Qual o verdadeiro poder da representatividade no âmbito das artes? A resposta é simples: tudo! É o sentimento de ser ouvida e enxergada em ambientes cotidianos; é a sensação de entender como as suas vivências importam dentro da sociedade na qual está inserida e, ainda mais, a importância de suas retratações. A autora de hoje consegue trazer com perfeição estas questões em suas obras. Antes mesmo de ser escritora, Olívia Pilar é mestra e doutoranda em Comunicação Social na Universidade UFMG.
Em uma conversa para lá de especial com a Julietta, a profissional relata que a leitura e a escrita sempre estiveram presentes em sua história, então a conexão com a Comunicação era praticamente uma trajetória predestinada. Olívia possui seu estudos voltados para questões de gênero e raça voltado em produtos de consumo popular e inseridas na área do entretenimento. Além disso, é responsável por uma pesquisa atual voltada para atletas mulheres e sua resistência na vertente de imagens de controle que as cercam.
E, bom, introduzindo agora sua skin escritora, Olívia já possui alguns livros publicados de forma independente e por meio de editoras tradicionais, além de ter participado de coletâneas, ou seja, um trabalho para lá de animador! “Eu tive uma virada de chave de entender que eu poderia ter a escrita como uma profissão A, mas também ter uma profissão B, que vai ser aquela que trará a minha renda no caso. Infelizmente, hoje no Brasil é muito difícil ver autores que apenas trabalham a escrita, é complicado se manter apenas disso. Na pandemia, essa coisa de ficar reclusa, você fica mais pensativa, então, a partir desse momento, eu comecei a pensar esse lado da escrita como forma de carreira mesmo. Antes eu já escrevia, mas não me considerava escritora”, conta a profissional.
Tendo para si mesma a vontade de escrever histórias que possam tocar as pessoas, mas ao mesmo tempo trazer conforto, Olívia carrega em suas obras personagens negras, que estão se descobrindo e descobrindo sobre a vida. A presença de temáticas sensíveis, atreladas a uma escrita inteligente e didática sobre questões raciais e políticas e, óbvio, com uma boa pitada de romance para as apaixonadas de plantão.
Em “Um traço até você”, por exemplo, somos apresentadas a história da Lina – uma menina negra de classe média que sonha em ser ilustradora. No entanto, esse desejo é apagado por meio da reprovação de seus pais e a necessidade de cursar Administração. A vida da protagonista começa a mudar quando conhece Elza, uma estudante de Letras que não tem medo ir em busca da justiça e expressar seus sentimentos. No desenrolar do enredo, vemos uma crescente conexão entre as duas e o quanto ambas se ajudam a evoluir como ser humano. Com cenas fofas, diálogos incríveis, a obra é o tipo de leitura que quando menos espera, já está na página final e você fica IMPLORANDO por mais.
Sobre seus processos criativos, a profissional compartilha que seus planejamentos dependem da cena inicial que foi pensada para a obra. “Nesse livro [“Um traço até você”], eu pensei inicialmente na cena da Lina conhecendo a Elza, que na época nenhuma das duas tinham esse nome, se conhecendo no centro da cidade e a ideia foi se desenvolvendo a partir disso. Geralmente eu escrevo essa cena resumida para não esquecer. E depois vem as árvores destes personagens, como idade, características físicas, seus parentes, amigos e os sub plots que vão formando a história”.
Em 2023, a escritora participou de um projeto empolgante: uma coletânea de autores da editora Galera Record que levou o nome de “Finalmente 15”. Para a Julietta, Olívia conta que gosta muito de participar dessas junções de talentos pois é uma maneira de conhecer novas pessoas e perspectivas. Ainda sobre “Finalmente 15”, a autora contou que, para além do livro, pode participar de uma sessão de autógrafos de, pasmem, 4 HORAS, na Bienal do Livro e resumiu toda a experiência como incrível.
Olívia explica que gosta de contar histórias de personagens que tenham suas particularidades e nuances, e que, assim como todo ser humano, merecem ser amadas e valorizadas. “Quando a gente fala de grupos menorizados, no Brasil especialmente, somos muito carentes de histórias que carregam eles como protagonistas ou personagens relevantes. Histórias com representação LGBTQIAP+, ou com pessoas não-brancas, por exemplo, estão começando a ganhar um pouco o mercado agora. E eu acho isso muito importante para o público jovem, né? Para aqueles que estão amadurecendo, se entendendo no mundo. Então, estou falando de histórias que apresentam esses personagens com camadas, enredos, personalidade. Que os leitores possam ou não se sentir representados, mas que, pelo menos, não falte esse espaço para a identificação”, disserta a escritora.
Bom, e quanto suas inspirações pessoais? Quando questionada acerca de suas escritoras prediletas na atualidade, Olívia é certeira ao falar duas grandes personalidades: Conceição Evaristo e Angie Thomas. E aproveitado o gancho, escolheu os livros “Becos da Memória” e “Na Hora da Virada” como recomendações para nossas caras leitoras [se eu fosse vocês, já anotava logo no caderninho para pesquisar mais!].
Momento Spotify! Aqui estão cinco músicas que acompanham Olívia Pilar escritora:
- Réu Confesso – Tim Maia
- O mundo é um moinho – Cartola
- Oceana – Djavan
- Depois – Marisa Monte
- Coração Selvagem – Belchior
Sobre sonhos e projetos futuros, Olívia conta que gostaria de ver histórias suas sendo adaptadas em outros cenários [eu ouvi um filme? série? Só sei que já quero, hahaha], mas que, acima de tudo, deseja que esse anseio e ambição de continuar criando novas histórias permaneça em sua vida. Se autodescrevendo como brega [no sentido mais romântico possível], combativa e sensível, nosso bate-papo com Olívia Pilar foi simplesmente encantador e revigorante e esperamos que suas obras continuem alcançando espaços ainda maiores!
Escrito por: Letícia Guedes