Sobre o seu contato com os livros e a escrita, a sempre amante da literatura compartilha que começou a escrever quando foi alfabetizada. “Óbvio que eram histórias mais bobinhas, sem pé nem cabeça, mas [ainda] eram histórias“, ela pontua. Recebendo incentivo da família, Karou conta que sua mãe imprimia as histórias para que sua professora avaliasse. Ainda sobre a infância, Karou menciona que tinha referências estadunidenses. Sendo assim, a sua mini versão era obcecada por Nicholas Sparks e até comprou a coleção completa do autor. Contudo, ao decorrer do seu crescimento e oportunidade de expandir seus horizontes, a autora passou a ter maior contato com a literatura nacional. Nomes como: Aline Bei, Carla Madeira, Stefano Volpi e Itamar Vieira Júnior se tornaram as principais referências.
Acerca da literatura nacional, a autora comenta que ler obras que se passam no Brasil — e em seus respectivos estados —, nos faz perceber que nossa vida também é legal e interessante para ser cenário de uma história. Para resumir esse tópico, ela afirma que “Não preciso morar nos Estados Unidos para que a minha vida seja maravilhosa”. A respeito da representatividade, Karou conta que quando se inseriu no mercado literário via apenas pessoas brancas e ricas. Desse modo, quando criou o seu perfil antigo, a primeira pessoa preta que conheceu foi a Roberta Gurriti, que atualmente é sua amiga; ambas estão sempre se ajudando e impulsionando os projetos. Avisem que essa é a maior amizade do pop!
Ao ser perguntada sobre qual personagem mais se identifica, a autora responde, com muito humor, que sua resposta seria problemática, uma vez que se identifica com o Theo, personagem de “Entre Caixas” — que é um homem branco estadunidense. Entre as suas principais características, a autora destaca o fato dele ser cuidadoso, sempre tentando ajudar o outro e gostar de mistérios. Outra personagem que se identifica é a Rita de “Onde as Estrelas Não Brilham”. Segundo ela, a personagem é muito inteligente, conselheira e apoia os outros.
Sobre o processo criativo de cada livro, Karou conta que “Entre Caixas” é um livro de 4 contos que foram escritos ao decorrer de sua vida variando dos 12, 15 e 17 anos. Dessa forma, ela modificou um pouco a narrativa para que eles se encaixassem. O livro foi lançado em outubro de 2021 e demorou anos para que fosse publicado, já que a autora constantemente lia e relia o que já tinha escrito. Dessa forma, a obra foi muito moldada e recebeu cortes e acréscimos. Já em ”Onde as estrelas Não Brilham”, Karou escreveu em apenas um fim de semana. Ela resume a experiência com “Fiquei inspirada, sentei e escrevi”. A autora gosta desse processo de escrita bem imersivo onde há apenas ela e a história sem nada ao redor. Já no conto “Looping”, presente na antologia “6 desejos de Natal”, a autora conta que foi mais difícil principalmente por ser um ficção científica e conter viagem no tempo. Com muito humor, Karou comenta que ficou confusa com os próprios cenários que havia criado.
Ao ser perguntada sobre o motivo pelo qual as pessoas deveriam ler seus livros, Karou resume em duas palavras: identificação e representatividade. Com muito humor, ela diz que as histórias são divertidas — modéstia à parte. Ainda sobre as suas histórias, a autora relata que “Entre Caixas” aborda adoção e o que acontece com crianças que não são adotadas ou devolvidas. Em “Onde as estrelas não brilham”, a trama se passa no futuro e há um cenário de como seria o Brasil se não existisse racismo e só ficasse entre pessoas pretas. Com uma reação espontânea, Karou define que as ideias para livros surgem de formas absurdas e inimagináveis. Gente como a gente, Karou compartilha que “Sempre tenho ideia boa tomando banho e preciso ficar repetindo a frase para não esquecer e ao terminar correr para anotar.” Além disso, admite que, várias vezes, as ideias surgem durante algumas conversas entre amigas, nas quais alguém fala algo e a autora até pede permissão para anotar e depois adicionar em um livro.
Ao ser questionada se escreve para si ou para o público, Karou pontua que realiza ambos. Para ela, a ideia surge de forma muito íntima e de como ela está lidando com a soma de emoções no processo. Após digerir esse cenário, ela conta que começa a achar formas de transmitir isso para o público. Ao escrever para si, Karou compartilha que não coloca descrição de nenhum personagem ou cenário uma vez que a história está bem construída em sua mente. Após esse processo, a autora volta a ler e transcreve para o público. Segundo ela, “Primeiro escrevo para mim já que o motivo de querer escrever algo costuma vir de alguma indignação que se torna uma ideia. Depois escrevo para o público para que ele participe dessa indignação e se divirta comigo.”
Quando perguntada sobre o que mudaria no mercado literário, com muito humor, a autora faz o gesto de um pergaminho e diz: TUDO. Em primeiro lugar, a forma que o mercado consome literatura nacional — e supervaloriza as obras estrangeiras. Com muito orgulho da literatura nacional, ela conta que estava lendo “Primeiro Eu Tive Que Morrer” — livro que se passa em Jericoacoara — na época em que a entrevista ocorreu. Em seguida, mudaria a perspectiva racista que as pessoas têm sobre autores pretos e/ou livros que tenham protagonistas pretos. Outro fator que alteraria é o valor das páginas lidas e, em consequência, o pagamento dos autores. “Mudaria isso para que fosse mais fácil e alcançável viver da própria arte”, ela pontua.
Outro fator seria fazer com que autores se interessem mais por estudar escrita. Para ela, “Tem muita história que a ideia é legal mas, que na hora de executar, o leitor se pergunta: o que aconteceu aqui?”. Para ela, se todo escritor estudasse um pouquinho ou, até mesmo, o básico sobre escrita, já ajudaria bastante. Continuando a falar do mercado editorial, também foi discutido sobre a problemática de autores pretos só receberem visibilidade no mês de novembro — por conta da Consciência Negra. Dessa forma, Karou compartilha o novo posicionamento do mercado. “Agora eles têm feito o contrário. Por serem tão criticados pelas ações de novembro, eles não fazem mais nada e ninguém acaba sendo contratado. Eles carregam a culpa de não terem feito nada ao longo do ano.”
Com humor, Karou afirma que, por ser virginiana, é muito chata e crítica. Dessa forma, ela leu muitas histórias da plataforma Wattpad, percebia alguns erros e gostaria de ajudar — mesmo não tendo tanto conhecimento sobre escrita criativa. Com isso, a atual pós-graduanda em escrita criativa passou a se interessar por essa área e ajudar amigas escritoras. Com um sorriso nos lábios, ela conta que a Bienal do Livro do Rio de Janeiro foi a sua primeira ida ao evento. A autora foi convidada pelo Kindle para falar sobre escrita criativa e sua trajetória como escritora. Compartilha que conheceu muitas pessoas que já acompanhava e eram/são referências para ela. Segundo a autora,“a Bienal foi um sonho”. Ela se sente muito grata por ter acessado esse espaço e ter conhecido seus leitores — e ouvido que seus livros são inspiração para novos talentos. Ah! E ela esteve presente em todos os dias da Bienal da Bahia. EU OUVI UM CORRESPONDENTE KAROU DIRETAMENTE DA BIENAL?
Sobre seu maior sonho de carreira, a autora confessa ser “publicar com frequência”. Para ela, atualmente seu trabalho com revisão, escrita criativa e os demais cursos ainda têm sido a sua prioridade. Por ser uma cinéfila nata, Karou compartilha que gostaria de adaptar todas as suas obras para o audiovisual. Para ela, “Entre Caixas” seria uma série produzida pela MAX; “Onde as estrelas não brilham” seria uma minissérie por ser mais curtinha e de ficção científica; já “Looping” seria um filme de 1 hora e 30 min por abordar o Natal. TUDO PARA MIM! Muito sonhadora, ela já tem decidido a escolha de casting, produção e roteiro da obra.
Ao se descrever em 3 palavras, Karou pontua que é: dramática, acolhedora — por ter a capacidade de acolher as suas dores e a de outros — e romântica. Sobre o que esperar de seu próximo lançamento, Karou nos entrega uma “palhinha” do que há de vir. Sua próxima história será ambientada em Salvador, contém crimes e facções e claro um bom romance. Sobre a data, a autora pretende lançar ainda esse ano — com foco nesse semestre — e a obra já está passando por revisão. Outra história que pretende lançar — e ainda não tem data de lançamento — é uma fantasia.
Sobre arquivar ou abandonar uma história, a autora conta que pretende terminar seu primeiro livro, “Unbroken”, um romance adolescente — que a inspirou a tatuar o nome da obra. Por abordar borderline — temática pouco falada na época —, Karou decidiu focar muito tempo nos estudos sobre o assunto que acabou se desligando da história. Ela também brinca que, por ter crescido, não sabe se ainda consegue escrever para adolescentes.
Para cada história, Karou cria playlists que acompanham seu processo criativo. Para “Onde as estrelas não brilham”, ela escolheu músicas do álbum Renaissance de Beyoncé e Principia do Emicida. Para “Entre Caixas”, ela conta que adicionou músicas bem diferentes. Uma das escolhidas foi “Six inch”, da Beyonce, por ser tensa e falar sobre prostituição. Para sua história teen, “Are you Mine” e “Why do you only call me when you’re high?”, do Arctic Monkeys fazem parte da trilha sonora. Para o seu próximo lançamento, a autora cita o Baco Exu dos Blues por ter um ritmo envolvente — que casa perfeitamente com a história que será lançada e tem a ambientação em Salvador. Caso fique 2 dias sem escrever uma história, Karou admite que tem um ritual de ouvir a música “Ponta de Lança” para se reconectar com as histórias. Também gosta de raps nacionais como “Só Me Ligar”, do BK. Com muito humor ela diz que “É isso que dá ser escritora de vários gêneros. A gente vai de lá até cá”.
A autora conta que nunca sofreu hate mesmo sabendo que sua obra “Entre Caixas” tem margem para isso. Ela tem vontade de reescrever a história por ter escrito muito nova e ter abordado assuntos tão densos e que carregam problemáticas. “Se fosse escrever hoje, faria completamente diferente”, ela pontua. Caso algum dia passe por um cancelamento, com humor, ela conta que gravaria um pronunciamento, vestiria uma blusa branca e tiraria a sua maquiagem. Tratando de forma séria, ela aproveita o assunto para abordar a importância da leitura sensível. Na sua obra “Onde estrelas não brilham”, o protagonista João é um homem negro e gordo. Para escrevê-lo, ela contou com a leitura sensível, já que aborda desconfortos do personagem e não queria ser preconceituosa. Mesmo assim, ela pontua que caso algum erro tenha passado despercebido, fará o máximo de alterações já que sua intenção não é ofender alguém.
Com muita descontração, entre uma resposta e outra Karou fala um “Menina, sinto que estou batendo papo com você.” (E fique tranquila Karou, senti o mesmo). Sobre o projeto da Julietta, ela declara que se sentiu muito honrada com o convite, principalmente por saber o paradigma por trás de ser uma mulher, preta, nordestina e autora nacional. Compartilha a honra de saber que alguém está reconhecendo o seu trabalho e tem sido fonte de inspiração para jovens talentos. De forma transparente e vulnerável, Karou afirma que “Sabemos como a arte pode mudar tudo e a minha vida é a prova viva. Hoje moro em outro lugar, compro as minhas coisinhas, vivo pequenas conquistas e de forma confortável por conta do meu trabalho. Para mim, é tudo que uma mulher negra deveria ter.” Com muito orgulho do espaço que conquistou, Karou pontua que “Sempre estarei aqui para ajudar autoras e mulheres em geral a seguirem os seus sonhos.”
Caso tenha ficado curiosa pela grafia do apelido da autora, fique tranquila porque também ficamos. Com muito humor, a autora compartilha a história por trás. Ela se chama Karoline e conta que a grafia KaroU é por conta de uma amiga — do twitter — carioca que sempre a chamou dessa forma. Após 10 anos sendo amigas virtuais, elas se conheceram presencialmente na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 2023. Na saga de criar um perfil no Instagram, a escritora decidiu manter o U de Karou porque já existia outra Karol Dias. Desse modo, foi automático levar esse apelido e grafia para o mundo da escrita.
Leve, sorridente e sonhadora: impossível não desejar todo o sucesso do mundo para essa jovem escritora.
Escrito por: Maria Eduarda Rocha.
Que delicia de entrevista, me senti no bate-papo também! Agora não vejo a hora de ler alguma obra da Karou
Estamos exatamente assim! 🩷
muito bom entrevista! admiro muito!
Aaaaaaaaah! 🥺🩷
Essa menina é minha filha, muito orgulhosa dela. O amor da minha vida! Minha Lory, parabéns, vc já chegou longe e ainda vai mais longe ainda. Sempre estarei do seu lado! (Com lágrimas) Rs.
Parabéns Julietta Magazine pela entrevista.
Rose, agradecemos pelo carinho. Esperamos ver mais de vocês duas por aqui, viu?
Maravilhosa, muito boa a entrevista, a escritora principalmente.
Parabéns Carol Dias!!
Muito sucesso sempre!
Obrigada pelo carinho, Rose! Esperamos te ver mais por aqui.