Caras Julies, 2025 começou mais que animado para as noveleiras de plantão! Em janeiro, a telenovela das seis da Rede Globo “Garota do Momento” ganhou destaque internacional na revista norte-americana “Variety”. Intitulando a obra como “She’s the One”, a jornalista responsável pela escrita reforça a importância da abordagem de temas como machismo e racismo dentro da obra, especialmente construída em um contexto de décadas passadas. Sendo protagonizada pela atriz Duda Santos, “Garota do Momento” é o novo fenômeno da TV brasileira.
Como um pensamento quase que instantâneo, a matéria realizada pelo veículo internacional me fez relembrar a celebração de um marco ainda mais dimensional para a dramaturgia. Pela primeira vez na história, a TV Globo apresenta três novelas recorrentes de protagonismo negro, mais especialmente com um núcleo feminino!
Além de Duda, temos Jéssica Ellen arrasando como “Madalena”, em “Volta por Cima”, exibida no horário das sete; e Gabz, que interpreta a incomparável “Viola” na trama de “Mania de Você“, apresentada em horário nobre da emissora.
A conquista foi celebrada especialmente em novembro do ano passado, mês marcado pelo Dia da Consciência Negra. Na época, todas as três atrizes esboçaram sua trajetória com muita emoção e orgulho nas redes sociais. “É mais um degrau de uma longa caminhada, que exige muito cuidado e coragem. É um momento transformador. Quero inspirar outras meninas pretas. Gabz e Jéssica são muito talentosas e estão fazendo o trabalho com todo o coração. Como é a primeira vez das três como protagonista, é muito importante cada uma apoiando a outra”, destacou Duda Santos em uma entrevista da época.
As primeiras protagonistas negras da televisão
Para começarmos essa linha do tempo, como não falar de Iolanda Braga e Ruth de Souza! As atrizes estamparam, respectivamente, as duas primeiras novelas com protagonismo negro feminino da emissora, “A Cor da Sua Pele” (1965) e “A Cabana do Pai Tomás” (1969).
Importante ressaltar que estamos retratando uma época na qual a onda do “blackface” ainda era normalizada pela população, o que apenas reforçava a criação de estereótipos errôneos sobre a população negra. E mesmo assim, Iolanda e Ruth brilharam com suas interpretações.
Aproximadamente 27 anos depois, tivemos outro marco: a novela “Xica da Silva” (1996), produzida pela TV Manchete e protagonizada por ninguém mais, ninguém menos do que Taís Araújo. Com apenas 17 anos, a atriz deu a vida a Chica — uma figura histórica do período Brasil Colônia. A narrativa acompanha a história da escrava, que se tornou uma das mulheres mais ricas da Colônia em Minas Gerais. Ah! E não podemos esquecer que em 1976, Chica também foi representada no cinema por outra grande ícone brasileira — a atriz Zezé Motta.
Inspirações para muitos talentos até hoje, Taís Araújo chegou na TV Globo em 2004 e desde então alavancou uma personagem mais icônica do que a outra. Em 2004, fez sua grande estreia dando vida à “Preta”, em “Da Cor do Pecado”. Já em 2009, enfrentou um de seus maiores desafios como atriz ao se tornar a primeira “Helena” negra de Manoel Carlos, na obra intitulada “Viver a Vida”.
Por último, temos outro destaque importantíssimo: Camila Pitanga! A atriz que, em 2007, roubou a cena na trama de “Paraíso Tropical”, mais especialmente com sua personagem “Bebel”. E olha que ela nem era a principal ainda! Porém, alguns anos depois, Camila atingiu o estrelato ao protagonizar as novelas “Cama de Gato” (2010) e “Lado a Lado” (2012), que arrancou elogios de muitos telespectadores.
O reforço dessa representação no cenário atual
De uma coisa eu tenho certeza: as novelas em si já são um produto de patrimônio cultural no país. É o lugar onde enxergamos fragmentos de retratos da sociedade; onde movimentos e discussões sociais são fomentadas, e até mesmo comportamentos são moldados.
Sendo assim, é impossível não admirar o trabalho excepcional feito por Duda, Jéssica e Gabz nos dias atuais. Para além delas, ressalvo nomes de peso nos últimos anos como Sheron Menezzes brilhando como a protagonista “Sol”, no sucesso “Vai Na Fé” (2023); e Bárbara Reis que teve seu trinfo garantido como “Aline”, em “Terra e Paixão” (2023).
Com isso, a representatividade negra não se torna apenas uma pauta a ser levada em consideração dentro das produções, mas sim uma necessidade a ser trabalhada. É sobre expandir os horizontes da identificação e visibilidade de milhares de jovens que merecem ter suas histórias contadas.
O que o futuro nos espera ainda diz sobre reparações e mudanças. Mas, muito mais que isso, é um avanço para termos mais narrativas de mulheres negras incríveis para se acompanhar, seja nas telinhas e telonas, seja no Brasil ou mundo afora.
Escrito por: Letícia Guedes.