Beatriz Misaki é um doce de pessoa — e isso fica claro quando ela admite que escolheria a Anne com E, de Green Gables, como personagem fictícia para trabalhar junto por uma semana. “Eu acho que ela vê o mundo de uma forma muito bonita, e ela não só vê o mundo de uma forma bonita, como ela comunica isso para todo mundo que está em volta dela”, explicou a autora de “Buruna: por um canto amarelo”. O fato de não entender bem as coisas que estavam acontecendo na sua vida foi o fator crucial para que Beatriz começasse a escrever. “Foi mais uma necessidade do que qualquer outra coisa”, comentou Bia, que deu vida a uma história com protagonismo nipo-brasileiro.
Uma pessoa nipo-brasileira tem ascendência japonesa e brasileira ao mesmo tempo. A falta de personagens que te representa é um forte fator para que escritores tenham ideias, e com ela, não foi nem um pouco diferente. “Eu continuo escrevendo, porque em parte eu preciso suprir essa necessidade. Mas eu também não consigo encontrar direito personagens que se pareçam comigo na literatura. Então, você pega literatura brasileira e você não encontra personagens asiáticos. E se não tem, eu posso fazer existir e a partir desse momento, ter”, declarou Bia. Atualmente, Beatriz cria conteúdo cultural para seu perfil no Instagram. Além de ser uma forma de divulgar seu único original — até então — é uma forma de propagar sobre a necessidade da representatividade racial na literatura não somente brasileira, mas como um todo.
“Buruna” conta a história de Bruna, que está cansada de escutar sua avó falar seu nome errado. O incômodo nada mais é do que a semelhança entre a palavra “buruna” com a lenda folclórica japonesa “Buruburu”, sobre um fantasma maligno que se alimenta do medo das pessoas. Ele pode ser associado ao medo e a ansiedade. Bizarro, não é? Agora, imagina como a protagonista se sente? Até que vamos para o ponto em que Bruna começa acompanhar uma cantora com ascendência coreana, que se torna uma forma de conforto para ela.
Afinal, há a presença de um sentimento de solidão por parte de pessoas amarelas e sua falta de representatividade adequada. A história trata desde a importância dessa representatividade, até a sexualização de mulheres amarelas e como o mundo pode ser cruel com elas. Por meio de um livro curto e comovente, Beatriz Misaki se torna um conforto, uma palavra amiga e de apoio para uma parcela importante da sociedade brasileira.
Por meio de seus vídeos ou livro, é possível conhecer mais sobre a cultura japonesa, dar uma chance para compreender uma comunidade fora de nossa bolha e destrinchar uma história curta e gostosa, mas repleta de assuntos necessários para abrir nossos olhos enquanto sociedade. E se você gostou e quer mergulhar no universo de “Buruna”, não deixe de conferir a playlist separada especialmente por Beatriz Misaki:
- Bem que te falei — Julie Yukari;
- Gaijin — Kiro (coletivo libre);
- Yellow — Coldplay;
- A lenda de Buruburu — Buruna (ficcional);
- Temptation — Raveena;
- Rolling in The Deep — Adele.
Escrito por: Ana Clara Reis.
Essa matéria ficou incrível! Parabéns pras meninas da Julietta pelo ótimo trabalho com a entrevista e redação! Vocês são muito profissionais. E muito obrigada pelo espaço pra falar sobre meu livro ❤️
Obrigada, Bia, por nos dar a chance de falar sobre você! 🩷