possibilidade de ambos os personagens se tornarem um casal. “Desde que a gente sacou isso, fomos também com a Alessandra arquitetando pequenas coisas antes mesmo de aparecer. E quando nos encontramos em cena, já tinha, porque eu e Maísa já falávamos sobre isso, sobre essa construção. Alessandra sabia, óbvio, o que ela queria fazer, mas sinto que a gente já imaginava e se preparou antes do texto chegar. E quando o texto chegou, tínhamos um desenho”, admitiu João Vitor.

Ele e a parceira de cena também trocavam figurinhas sobre Ronaldo e Bia no WhatsApp, sempre conversando sobre a preparação dos dois. Quando sentem dificuldades com uma cena, os amigos se ligam e pensam juntos. “Maísa, o que vai ser agora? Já fizemos carinha, já rosnamos um para o outro… agora vai ser um tapa?”, brincou. 

#Ronia, apesar de cair nas graças do público, é um casal composto por duas figuras “detestáveis”. Por um lado, Ronaldo começa a novela fazendo de tudo para chamar a atenção do pai para si, inclusive sem se preocupar em sabotar o primogênito da família, Roberto, para isso. O que o leva a se envolver mais ainda nas artimanhas de Bia, que não mede esforços para destruir Beatriz e separá-la de seu amor, chegando a ter inúmeras falas problemáticas durante a trama.

Mas com todos os pesares, eles se tornaram o casal de trambiqueiros mais amados da novela. “Vamos fazer dois personagens detestáveis se juntarem e não ficarem detestáveis juntos. A gente entendeu que a saída para isso era a implicância, que já era um pouco do que tinha no texto, nas primeiras cenas. Já havia essa pegada de ‘inimigos à amantes’, e eu e Maísa colocamos mais. Colocamos humor físico. Essa coisa da carinha, de rosnar um pro outro. E deu certo”, acrescentou. Entre os detalhes escondidos de #Ronia podemos citar as “cheiradinhas” que Ronaldo dá no cabelo de Bia.

O filho do meio de Ligia (Paloma Duarte) e Raimundo (Danton Mello) é, dos três irmãos, o mais parecido com o pai. “Enquanto eu estava construindo o Ronaldo, teve uma coisa que entendi. Foi a grande chave de mudança para falar que eu entendi o Ronaldo. É simples, você [o público] deve saber, mas foi primordial para mim lá trás, antes da novela começar. Eu me questionei: ‘Meu Deus, por que esse filho é tão grosseiro com a mãe?’, ‘Por que ele é tão implicante?’. E eu comecei entender que é porque o amor dessa mãe, ele já tem. O Ronaldo, de fato, é esse com o amor da mãe definido. O único que mantinha o contato com a mãe nesses últimos doze anos. Que relação é essa? Vamos descobrir já, já. Mas é o único que vai lá, ela escuta, mesmo rebatendo, implicando, eles conversam, então eles se amam. Tem afeto, tem carinho. E o pai está com os olhos todos voltados para o Roberto. E é aí que está: ele queria ser o primogênito, porque ele é a cara do pai. Eu tento fazer isso na minha construção, imitar alguns trejeitos do Danton (Raimundo)”, explicou o artista. O resultado do trabalho de João Vitor até agora comprova o sucesso de suas escolhas, enquanto intérprete, para Ronaldo. 

João também destacou que seu cenário favorito é a agência de publicidade. “Toda vez que tem Hi-Fi, meu Deus, eu vou pra lá fazer palhaçaria. Primeiro que o cenário é muito divertido, tem muitas possibilidades. E tem essa coisa de se sentir num escritório”, comentou divertido. O ator aproveitou para pontuar a diferença entre seu personagem e o de Pedro Novaes, que apresentam perfis distintos. Respectivamente, um perfil conservador e um perfil mais liberal. Essa dinâmica se perpetua nas interações dos irmãos Sobral, ocasionando no público a reflexão sobre a cultura machista da época.

No momento atual da trama, após todo o drama com Flora (Bella Piero), os fãs demonstram seu descontentamento com a ausência de #Ronia e a volta da obsessão de Bia por Beatriz e Beto. Por outro lado, esperamos um aprofundamento maior nos laços familiares dos filhos de Ligia com a mãe. Depois de tantos comentários, os fãs da família ganharam — e muito — com a união e aproximação dos irmãos.

João Vitor Silva, sua carreira a o currículo de sucesso

Abriremos este tópico com a nossa pergunta de sempre: se João Vitor Silva pudesse trabalhar com uma personagem feminina por uma semana, quem seria? “A Dinorah, da minha amiga Alice Carvalho. ‘Cangaço Novo’ foi a última série que consegui assistir de fato, antes da novela começar. […] Logo depois fiquei amigo de Alice, e foi uma personagem com a qual me encantei. Acho esse trabalho dela vigoroso. Toda atriz tem que assistir à Dinorah para entender o que é uma mulher com potência, com força, com protagonismo numa série. […] Estou muito orgulhoso com esse trabalho dela”, revelou.

O ator nasceu em Botafogo e cresceu no Morro de Santa Marta. “Venho de uma família muito pobre. Meus pais são nordestinos, têm uma história muito bonita”, contou João, com orgulho e carinho. Para o carioca, atuar não era um sonho. Seu dom mesmo era para a música. “Eu sempre quis trabalhar com música. Eu tenho vários vídeos criança cantando, super afinadinho. […] Minha mãe trabalhava em casa de família e eu passava a tarde com a minha irmã, que trabalhava no salão de beleza. Eu ficava ali com a minha irmã e cantava para essas madames, ganhava uns trocados, até que uma dessas madames virou e disse ‘Vou pagar uma agência para você’. Ela chamou a minha mãe, combinou com ela e pagou uma agência para mim. Meio que uma madrinha. Nessa agência, começaram a me chamar para fazer coisas além de cantar. Ser modelo, ator. Duas semanas depois eu estava fazendo o teste. Um mês depois eu estava em ‘Kubanacan’, então foi tudo meio rápido”, compartilhou.

João deu vida ao icônico Pedrinho de “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, ao lado de Isabelle Drummond, que viveu a inesquecível boneca Emília. Nós, da Julietta, questionamos sobre o como é marcar duas gerações tão importantes dos mesmos telespectadores. Primeiro como Pedrinho, agora como Ronaldo. 

“Ao mesmo tempo em que eu estava fazendo a infância de algumas crianças, eu estava fazendo a minha infância acontecer […] de alguma forma, aquele resultado que vocês estavam assistindo ali, era também o resultado da minha diversão. Do meu encontro com aquelas pessoas. Claro, eu tinha noção de que aquilo ali era um trabalho, mas era exigido que aquilo também fosse uma diversão. Chegue na hora, com seu texto decorado e divirta-se. O que você dá de direção para uma criança? Até hoje, meu trabalho ainda está associado a isso [diversão]”, relembrou.

“E quando recebi o Ronaldo lá trás, eu achei que não pudesse fazer isso. Quando fui achando essas possibilidades dele também ser um cara engraçado, porque ele não é um cara engraçado, mas eu queria que ele ficasse engraçado para quem assiste, fui entendendo que também era uma coisa que dava para me divertir. Dava para divertir o público e trazer leveza para o Ronaldo”, acrescentou João Vitor.

Hoje, completamente apaixonado por sua profissão, o que mais aquece seu coração na hora de atuar é “essa brincadeira de ser uma outra pessoa”, brincou o artista. “Eu fico me assistindo na novela, e vocês estão conversando comigo aqui, agora. Eu acho o Ronaldo muito diferente de mim. Eu sou um pouco mais relaxado, demoro um pouco mais para falar, sou um pouco mais prolixo. O Ronaldo não. Ele é um cara mais assertivo, um cara mais ligado, tá sempre se mexendo, tem sempre muita coisa acontecendo. Eu acho que essa magia de você poder brincar, de ser uma pessoa, de experimentar coisas, de você se assistir e falar ‘cara, mas não sou eu’, tem uma coisa muito louca na construção. É psicológica também. ‘Como que o Ronaldo faria isso?’, ‘Como que o personagem faria isso?’. É o que eu mais adoro fazer na vida ultimamente, essa brincadeira de ‘não sou eu mesmo, é o Ronaldo, o personagem’, com todas as coisas que eu tracei para ele no início da novela. Têm coisas que eu tive que pensar antes mesmo da novela começar lá trás. Essa brincadeira de criar uma pessoa que não existe e ir dando cores para ela, ir dando características, pra mim, isso é a cereja do bolo”, revelou.

Para ele, também, o universo cinematográfico é um dos maiores presentes que temos enquanto sociedade. “Tudo isso tem uma função muito grande, não só de entretenimento, mas de educação, de educar pessoas. Passamos por um momento muito difícil da cultura no nosso país e estamos, de alguma forma, nos reerguendo agora. Acho que tinha que ter mais acesso ao cinema, mais acesso à cultura. Porque a cultura salva e educa. Temos coisas muito boas acontecendo nesse momento no país. Tem muita coisa interessante para acontecer e falta é comentar sobre. […] Mas de modo geral, a gente tá falando de um país muito rico, que faz muito bem essa dramaturgia, e que tem um poder muito grande nas mãos de educar através destas artes”, confessou o carioca.

Conversando sobre alguns dos principais desafios fora de cena, João respondeu que “essa coisa toda de responsabilidade do ator de ser uma figura pública hoje em dia. Acho isso muito pesado. E acho que isso deveria ser, pelo menos, tratado como responsabilidade. As pessoas não estão tratando com tanta responsabilidade. Mas quando a gente vira uma pessoa ‘influente’, você vira um canal, de qualquer forma. Cada um tem a sua televisão ali, no seu Instagram, dentro das suas redes sociais, então acaba que você vira responsável também por educar aquele público que está ali, por alimentá-los de alguma forma, com algo interessante, ou não. Tem muita gente que escolhe o caminho do ‘não’, mas eu tenho buscado na minha vida, fora do meu trabalho, entender essa responsabilidade. E mais do que essa responsabilidade, essa potência que é a comunicação com o público e de transformação enquanto sociedade. Usar minha notoriedade para isso”. Quanto em cena, acrescentou que nunca se esquecer de si mesmo nessa loucura de fazer tantas pessoas. “Voltar para mim, sempre”, destacou.

Para finalizar, questionamos o artista sobre a última temporada de “Impuros”

“É a história de todo mundo”, respondeu. “Se perguntar para todo mundo que está no crime se está ali porque quer, é um ou outro que vai te falar ‘não, não, eu gosto’. Mas, de fato, é por falta de oportunidade, por falta de educação, por falta de ambição, por não ser ensinado que existem outras possibilidades. Então, o Afonso é o moleque mais inteligente dessa favela, que sabia todas as possibilidades, sabia onde queria estar, tinha uma mira muito certa de onde queria chegar, mas as adversidades, as amizades e as coisas como foram acontecendo acabaram levando ele para esse mundo. E é um caminho sem volta”, pontuou. 

João Vitor revelou que enxerga a construção de seu personagem como sólida. Por conhecer muitos “Afonsos”, ele compreende que a realidade retratada não está tão longe das que presenciou durante sua trajetória pessoal. “Esse personagem é quase como uma homenagem a esses amigos, colegas, conhecidos, que frequentaram meu caminho, saíram e não conseguiram. Mas eu tento trazer para ele [Afonso] o que eu mais vejo, ainda, quando visito essa galera. Ele tem todas essas camadas pesadas, um cara que já foi para a cadeia, mas que ainda se apaixona, que ainda tem a possibilidade de sair dali. Ele espera sair dessa vida um dia”, explicou. 

A Julietta deseja uma carreira linda, felicidades absurdas e muito brilho para João Vitor Silva!

Até a próxima, Julie.

Escrito por: Ana Clara Reis.

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