#JuliettaEntrevista: Conheça o universo literário da escritora Vitória Souza

Para o Especial das Autoras de hoje, a Julietta entrevistou Vitória Souza, autora de “Aurora” e “Círculos não são infinitos”. Venha conhecer mais sobre o processo criativo, os bastidores dos livros e algumas curiosidades da escritora cristã.

(Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Vitória Souza é natural da cidade de Belém, Pará. A escritora de 24 anos, para além do mundo literário, também atua como servidora pública. “A minha vida é dividida entre essas duas coisas: o mundo corporativo e a escrita”, descreve.

Ao ser questionada sobre a personagem fictícia que trabalharia por uma semana, Vitória disse que a Agente Carter seria a sua escolhida. A personagem da Marvel é a favorita da escritora cristã porque Carter tem um bom equilíbrio entre seu lado forte com as emoções, uma característica que Vitória sente falta. “Ela é forte, mas ela é sensível também e eu acho que isso falta muitas vezes para a gente, tanto como mulher quanto na literatura”, afirma.

A autora falou sobre os motivos que a levaram a começar a escrever, como a falta de identificação com os personagens dos livros adolescentes que lia. Seu interesse pela leitura começou durante a pandemia, em que tinha 20 anos, mas Vitória não conhecia muitas obras e encontrou apenas histórias juvenis. “A maioria dos livros que eu encontrava, que tinham coisas que me incomodavam um pouco, eram livros adolescentes. Então, eu decidi que queria ler livros com personagens mais velhos, para que eu conseguisse me identificar melhor”, explica.

O processo criativo de Vitória com a escrita acontece de forma natural, suas histórias e seus personagens vão surgindo e evoluindo de acordo com a narrativa. “Eu não sou uma escritora que planeja as histórias, ou que tem uma ficha de personagem, porque eu não consigo realmente fabricar uma história”, revela.

Nesse sentido, ao ser questionada sobre como desenvolve a personalidade dos personagens, a escritora explicou que ela precisa colocá-los em uma cena e observar quais seriam as suas reações, para entender as suas particularidades. “Eu preciso escrever algumas cenas e ver como eles se comportam para eu poder saber quem eles são. É como se você estivesse conhecendo uma pessoa nova, ela já tem a personalidade dela e você vai descobrindo aos poucos. Então, quando eu estou escrevendo algumas cenas, eu penso: ‘isso daqui o personagem faria, isso daqui ele não faria’”, explica.

O primeiro escrito de Vitória foi um conto produzido para o concurso “Prêmio de Literatura Jovem” da Amazon. A escritora, em um impulso, se inscreveu no edital e, em dois dias, escreveu e publicou seu primeiro e-book. Toda a publicação foi escrita, inicialmente, no aplicativo de bloco de notas no celular, que depois Vitória passou para o Word. A capa da obra e a publicação também foram feitas pela autora.

Mesmo que sua inauguração no mundo literário não tenha ganhado muitos leitores, Vitória se sentiu feliz em ter realizado esse feito. “Eu gostei muito de escrever, da sensação de criar personagens, ter uma história só sua, eu achei muito fantástico”, afirma. A partir dessa decisão corajosa em produzir algo do zero, a escritora foi crescendo e conquistando seu público. “À medida que eu fui escrevendo, eu fui conhecendo outras escritoras, outros leitores e fui crescendo”, descreve. 

Vitória foi se dedicando cada vez mais à escrita e ao mundo literário e, assim, escreveu o sucesso “Aurora”. A obra distópica conta a história de uma sociedade que, após a dizimação da humanidade devido a uma pandemia, se reuniu em apenas um país para sobreviver ao cenário caótico. O drama da narrativa ocorre entre Helsye, que descobre ser imune a um novo vírus, e o tirano presidente Buruk. 

Livro “Aurora” de Vitória Souza. (Foto: Reprodução/Amazon)

Vitória comentou sobre a importância desse livro para ela como uma escritora independente que, a partir da obra, conseguiu conquistar mais pessoas. “Esse foi um livro muito especial para mim porque, quando eu escrevi, eu estava naquela fase em que eu não tinha muitos leitores. Foi um divisor de águas na minha vida, porque, em julho, eu estava com 40 mil páginas lidas e, no fim do ano, passou para 1 milhão”, relata.

Para além do mundo literário, a obra também tem um apreço especial por ela pessoalmente. Vitória buscou trazer a representatividade em seus personagens, como um protagonista negro, um personagem dentro do espectro do autismo e outra midsize, para que seus leitores pudessem se identificar com a história. “O livro tem todas as representatividades que eu queria que tivesse, porque eu queria que as pessoas dissessem qual personagem é ou não é parecido com elas”, explica.

Com o crescimento dos leitores, surgiu uma grande oportunidade para Vitória, que foi convidada pela Editora Mundo Cristão para publicar seu livro “Aurora” em uma edição física. A autora disse que existem diferenças da publicação independente, em que ela fez todo o processo de criação até a publicação, para uma tradicional. “Foi uma coisa muito difícil para mim porque, quando você é independente, você faz tudo sozinha. Desde o processo de escrita, os preparativos de divulgação, a capa, a aprovação de projeto gráfico, você que faz. Agora, tem uma equipe de dez a quinze pessoas trabalhando em algo em que você trabalhou sozinha”, descreve.

Mesmo enfrentando dificuldades, a escritora aproveitou muito os dois processos de publicação. “É legal que agora eu tenho duas experiências, tanto do mercado independente quanto do mercado tradicional”, relata. 

Quando questionada sobre quais das personagens de seus livros a escritora mais se identifica, Vitória escolheu Maeve de “Círculos não são infinitos”. Ela disse que ambas as personagens têm um lado de si: uma mais melancólica, Maeve, e outra colérica, Helsey. No entanto, pela primeira personalidade ser uma escritora, Vitória relata que teve mais abertura para explorar os sentimentos de Maeve. 

A Maeve, por ela ser escritora e por ela pensar demais sobre a vida, eu acabei colocando muitas coisas que penso no livro. Então, ela acaba sendo muito parecida comigo e me dá mais espaço para falar dentro da cabeça dela no livro. Eu acabo falando o que eu penso e que, por consequência, ela também pensa”, afirma.

E-book “Círculos não são infinitos” de Vitória Souza. (Foto: Reprodução/Amazon)

O mundo literário como um todo tem um significado importante para Vitória, que conheceu esse universo durante um momento difícil de sua vida. “Os livros apareceram em um momento em que eu estava bem mal de saúde mental, eles me puxaram para fora da caverninha onde eu estava”, relata. Além de ajudá-la, a literatura também proporcionou novas experiências, como viajar de avião para ir a uma feira literária. “Muitas coisas que eu não tinha coragem de fazer ou que eu não me sentia pronta ainda, eu fazia por algo que amo tanto, que são os livros”, declara. 

Neste ano, por exemplo, a autora teve o lançamento de seu livro físico em São Paulo, em que conheceu pessoalmente seus leitores que, até então, só mantinha contato por meio das redes sociais. “O lançamento em São Paulo foi algo muito importante para mim. Na internet, a gente interage com os leitores, mas, no lançamento, eu pude encontrar os leitores pessoalmente. Foi algo muito especial ter essa dimensão de que eu estou lidando com pessoas reais, que realmente se importam com o meu trabalho”, conta.

Outro momento especial para a autora foi quando um menino que conhecia uma de suas leitoras comprou o livro “Aurora” para um pedido de namoro. Vitória recebeu uma mensagem no Instagram dessa pessoa, que contou detalhadamente o pedido e o aceite do namoro. “Um menino que não era o meu leitor viu que a amiga dele curtiu todos os posts sobre o meu livro. Então, ele comprou o livro para ela e pediu em namoro. E, assim, eu virei praticamente madrinha deles”, relata. 

Ambas as situações foram muito marcantes para a escritora, que passou a perceber a influência que suas obras tinham nos leitores. “Foi muito marcante para mim ver como algo que começa com um livro, mas que impacta tanto a vida das pessoas”, conta.

Ao longo de sua carreira literária, o que mais orgulha a autora é a sua lealdade em contar histórias com os mesmos princípios, até quando não tinha uma enorme comunidade de leitores. “Mesmo quando ninguém lia meus livros e não tinha um público-leitor muito grande, eu escrevia com os mesmos princípios que eu escrevo hoje”, afirma. 

Estes princípios estão diretamente ligados à razão pela qual a leitora continua produzindo novas histórias ao encontrar uma finalidade religiosa. “Com o tempo, eu fui encontrando, na escrita, um propósito de Deus para a minha vida. Hoje, o que me motiva a escrever não é só produzir entretenimento, mas realmente fazer algo que eu creio que Deus me falou para fazer”, relata. 

Com seus valores e sua missão, Vitória busca passar uma imagem de Deus por meio de suas histórias. “Eu quero que minhas histórias remetem a Jesus e que as pessoas passem a olhar para Ele. Esse é o meu propósito”, declara. 

Dessa forma, a escritora também escreve seus livros pensando em proporcionar bons momentos de lazer para seu público. “Eu quero que as pessoas possam ter um entretenimento saudável e que possam ler histórias que realmente não vão provocar sentimentos ruins, que possam trazer alguma coisa legal para a vida delas”, afirma. 

Vitória ainda possui sonhos como escritora, como ver um livro seu adaptado para o audiovisual, seja em série ou em filme. A autora disse que, por mais que seja um desejo difícil de ser alcançado, já pensou sobre isso durante o processo de escrita. 

Por fim, Vitória disse ter ficado maravilhada com o quadro Especial das Autoras porque os autores nacionais, como ela, têm receio de que suas obras não façam tanto sucesso quanto os internacionais. “Como autora nacional, muitas vezes a gente pensa que o nosso livro, por melhor que ele seja, nunca vai fazer tanto sucesso quanto um gringo”. A escritora disse que a iniciativa do projeto é muito importante na divulgação de autores nacionais para o público leitor brasileiro. “Quando existe um projeto como esse que ajuda a mostrar para os leitores o que tem no Brasil que eles podem ler, isso significa muito, de verdade, porque é um apoio que, muitas vezes, os autores nacionais não têm”, afirma.

Escrito por: Luísa Machado.

Revisão por: Milly Ricardo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *