O livro “A Redoma de Vidro” foi o único romance publicado por Sylvia Plath e lançado um mês antes de sua trágica morte em 1963. Em uma breve análise de seu conteúdo, “The Bell Jar” (título original em inglês), a história narra a vida de Esther, uma jovem que enfrenta profundos conflitos internos, principalmente relacionados ao seu futuro profissional, levando a protagonista a uma crise existencial que culmina em uma depressão severa.
A obra é um retrato poderoso de como as doenças mentais podem lentamente nos corroer por dentro, ao mesmo tempo em que convida o leitor a uma imersão na mente de Sylvia Plath, ou melhor, de Esther. Somos levados a entender como uma jovem, que supostamente estaria no auge de sua vida, é subjugada por suas inseguranças e medos, e até onde esses sentimentos podem levá-la.
Uma questão mais comum do que você imagina
Ao longo da obra, a metáfora da ‘Redoma de Vidro’ é usada pela autora para descrever o sentimento de angústia e sofrimento da protagonista. Em um trecho na página 252 da edição em português da editora Biblioteca Azul, ela escreve:
“Para a pessoa que vive dentro da redoma de vidro, vazia e inerte como um bebê morto, o próprio mundo é o sonho ruim.”

(Foto/reprodução: Pinterest)
Nessa frase, sentimos a profunda angústia da autora diante da sensação de estar sufocada dentro de uma cúpula de vidro. Pessoalmente, sempre me questionei por que essa redoma seria descrita como feita de vidro, e cheguei a conclusão de que a pior coisa de se estar presa é poder ver o mundo do lado de fora, então concluí que essa espécie de prisão se torna ainda mais opressiva pelo fato de você conseguir ver o mundo inalcançável do outro lado, e a maneira como ele continua existindo independente dessa angústia existencial de se estar naquela situação.
Apesar do impacto e da ousadia do livro ao tratar de temas como suicídio e depressão, assuntos que foram tabus por décadas, Sylvia Plath merece reconhecimento por retratar algo tão complexo de uma forma tão magistral. Hoje, não é raro encontrar jovens e adultos que já tenham enfrentado sua própria “redoma” visto que vivemos na era da tecnologia e da informação instantânea; se antes as máquinas eram projetadas para substituir o homem, hoje somos instruídos a superá-las. Nesse cenário competitivo e exigente, somos vulneráveis às armadilhas da comparação, da insuficiência e da baixa autoestima, sentimentos que constroem nossas próprias redomas.

(Foto: reprodução/internet)
A linha tênue entre o extraordinário e o trágico
“Mas eu não tinha certeza. Eu não tinha certeza nenhuma. Como eu poderia saber que um dia – na faculdade, na Europa, em algum lugar, em qualquer lugar – a redoma de vidro, com suas distorções sufocantes, não iria descer de novo?”
(Página 255 da edição em português da editora Biblioteca Azul)
Ao decorrer da leitura, é inevitável que o leitor veja o romance como uma espécie de autobiografia de Sylvia Plath, e passe a refletir sobre os fatores que a levaram a tirar a própria vida um mês após sua publicação. Sylvia transmitiu, por meio de sua protagonista, seus maiores receios, abordando questões que vão desde a maternidade até o existencialismo.

(Foto/reprodução da edição ilustrada: internet)
Embora a personagem, Esther, tenha encontrado uma sensação de liberdade à medida que a terapia começou a mostrar resultados, o medo de ser novamente aprisionada na ‘redoma de vidro’ nunca deixou de assombrá-la. Esse temor constante é um reflexo do próprio estado emocional de Sylvia Plath, que, apesar de ter criado uma personagem que vislumbrava a possibilidade de escapar de seus demônios, não conseguiu encontrar esse mesmo alívio para si mesma.
No fim, a luta interna que Sylvia narra através de Esther é a mesma que a consumiu, levando-a a um trágico desfecho. Sua genialidade, entretanto, reside na capacidade de transformar essa dor em uma obra literária profundamente tocante, deixando um legado que ecoa a complexidade de uma mulher extraordinária e incompreendida, cuja batalha com a própria mente a levou a um destino doloroso, mas que, paradoxalmente, imortalizou sua voz na literatura mundial.
Escrito por: Nathalia Orlando.
Revisado por: Bruna Brandão.