#JuliettaEntrevista: De Manaus à Alemanha, Adanilo, ator da Globo, vive personagem na novela das sete paralelo à estreia em festival internacional com filme de Gabriel Mascaro

Caras leitoras da Julietta, hoje apresentamos uma reportagem especial — e em dose dupla! Vamos conhecer a trajetória inspiradora do ator Adanilo, que interpreta Sidney na novela “Volta por Cima” da Globo. E ainda, detalhes exclusivos sobre a indicação do filme “O Último Azul”, dirigido por Gabriel Mascaro, para o prestigiado Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2025, que acontecerá entre os dias 13 e 23 de fevereiro.

Em entrevista à Julietta, o ator contou sobre como foi ter trabalhado com o diretor do filme e sobre a oportunidade de participar de um festival de cinema internacional. No próximo mês, eu vou para o Festival de Cinema de Berlim com o próximo filme do Gabriel Mascaro. Ele é um diretor que eu sonhava muito em trabalhar. Gosto muito dos trabalhos dele, como ‘Boi Neon’, ‘Divino Amor’, ‘Ventos de Agosto’. Todos esses filmes me interessavam muito por conta da estética, da linguagem e da forma como o Gabriel trabalha”, revelou Adanilo.

(Foto: Reprodução/Gustavo Paixão)

O longa-metragem conta com um elenco de peso, incluindo Denise Weinberg, Rodrigo Santoro e Miriam Socarrás. A trama se passa em um Brasil distópico, onde o governo transfere idosos para uma região isolada na Amazônia, com a promessa de uma vida mais digna em seus últimos anos.

Adanilo descobriu sua paixão pela atuação quando cursava Rádio e Televisão, após a recomendação de um professor para assistir a uma peça teatral. “Ainda bem que tive essa oportunidade, pois foi um trabalho incrível e me mostrou que havia atores profissionais em Manaus. Isso despertou meu interesse pela arte“, relembra.

Em seguida, o amazonense fez um curso de teatro e nunca mais parou de atuar. “Eu me inscrevi neste curso e, ao finalizá-lo, eu não deixei mais de atuar, descobri que era aquilo que eu queria fazer da minha vida, que era aquilo que me interessava. Era aquela maneira de comunicar com o público que eu queria desempenhar”. No começo da sua trajetória profissional, o ator conheceu outras pessoas interessadas pela arte e criou uma produtora de artes integradas: a “Artrupe Produções”.

Ainda que não trabalhe mais na produtora, agora fazendo parte da “Teatro Galeroso”, Adanilo reforçou como o contato com diferentes modalidades artísticas foram importantes para seu crescimento como ator independente. “A Artrupe contribuiu e foi muito bom ter encontrado essas pessoas que estavam dispostas a encarar o profissionalismo da arte, que a gente sabe que ser artista no Brasil é uma dificuldade. Todos estávamos preocupados em fazer projetos, captar recursos, levantar essa parte burocrática da obra artística. Isso fez com que eu tivesse um pouco mais de domínio em conseguir elaborar esses projetos, de entender os editais para me consolidar como um artista independente”, afirmou.

Após ter feito três curtas-metragens junto com a Galeroso, Adanilo se mudou para o Rio de Janeiro para espalhar seu trabalho. Em 2017, o ator fez um teste para o elenco de Marighella e, após ter sido aprovado e realizado esse trabalho, outras oportunidades profissionais apareceram. O ator também participou das séries “Cidade Invisível” (Netflix), “Dom” (Prime Video) e “Um Dia Qualquer” (Max).

Após ter feito sua primeira novela, “Renascer”, Adanilo agora interpreta o imigrante amazonense Sidney em “Volta por Cima”. O ator revelou que a ideia do personagem ser semelhante a ele surgiu no início das gravações. “No primeiro dia de gravação da novela, eu já consegui meter umas gírias lá de Manaus nas falas do personagem. Acabou que, depois, eu fui falar com o diretor e disse: ‘Você viu que eu meti umas gírias de Manaus. O que você acha disso no personagem?’, e ele falou: ‘É isso, vamos nessa. É isso que a gente quer’”, compartilhou.

Além da representação do Amazonas, a novela conta com o personagem gaúcho Jayme, interpretado por Juliano Cazarré, e o nordestino , com atuação de Vitor Sampaio. Adanilo afirmou que essa regionalização é fundamental para construir uma história consciente da realidade no Brasil: “Acho que isso é um processo de conscientização para que as pessoas olhem sem estereótipos, sem padrões para minha existência, que é uma existência periférica, manauara, indígena e amazônica”.

O clima da novela é muito bom, é uma novela leve, até pelo horário. O horário das sete, geralmente, é [de] uma novela mais leve. Então, é bem gostoso, está sendo bem prazeroso e tranquilo de fazer”, contou Adanilo sobre os bastidores, reiterando, em seguida, como está sendo trabalhar em uma novela divertida e com um elenco engraçado.

Nesse ambiente agradável, o amazonense pode reencontrar atores, que auxiliaram tanto no crescimento da conexão dos personagens, quanto nas amizades reais atrás das câmeras. Uma dessas pessoas foi o ator Caíque Ivo, que interpreta Lucas, o filho de Cida. “Eu voltei a trabalhar com o Caique Ivo, que é a criança que faz o filho da Cida em ‘Volta por Cima’. Em ‘Renascer’, a gente tinha feito juntos também. Foi muito bom reencontrá-lo e, principalmente, para o papel que eu ia fazer. Primeiro, que ele é um moleque muito talentoso e poder trabalhar mais uma vez na Globo é saber que a carreira dele está se consolidando. E segundo porque eu sabia que ia ser fácil de fazer e, como tem sido, realmente, é muito fácil e tranquilo”, detalhou. 

(Foto: Reprodução/Gustavo Paixão)

Além disso, Adanilo conheceu novas pessoas como Fabrício Oliveira, que se tornou “um irmão mesmo, virou meu amigo na vida real”, e a atriz Juliana Alves, que é sua parceira romântica na novela: “Tenho o prazer de trabalhar com a Juliana Alves e não podia ter uma parceria melhor para fazer um par romântico do que ela. É uma pessoa muito concisa, muito forte. Atua incrivelmente bem”, disparou o ator.

No entanto, a atriz que mais o surpreendeu na novela foi Jéssica Ellen, que interpreta a protagonista Madalena. “Alguém que me surpreendeu muito mesmo, tem me encantado e eu sou completamente apaixonado em trabalhar, é a Jéssica Ellen. Genial, cara, que menina genial. Que trabalho doce, potente, forte, dedicado, com olhar muito aberto para todas as cenas, sabe? Muito atenta, muito divertida, descontraída, muito vida. Muito, muito incrível. Estou impressionado com ela”.

Ao ser perguntado sobre a representatividade amazonense no audiovisual brasileiro, Adanilo pontuou: “Ainda me bate um pouco a angústia de pensar que é um caminho longo a ser percorrido. Por exemplo, quase sempre eu sou a única pessoa do Norte e da Amazônia. Então, eu sinto que é uma equação que não está bem solucionada. Obviamente, fico feliz, honrado e muito agradecido aos meus ancestrais, aos meus antepassados e às pessoas do meu território que fizeram por hoje. Mas ainda acho uma defasagem muito grande de representação”.

Por conta disso, o intérprete tem vontade de trabalhar como diretor e roteirista para contar e protagonizar as histórias amazonenses que, por muitos anos, foram estereotipadas ou nem sequer foram retratadas. “O foco mais importante mesmo é que a gente consiga protagonizar, ser diretores e roteiristas das histórias. Isso é o ideal. Quando a gente chegar nisso, vamos estar num nível mais igualitário de representação indígena e amazônica dentro dos produtos audiovisuais brasileiros”, explicou. 

Por fim, Adanilo expôs seus futuros projetos para 2025, como o lançamento de seu novo livro: “Esse ano, de diferente, vai ter o lançamento do meu livro, chamado Dramaturgia Galerosa, que é uma coletânea de textos para teatro que eu escrevi desde 2014 até os momentos atuais. A gente vai fazer esse lançamento dentro da programação do Festival de Curitiba, que vai acontecer no início de abril.” 

Além disso, o ator também busca dar mais atenção aos seus trabalhos audiovisuais, como realizar a direção de mais um curta. “No segundo semestre, eu estou com a pretensão de dirigir meu próximo curta. Atualmente se chama ‘Parque das Nações’, mas provavelmente vai mudar de nome. Eu quero muito poder dirigi-lo. A história se passa no Parque das Tribos, que é o primeiro bairro institucionalmente reconhecido como bairro indígena de Manaus. É um bairro que vive num contexto periférico da capital da cidade, numa região um pouco afastada do centro, mais próximo de uma área de floresta”, disse Adanilo sobre a ambientação do seu possível trabalho em 2025.

Para as leitoras que já estão interessadas em conhecer mais sobre o trabalho de direção do ator, Adanilo pretende divulgar seu curta “Castanho” na internet. “E queria também lançar o ‘Castanho’, que já está rodando em festivais faz um tempo. Esse ano, eu queria disponibilizar na internet para que as pessoas pudessem conhecer um pouco dessa faceta minha de diretor e que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer”, detalhou.

A Julietta espera que Adanilo continue brilhando nos seus trabalhos, seja como ator, roteirista ou diretor, e desejamos muita sorte na indicação do prêmio no Festival de Berlim.

Escrito por: Luisa Tabchoury.

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