Se você acompanha as bookredes ou qualquer tipo de conteúdo literário, o nome Ariani Castelo não lhe é estranho. Conhecida por suas resenhas de livros e recomendações, a carioca tornou-se destaque ao lançar o seu primeiro livro “O Abismo de Celina” em 2023.
Por ter crescido em um lar que a estimulava a escrever, visto que sua mãe é professora de português, Ariani relembra que sempre foi em bibliotecas. Aos 8 anos, ela escreveu uma história de 90 páginas. Nos últimos anos, a autora de “O Abismo de Celina” conta que ao emergir na literatura nacional ficou fascinada com a possibilidade de algo que se assemelhasse a sua realidade, por ser ambientado em seu país. Afinal, existe algo melhor do que ler um livro de Natal no qual a família passa o dia inteiro preparando a ceia? Por gostar muito de fantasia, a autora compartilha que gostaria de trabalhar com magia se pudesse ser uma personagem de um livro. “Recentemente li um quadrinho coreano no qual uma menina faz perfumes mágicos e cada perfume dá um poder diferente para as pessoas. Durante a leitura, fiquei até com vontade de ser perfumista.”, conclui. Com muito humor, ela relata que “nós, autores de fantasia, sofremos”.
Para Ariani, a personagem que mais combina com ela é de uma história que ainda pretende lançar (conseguem sentir o cheirinho de novidade no ar?). A personagem lida com o perfeccionismo no trabalho com o intuito de se destacar entre os demais, é ambiciosa e se cobra bastante. Será que Ariani está escrevendo sobre a minha vida? “Têm coisas que escrevo que são conversas com as minhas próprias dúvidas e ideologias, mesmo compreendendo que estou inserida em um mercado muito comercial”, pontua a autora sobre a dualidade de escrever para si e para o público. Amante de livros, ela compartilha que gostava muito de ler Ruth Rocha. Já no universo de fantasia, ela gosta bastante de Natalia Avila, Lais Napoli e Bianca Jung. No cenário internacional, a autora acompanha Holly Black e Victoria Schwab — que se tornou a sua maior inspiração atualmente por escrever fantasias sombrias.
Para ela, seus livros são ideais para quem gosta de ler fantasias mais adultas que abordam temas complexos e fora do que é esperado em contos de fadas clássicos. “Não tenho a pretensão de achar que cada pessoa na face da Terra precisa ler o meu livro. Dessa forma, acredito que há pessoas especiais que irão se conectar com a história”, compartilha. Reviravoltas e o lado dúbio das coisas também fazem parte de suas obras. Paralelo a essa questão, em seu livro, a autora conta que escolheu trazer conflito em amizades para mostrar como é a realidade do dia a dia.

Sobre o seu processo criativo, a graduada em Letras conta que acontece por meio da mistura de várias fontes. Quando escreveu o seu best seller, Ariani afirma que escutava músicas de horror para conseguir imaginar o cenário que desejava escrever. Além disso, ela costuma ouvir as músicas da violinista Lindsey Stirling, uma vez que para ela o instrumental das músicas permite que a sua mente navegue favorecendo a criação de um universo de fantasia. Gente como a gente, ela também cria pastas no Pinterest. De forma bem prática, ela compartilha que a ideia de seu livro surgiu em um dia em que sentou no sofá e pensou “quero escrever algo novo e me desafiar”. O processo de escrita do livro durou apenas 1 mês e foi bem intenso. Por ser muito atrelada a música em seu processo criativo, Ariani compartilha algumas características que se assemelham aos seus personagens.
Para a Celina, “Coraline” do Maneskin é a melhor representação já que a letra fala sobre uma menina atormentada. Segundo a autora, a canção “Bring Me to Life” do Evanescence também descreve a história com maestria, uma vez que no início do livro descobrimos que a protagonista já está morta. Nesse processo de analisar qual música se assemelha a história, a autora comenta sobre a participação dos leitores. Para “Abismo de Celina”, a autora criou uma playlist na qual os leitores têm acesso. Por se identificar com a história, uma leitora em especial entrou em contato com Ariani para recomendar uma versão dark da canção “Can’t Help Falling In Love”. Para Ariani, uma das maiores vantagens de ser uma autora nacional é a proximidade que consegue ter com o público e a oportunidade de conversar diretamente com os seus leitores.
Acerca do mercado editorial, a autora pontua que a parte mercadológica depende muito da conjuntura do país. Desse modo, ela acredita que não tem como falar sobre melhorias do mercado editorial sem pontuar o que deseja que melhore no Brasil. Para ela, o cenário ideal era que vivêssemos em um país no qual as pessoas tivessem condições econômicas e sociais — somadas a qualidade de vida — que favorecessem o acesso à leitura. Mesmo em um cenário tão difícil, a autora comenta que está muito feliz em observar que as editoras tradicionais têm aberto as portas para autores nacionais. Esse é o caso da Rocco, que integrou Ariani em seu time de escritores em novembro de 2023 e irá relançar a obra da jovem autora. Ela também pontua o quanto está grata em saber que nos últimos anos têm se tornado mais comum encontrar livros nacionais (principalmente do gênero de fantasia) nas prateleiras de livrarias.
Ainda sobre essa temática, também comentamos sobre o fenômeno do BookTok para o incentivo da leitura entre os jovens nos anos de 2020 e 2021. “O externo influencia muito nas editoras. O momento em que as pessoas foram na Bienal e encheram as filas de autores nacionais acendeu um sinal de alerta nas editoras a perceberam que deveriam investir nesse mercado consumidor”, disserta. No ano de 2023, a Bienal Do Livro no Rio de Janeiro atingiu o marco de maior edição contando com o público de 600 mil pessoas vendendo 5.5 milhões de livros. A respeito de seu maior sonho como escritora, sua meta é atingir o máximo de leitores possíveis no Brasil e no exterior. “Entendo que tudo é uma escadinha. O primeiro conto que lancei teve 400 leituras em 1 dia, já “Abismo de Celina” teve 15.000 páginas lidas no mesmo período de tempo”, compartilha.

Sobre ter atingido um grande público, Ariana conta que algumas pessoas a procuraram para contar que “O Abismo de Celina” foi o primeiro livro nacional que leram. Segundo a autora, seu foco é sentir que está conseguindo chegar nas pessoas e realmente se comunicar com o coração de cada leitor. “Para mim, meu maior medo é a história não chegar em alguém que poderia gostar dela”. Com o sucesso estrondoso do seu livro — que atingiu a marca de 300 a 400.000 páginas lidas em apenas 1 mês —, Ariani conta que precisou lidar com a dualidade de opiniões que variam bastante. Para ela, os dois lados ajudam a manter um equilíbrio. Por já estar inserida no universo literário como figura pública a 5 anos, a autora Best Seller admite que já está acostumada a lidar com opiniões divergentes. Esse cenário a fez encarar as críticas de forma mais leve. Para ela, uma dica para quem está iniciando e ainda se sente inseguro com as críticas, é procurar as avaliações do livro que acha ser o mais genial que existe.
Ao se descrever como autora, Ariani escolhe 3 palavras que melhor lhe definem: reviravoltas, complexidade – por explorar o lado mais humano de seus personagens — e clichê — afinal, leitura também deve ser divertida e gerar sorrisinhos bobos. Ainda sobre o tópico clichê, a autora conta que gosta de subverter essa abordagem trazendo algumas brincadeiras. A respeito de seus próximos lançamentos, ela compartilha que pretende lançar uma alta fantasia em 2025 que terá um sistema de magia baseado nas luzes. Por se considerar uma escritora arquiteta, ela brinca que a história já está calculada. Em seguida, também está planejando uma fantasia urbana que se passa no Rio de Janeiro que depende da ordem de publicações.
Sobre o projeto proposto pela revista, a autora afirma que gostou muito da proposta e também pontua que, mesmo entre as autoras nacionais, há diferença de vivência. “A minha experiência como uma autora branca que alcançou um bom resultado na Amazon e já tinha um público considerável oriundo de um perfil literário é diferente e pode ser considerada uma exceção”, finaliza. Ficamos muito felizes em conhecer um pouco mais da jornada da Ariani e contamos os dias para os seus futuros lançamentos.
Escrito por: Maria Eduarda Rocha