Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes torna-se grande acerto para a franquia

Hoje finalmente falaremos sobre ela, uma das franquias mais queridas do gênero de “distopia teen” (que inclusive faz muita falta no cinema atual), pode entrar “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes“.

Há um mês atrás, os milhares de fãs da saga escrita por Suzanne Collins puderam ir ao cinema e desbravar ainda mais do vasto universo de Panem. Este novo longa é uma adaptação do livro de mesmo nome e conta com a direção de Francis Lawrence, que esteve presente na trajetória audiovisual de Jogos Vorazes desde “Em Chamas”, estreado em 2013. (Importante ressaltar que esta análise será baseada puramente pelo filme e pode conter spoilers pelo caminho).

(Foto: Reprodução/Divulgação/ParisFilmes)

Bom, “Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” acontece 64 antes da edição dos jogos da qual Katniss participa. Desta forma, o público é levado para o passado a fim de conhecer melhor a história do emblemático Presidente Snow, que neste filme é apenas Coriolanus Snow – um jovem que cresceu na Capital e vive consequências da grande catástrofe/guerra que atingiu o país. A trama acompanha a saga de Coriolanus como estudante na Capital, local onde almeja um reconhecimento e oportunidade para melhorar de vida. Para seu tão desejado momento de glória, Snow e seus colegas de turma são desafiados a se tornarem mentores dos tributos na 10° edição dos Jogos Vorazes.

Neste momento, ele conhece uma pessoa crucial para sua trajetória, a tributo rebelde do distrito 12, Lucy Gray Baird. Lucy é uma figura um tanto enigmática, mas com um potencial cativante e poderoso – potencial este que Snow percebe rapidamente e declara-se disponível para ajudá-la a ganhar os jogos custe o que custar. Ao mesmo tempo, ele acaba se envolvendo com Lucy e trapaceia para que a menina vença a competição. No entanto, o plano é descoberto e Snow é mandado como pacificador para trabalhar nos distritos.

Ao longo do filme então, vemos as nuances da índole de Coriolanus para conseguir aquilo que quer, mesmo que isto o custasse passar por cima de inúmeras pessoas, algumas sendo até seus aliados. Mesmo que em momentos seja possível ver o jovem se importando aqueles que o cercam, principalmente sua família e até com seu amigo Sejanus ou a própria Lucy, sua ganância e impiedade construída vai o afastando do possível momento de “humanização”, até se tornar o vilão que conhecemos no futuro.

Voltando um pouco para o andamento dos Jogos em si, este é outro ponto crucial para entendermos a ascensão do evento e o que ele significa para cada grupo social em Panem. Nesta versão do filme, a competição é muito mais “raiz” e brutal. “Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” detalha o momento em que os responsáveis pelos Jogos compreendem o que funciona e o que falha no rendimento dos tributos como, por exemplo, a disponibilização de patrocinadores para aqueles que o povo achassem “fortes” ou “causassem mais na mídia”. É a partir daí que é construído os Jogos que conhecemos na história de Katniss – um verdadeiro mecanismo de espetacularização midiática do horror (até porque estamos falando de um massacre anual), que adquire uma fonte de glamourização e “entretenimento” para os habitantes da Capital. 

A nova adaptação conta com um elenco excepcional. Começando por Tom Blyth, que brilha em cena ao captar todos os sentimentos do Snow com autenticidade e confiança. Pelo olhar dele, conseguimos compreender os momentos da “virada de chave” do Snow em relação a sua postura – seja ela sobre os Jogos, o sistema da Capital ou em relação à sua confiança em Lucy. Rachel Zegler também chama atenção principalmente em suas cenas de canto, mostrando sua potência vocal única e impressionante. Os dois constroem uma dinâmica interessante e prazerosa de se assistir, mesmo sabendo o seu final.

(Foto: Reprodução/ParisFilmes)

Adjacente aos personagens principais da trama, faço ressalvas para a atuação da icônica Viola Davis, que incorpora a cruel Dr. Volumnia Gaul muitíssimo bem e do Peter Dinklage como o reitor Casca Highbottom que, apesar de não ter um tempo de tela tão grandioso, conseguiu se destacar. Além disso, preciso falar da Huter Schafer como Tigris e o quanto acertaram na escalação dela, uma vez que (novamente, mesmo sem aparecer tantas vezes), ela conseguiu transparecer a essência leve e pura da personagem.

Além da atuação, a direção de arte e figuração foram outros dois aspectos que deram muito certo ao longo dos mais de 2 horas e meia de filme. O conceito das salas de aula do instituição, o laboratório da Dr. Gaul com as criaturas horrendas criadas como obstáculos para os tributos na arena e a própria arena de guerra é algo muito diferente do que estávamos acostumados nos Jogos da Katniss, Peta e outros. Porém, ainda é perceptível a sensação de um universo “familiar”. Em relação a cenografia, vale destacar o próprio momento dos Jogos, uma vez que os posicionamentos e planos de câmera remetem a sensação de estarmos na arena junto com o resto do grupo – como se tivéssemos 100% de fato imersos naquela realidade.

(Foto: Reprodução/Youtube/RottenTomatoes)

Outro grande elemento neste longa é a música. Se em Jogos Vorazes tivemos artistas de peso como Taylor Swift, Lorde e Coldplay na composição da trilha sonora, agora em “Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” não poderia ser diferente. A nova adaptação conta com uma canção exclusiva da queridinha da geração Z, Olivia Rodrigo. “Can’t Catch Me Now” é simplesmente a cara da saga em todos os seus aspectos (melodia, ritmo, composição, etc), além captar todo o sentimento expresso por Lucy em sua trajetória. E falando em Lucy, durante o filme também somos apresentados a músicas inéditas como “Nothing You Can’t Take From Me”, “Lucy Gray“, “Pure As the Driven Snow“… e claro, a tão esperada revisitação da canção “The Hanging Tree”, cantanda também por Katniss no penúltimo filme da franquia: “A Esperança – parte 1“.

Por fim, o longa termina com um grande questionamento: o que realmente aconteceu com Lucy Gray? A verdade é que Lucy sempre se mostrou uma alma livre, que vagava por muitos lugares e isto no final acabou levando Snow à desconfiança e insânia, especialmente pelo seu desejo de voltar para a Capital. A cena na qual ele enlouquece ouvindo a voz de Lucy por meio dos tordos é bastante significativa, principalmente quando lembramos que Katniss lá na frente volta a tornar o pássaro como símbolo da revolução, da qual Snow sempre teve tanto medo de enfrentar. Com isso, torna-se interessante teorizar o destino e possível conexão das personagens e arrisco a dizer que este era exatamente o propósito de Collins. 

Diante de toda a análise apresentada, podemos dizer que “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” já é um sucesso e merece bastante reconhecimento, assim como o resto do universo desta franquia tão singular.

Definitivamente nota 10/10.

Escrito por: Letícia Guedes.

Revisão por: Milly Ricardo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *