Por gostar muito de séries, Gabriela escolheu a Beth de This Is Us para se representar. “Ela é uma mulher negra e traz uma representatividade muito interessante por ser muito autoconfiante e saber o que deseja. Assim, ela não deixa que as pessoas pisam nela e isso é muito difícil.”, declara. A autora também pontua o fato de que mulheres negras constantemente têm a sua autoestima minada. Desse modo, a representação de uma personagem que carrega tamanha confiança e senso de identidade é um dos destaques da trama.
Se você está acompanhando o especial de autoras nacionais da Julietta, já percebeu que boa parte das autoras têm algo em comum: a maioria iniciaram as carreiras no universo das fanfics. E com a Gabriela não poderia ser diferente. Aos 15 anos, a jovem assistiu o primeiro filme de “Crepúsculo” e se apaixonou. Assim, começou a escrever fanfics de 800 páginas sobre a obra.
Ao longo dos anos, Gabriela reflete que suas maiores inspirações de escrita são autoras negras. “Na minha época de começar a ler, só tinha pessoas brancas. Quando eu comecei a consumir literatura de mulheres negras foi o ponto de virada sobre o tipo de literatura que eu gostaria de fazer”, afirma. A autora explica a importância de ler mulheres negras que sejam brasileiras e declara tamanha admiração a Conceição Evaristo e Eliana Alves Cruz. “Ler um livro de uma mulher negra estadunidense carrega outra vivência e histórico por mais que tenha o lugar de fala. Ao ler histórias de mulheres negras brasileiras, você começa a pensar na sua avó, mãe, tias e primas“. Para ela, a literatura ganhou um novo brilho ao se reconhecer nas histórias.
Acerca de seu primeiro lançamento, Gabriela conta que foi um desabafo que precisava fazer e que se inspirou em Ryane Leão no processo de publicação. Escrito em 2020, a autora refletiu muito sobre a sua vida e decidiu publicar a história. Dessa forma, ela optou pela publicação independente. Porém, para facilitar o acesso de seu parentes que não tem costume de ler pelo celular, a profissional fez questão de produzir uma tiragem do livro em uma gráfica.
Pela primeira vez, Gabriela está escrevendo uma protagonista diferente dela. Em seu novo livro, a autora abordará a maternidade compulsória e a não maternidade. “Comecei a perceber que a maternidade influencia até quem não quer ser mãe porque temos a nossa vontade questionada o tempo inteiro”, desabafa. No livro, a sua protagonista quer muito engravidar e não consegue por alguns fatores. Além disso, a trama também conta com outras 3 personagens que têm diferentes tipos de maternar. Para a autora, suas histórias vêm de alguma situação que já viveu ou que viu alguma pessoa vivendo. “Gosto sempre de tocar em alguma ferida social ou política de forma que se assemelhe a uma conversa de bar”.
“Uma área sempre acaba ficando negligenciada no meio do processo. Amo escrever mas o que pagar as minhas contas é a tradução”, compartilha Gabriela sobre a rotina de autora, revisora, preparadora e tradutora. Desse modo, ela compartilha que passa de 2 a 3 meses traduzindo uma história e esse ato é como escrever um novo livro. “A coisa que mais pega para mim é a literatura não ser o foco do Brasil ou então ser colocada no patamar do auge da erudição“, relata sobre o que mudaria no mercado literário.
“Sou uma pessoa negra, que escreve personagens negros e tem um público de pessoas negras“. Por ter feito as traduções para o “Clube da Caixa Preta”, projeto de Stefano Volt, Gabriela se aproximou do autor e demonstra tamanha admiração por suas obras. “Adoro ver o Volp fazendo turnê e alcançando lugares que um homem preto retinto não alcança de maneira geral. Mas ele ainda é uma agulha no palheiro“. Sobre o seu maior sonho como escritora, Gabriela brinca que divide entre idealizado e possível. O idealizado é viver só de escrita. “Não gosto muito de usar a palavra impossível mas de maneira geral pela forma em que a literatura é comercializada, é bem difícil”, explica.
Já seu sonho possível é se firmar em uma casa editorial e conseguir vender as obras de forma tradicional. “Acho o mercado independe riquíssimo por conta das histórias que o mercado tradicional não ousaria públicas mas a gente consegue ter acesso. Mas para mim, tem muito a ver com a questão do alcance porque ainda acho que a editora carrega uma chancela de acessar alguns lugares como livrarias e eventos literários.”, conclui. Acerca da iniciativa da revista, Gabriela pontua o poder do coletivo em propagar uma mensagem bonita e eficiente. Nós da Julietta estamos muito felizes em mostrar um pouco dessa linda jornada da Gabi!
Escrito por: Maria Eduarda Rocha