Acho que já ficou um pouco claro que aqui na Julietta nós adoramos um bom e velho romance clichê. Afinal de contas, quem não gosta daquela história que te deixa com o coração aquecido, não é mesmo? Para muitos, o gênero do romance é um mar de possibilidades; é poder expressar suas paixões sem culpa e encontrar pessoas que compartilham do mesmo sentimento. Nossa entrevistada de hoje é uma romancista de primeira, que iniciou sua jornada apenas como leitora e mais tarde veio a se tornar uma escritora de sucesso.
Paola Aleksandra tem 33 anos, é formada em Administração, mas hoje trabalha produzindo conteúdo de cunho literário para a Internet e escrevendo romances. Sua paixão pela literatura vem desde muito jovem, oriunda de sua fixação pelos romances de época. Inspirada por autoras como Julia Quinn e Jane Austen, Paola encontrou nos livros um grande refúgio do mundo real. Tendo uma personalidade descrita pela própria como reservada e introspectiva, a escritora resguardou o desejo pela escrita por muito tempo, principalmente em razão de suas inseguranças. Porém em 2011, prestes a completar 21 anos, isto mudou.
Neste período nasceu o Livros & Fuxicos – seu blog literário. Motivada por observar uma amiga da faculdade que sempre carregava um livro consigo e mesclada com sua vontade de falar de suas obsessões do momento para o mundo, Paola decidiu por fim criar um espaço destinado a isso. Para a Julietta, a profissional conta que sempre se sentia diferente dos outros criadores do gênero justamente por estar falando/dando evidência a obras não tão conhecidas, ou até mesmo consideradas “ultrapassadas” e “não interessantes”. Entretanto, sua persistência e constante evolução foram objetos chaves para que ela alcançasse com o tempo lugares ainda maiores.
Sua estreia como escritora veio com o romance de época intitulado “Volte para mim” – lançado em 2018. Na ocasião, Paola lembra que uma das suas maiores inspirações para de fato começar a produzir foi a romancista Babi A Sette. “Eu sempre gostei de criar histórias, mas não achava que seria capaz de escrevê-las de fato. Depois que eu terminei de ler um livro da Babi, eu falei ‘nossa, existe espaço para autoras nacionais falar sobre romances de época’ […] eu encontrei com ela (Babi) na Bienal meses depois. Ela foi muito querida comigo e me deu muita força para tentar […] nós sentamos no chão da Bienal e ficamos horas conversando, ela contou como a carreira dela começou e me inspirou muito – virou uma chavinha que o meu sonho poderia se tornar uma possibilidade.” compartilhou Paola.
Ao ser questionada sobre seu processo de criação, a romancista compartilha que uma boa história pode demorar um tempo relativo para ser construída, visto que são necessários alguns meses de análises acerca das temáticas que pretende abordar. Questões como, a época em que o livro será datado e qual contextos estão inseridos também são bastante importantes para traçar suas pesquisas. Para além disso, ela explica que uma de suas maiores dificuldades que enfrentou na sua inserção no mercado literário foi justamente o estigma de “ser apenas uma youtuber que iria lançar um livro”. Com a onda que acompanhava o período, Paola ficava receosa de que o público não a enxergasse como escritora de verdade e isto foi descrito como um longo processo de autoconhecimento e aceitação.
Hoje, Paola tem cinco livros publicados, sendo seu último em 2023 com o nome “Amor às causas perdidas” – seu primeiro romance contemporâneo que aborda assuntos frágeis como adoção, abandono e parentalidade. A troca de estilos aconteceu principalmente durante um tempo de “ressaca literária” vivida pela criadora de conteúdo acerca dos romances de época. Em maior explicação para as nossas entrevistadoras, Aleksandra relembrou que ela não estava mais se sentindo instigada para consumir tais obras, devido à falta de camadas de profundidade das tramas apresentadas, além da mesmice de suas fórmulas – o que hoje ela considera “ok”, mas para época não estava mais funcionando.
Toda esta problemática, adjacente com um novo desafio de escrever uma obra contemporânea, fez com que Paola até acreditasse por um tempo que sua carreira de escritora havia se encerrado. No entanto, foi ao comparecer a Bienal do Livro de São Paulo pós-pandemia que a escritora enxergou um novo trajeto em sua carreira. Comovida especialmente por relatos e experiências compartilhadas por seguidores que a encontraram durante o evento, Paola conseguiu reencontrar sua força e voz como profissional. A romancista sempre reforça sua ideia de criar narrativas envolventes e que agreguem valor para quem está lendo, de forma que impacte sua vida de certa maneira. E podemos falar que isto deu mais que certo!
Atualmente, a escritora é motivo de comoção em eventos como a Bienal, seja para distribuir autógrafos ou tirar fotos – fenômeno esse descrito pela própria como surreal. “Eu sinto que é uma coisa que eu não consigo ver como normal. É sempre muito mágico e único […] são os momentos que eu mais de doo no meu trabalho, porque é muito especial ver pessoas esperando na fila para me ver ou ficar emocionada ao falar comigo.” desabafou Paola.
Para além de uma profissional excepcional, Paola também é mãe. Em resposta sobre sua rotina e como ela consegue conciliar todas as áreas de sua vida, ela é certeira em alegar que não existe no mundo uma fórmula certa para as coisas. Para Aleksandra, tudo é questão de prioridade, sempre colocar aqueles que verdadeiramente importam na sua vida em primeiro lugar e nunca deixar que a comparação do mundo digital te consuma por inteira. “Está tudo bem não dar conta de tudo ao mesmo tempo, além de que somos seres humanos e temos suas respectivas limitações.” explicou ela.
Com uma conversa pautada muito no poder das mulheres nos dias atuais, atrelada a força original de personagens que a inspiram, Paola ressalta que a principal mensagem que gostaria de deixar para quem a acompanha e também para sua filha no futuro é de sempre confiar em si mesma e nunca deixar de acreditar na sua própria voz. De sua grande inspiração em Jane Austen, até a criação de suas próprias narrativas, Paola é uma escritora certeira para o público feminino – para mulheres que se permitem ser abraçadas pelos amores clichês, mas que também permanecem com suas essências únicas e potentes; para quem deseja alcançar seus próprios objetivos e que merecem ser ouvidas e enxergadas. Parafraseando a série “Anne With na E”, “How I love being a Woman”/ “Como eu amo ser mulher” é, com certeza, a expressão que mais nos representa no momento e o sentimento que a Julietta extrai deste grande bate-papo com Paola Aleksandra!
Escrito por: Letícia Guedes