Gêneros, número de páginas e exemplares não definem um leitor. Tampouco se aquele autor é bom ou ruim. Mas como um todo, esses detalhes influenciam diretamente nos gostos particulares de cada consumidor literário. O hype, termo utilizado para indicar algo que está em evidência positiva e dentro de uma aprovação e grande consumo em massa, ganhou certa visibilidade e espaço entre o vocabulário de criadores e não criadores de conteúdo.
Considerando que o hype não é, visto que seu efeito se dá ao modismo e a novidade, apenas um sinônimo indicador da intrínseca qualidade de algo, a Julietta separou uma lista de autores e obras de sucesso das últimas duas décadas. Hoje, trouxemos uma discussão importante sobre o que se está sendo consumido — não apenas literariamente, mas também, como um todo.
Quem foram os autores que brilharam entre 1990 e 2010?
Se você nasceu entre 2000 e 2010, provavelmente conhece a série “Diários de um Vampiro”. Estrelada por Paul Wesley, Nina Dobrev e Ian Somehalder, a série televisiva teve oito temporadas e foi baseada na série literária de (quase) mesmo nome (“Diários do Vampiro”), escrita por L. J. Smith, a americana que abre nossa lista. Nascida em 1965, Lisa Jane Smith — L. J. Smith — é autora de livros jovens adultos com temáticas fantasiosas, que incluem horror, ficção científica e romance.
Apesar de “The Vampire Diaries” ser sua obra mais conhecida, “O Círculo Secreto”, que gira em torno de bruxas, também ganhou uma adaptação — infelizmente, cancelada após a baixa audiência da primeira temporada. Aparentemente, o último romance escrito pela autora foi “Diários do Vampiro: O Retorno: Meia-Noite” (2011). Seus livros começaram a ser publicados em 1987 e seus títulos foram traduzidos pela Galera Record.
O mais interessante é a divergência entre o original escrito por L. J. Smith e a série produzida por Julie Plec, e uma das maiores diferenças são as características físicas e de personalidade da protagonista feminina Elena Gilbert. A série literária acumula vários fãs, mas a televisiva, por ter estourado mundialmente, acabou sendo bem mais valorizada pelo público. Infelizmente, L. J. Smith acabou sendo demitida pela sua editora, a Alloy Entertainment e, consequentemente, foi substituída por uma autora fantasma que continuou a escrita de sua saga.
Outra autora que marcou o coração das meninas que nesta época eram adolescentes foi Sara Shepard, responsável pela criação de “Pretty Little Liars”. Com mais de vinte livros no mesmo universo, já teve algumas adaptações de suas obras — algumas bem sucedidas, como a série de mesmo nome, e outras, nem tanto, como “The Perfectionists”, que não alcançou o sucesso esperado.
Assim como L. J. Smith e inúmeros outros autores, as adaptações baseadas em seus livros não foram muito fiéis, mas ao menos “Pretty Little Liars” manteve a mistura original de “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado” e “Gossip Girl”. A última, por sinal, também baseada numa série de dez livros, de Cecily von Ziegesar, que escreveu se inspirando, exageradamente, na sua própria adolescência e juventude. Quem diria que Serena Van der Woodsen e Blair Waldorf seriam inspiradas nas amigas pessoais de alguém?
Já falando sobre fantasia urbana, existem dois universos que colidem por suas semelhanças. Com pouco menos de quatro meses de diferença, “House of Night”, de P. C. Cast e Kristin Cast e “Academia de Vampiros”, de Richelle Mead, têm premissas parecidas com vampiros numa escola para seu próprio grupo. Ambas de 2007, a segunda, ainda que tenha sido lançada depois, conquistou bem mais o coração do público — e duas adaptações sem muito sucesso — do que a primeira.
E como falamos de vampiros, é claro que a criadora de Edward Cullen não poderia ficar de fora! Stephenie Meyer lançou em 2005 o primeiro livro da saga “Twilight”, traduzida para o português como “Crepúsculo”, e que gerou uma das poucas adaptações aclamadas pelo público — em especial, devido ao fato de acharem a protagonista Bella “sem sal” na duas versões. Influenciando toda uma era, Stephanie também é autora de “A Hospedeira”, que mostra sua versatilidade quando se trata da criação de mundos.
Mas e quando se trata de anjos? Lauren Kate conquistou os leitores em 2009 com sua série romântica e pitoresca “Fallen”. Apesar dos elementos religiosos usados serem acusados de blasfêmia e heresia quando comparados com a fé cristã, o romance apresenta Lucy, Daniel e uma história com dor, lágrimas e suspiros apaixonantes — tanto de suas personagens quanto de seus leitores.
Da mesma forma, Cassandra Clare surge em 2007 com seu primeiro livro do Mundo das Sombras: “Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos”, que anos mais tarde originou o filme de mesmo nome e a série “Shadowhunters”. As aventuras de Clary, Jace, Simon e seus amigos são repletas de ação e reviravolta. Becca Fitzpatrick, por sua vez, parece ter começado a escrever seu sucesso “Hush, Hush” — protagonizado por Nora e Patch — depois do marido a inscrever em uma aula de escrita em seu décimo quarto aniversário.
E se você já ouviu falar de Jennifer L. Armentrout, talvez não saiba que ela também é autora da saga Lux, e que, por mais que tenha sido lançado em 2011, marcou toda uma geração com a fascinante narrativa de Katy e Daemon. A obra passa a ideia de que alienígenas são os novos vampiros — não sabemos se isso é verdade, mas na época fez um baita sucesso e o modelo da capa é um gato!
Para abrir o nicho de ficção científica e distopia, não poderíamos falar de outra pessoa senão ela, a criadora da carnificina literária mais envolvente que conhecemos: Suzanne Collins, autora de “Jogos Vorazes”, que conquistou o mundo com a jornada de Katniss Everdeen contra um sistema social cruel e perverso. “Maze Runner”, de James Dashner, e “Divergente” (apesar de ser de 2011) de Veronica Roth também são sucessos que precisam, de qualquer maneira, entrar nessa lista.
Obviamente, os causadores de lágrimas profissionais John Green e Nicholas Sparks se encontram por aqui. Conhecidos pelos romances que marcaram uma geração de adolescentes, os dois já tiveram vários de seus livros adaptados para o cinema. “A Culpa é das Estrelas” e “A Última Música” são, respectivamente, alguns de seus sucessos mais conhecidos.
Tudo isso sem contar com a série “Beautiful Creatures: Dezesseis Luas”, de Margaret Stohl e “Belo Desastre”, de Jamie McGuire. J. K. Rowling, então, não precisa nem de menções! Para encerrar a lista de internacionais, Colleen Houck, em 2011, lançou seu sucesso nostálgico “A Maldição do Tigre”. Com um original cheio de ação, romance e cenas de tirar o fôlego, temos uma órfã e um príncipe aprisionado que irão, sem sombra de dúvidas, conquistar seu coração!
Felizmente, nossa lista de nacionais se abre! “Poderosa”, do falecido Sérgio Klein, é diferente dos livros nacionais que se costuma ler. Joana Dalva descobre que tem poderes especiais através de suas redações e precisa aprender a lidar com as consequências deles. “Fazendo meu filme” e “Minha Vida Fora de Série” consagraram Paula Pimenta como uma das escritoras infanto-juvenis mais aclamadas na internet. O mesmo com Thalita Rebouças, que ganhou visibilidade, apesar do currículo impecável, com a série “Fala Sério!”, que compartilha o mesmo nome da coluna da última página da revista Atrevida, a qual Thalita assinou por anos.
Bruna Vieira, autora do blog “Depois dos Quinze” e do livro “De Volta aos Quinze” e Babi Dewet, autora de “Sábado a Noite” — uma fanfic do McFLy que fez sucesso, virou livro e foi relançado anos depois na Bienal do Rio 2023 — são parte importante das autoras que precisam ser mencionadas por aqui. E o mais legal de tudo: em “Um Ano Inesquecícel”, essas quatro lendas se juntam para quatro contos incríveis que estão disponíveis em adaptações cinematográficas na Amazon Prime Video!
Por que esses livros fizeram tanto sucesso?
Apesar de seu sucesso ser relativo, é interessante analisar a época em que foram lançados. “Jogos Vorazes”, por exemplo, traz críticas sociais importantes, mascaradas de uma distopia envolvente. Divergindo descaradamente, “Pretty Little Liars” e “Gossip Girl” apresentam personagens com poucos escrúpulos e que facilmente ofenderiam minorias. Sejamos sinceros, com a onda do “cancelamento” em massa, muitos fingem que se preocupam quando, na verdade, estão pouco se doendo por todas as falas consideradas pejorativas e preconceituosas nas obras que nos apresentam valor nostálgico.
Podendo ser por uma época repleta de “normalização” exacerbada, de padrões cruéis ou algo diferente, nos agarramos a ideia de que todos os livros mencionados acima ganharam os corações pelo mundo devido a sua originalidade. Ao parar para analisar meticulosamente, ao invés de condenar uma personagem escrita numa época com problemas específicos, é perceptível que o certo é entender como aquela personagem, na verdade, nos alertou para como estávamos vivendo naquele tempo e mudar, antes de tudo, nossas ações e atitudes.
E o que esperar do universo literário atual?
Adentrando no universo literário contemporâneo, é impossível não começar destacando o brilhantismo de Taylor Jenkins Reid, uma autora com uma voz única e que domina muitos exemplos de livros Hypados atuais. Dois exemplos notáveis que marcam sua presença no cenário são “Daisy Jones & The Six” e “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”. Em “Daisy Jones & The Six”, Jenkins Reid nos conduz por uma experiência que apresentar a história da fictícia banda dos anos 70, explorando o mundo da música, com seus conflitos, paixões e os bastidores da fama.
Já em “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”, a autora nos transporta para o glamouroso universo de Hollywood, desvendando a vida intrigante e repleta de segredos de uma atriz. Com sua habilidade única de dar vida a personagens complexos e explorar temas profundos, Taylor Jenkins Reid solidifica seu lugar como uma contadora de histórias, capturando a atenção de leitores por onde passa.
Outra autora que precisamos citar é a Sally Rooney! Ela tem conquistado leitores com suas narrativas que exploram a complexidade dos relacionamentos humanos. Um trabalho de grande destaque seu é “Normal People”, que revela a maestria da autora em trazer a essência das interações interpessoais. Na obra, Rooney tece uma história envolvente sobre a interconexão de dois protagonistas ao longo do tempo. Connell e Marianne, a autora aborda situações emocionais com uma sensibilidade única, mergulhando nas complexidades da juventude, amor e autodescoberta.
E já que estamos falando em Hype contemporâneo, como não citar Colleen Hoover? Começando por um suspense, “Verity” surge como uma narrativa quase arrebatadora, misturando o mistério e romance de forma envolvente. A trama, não é famosa atoa, a autora consegue colocar um suspense enquanto mergulha nas complexidades da natureza humana. Paralelamente, “É Assim que Acaba” apresenta outra faceta brilhante da escritora. Nessa obra expansiva, Colleen Hoover desafia as convenções narrativas, oferecendo uma exploração dos desafios emocionais e trazendo uma realidade dolorosa dentro do livro. confrontando a verdade crua e instigante.
Imergindo no fascinante e amado reino da fantasia, dois nomes se destacam dentro dos mundos imaginários… Começando por Leigh Bardugo, com sua habilidade ímpar de tecer narrativas cativantes, tem conquistado leitores apaixonados por suas obras. Em sua aclamada trilogia “Six of Crows”, Bardugo nos transporta para o universo sombrio de Ketterdam, onde uma equipe improvável embarca em uma ousada missão. A maestria da autora reside na criação de personagens únicos e envolventes.
Já a série “Shadow and Bone”, expande o horizonte desse universo, mergulhando-nos em um reino onde sombras e luz se entrelaçam de maneira mágica. A protagonista Alina Starkov é apresentada a um mundo de poderes extraordinários e perigos iminentes, comprovando (mais uma vez) a habilidade de Bardugo em construir mundos ricos.
Ainda no mundo da fantasia, outra mestra é VE Schwab, os mundos complexos e inovadores têm sido um farol para os leitores em busca de experiências literárias que te levem para dentro do livro. “A Darker Shade of Magic” é uma prova disso. Schwab entrelaça elementos de aventura, intriga e magia, criando um universo que captura a imaginação e desafia as expectativas dos leitores.
Ainda nesse cenário, Holly Black surge como uma maga das palavras, especialmente aclamada por sua obra “O Príncipe Cruel”. Este livro, que marca o início da série “O Povo do Ar”, é uma viagem envolvente pelo reino encantado das fadas. Com sua narrativa excelente, Black conduz os leitores através das intrigas e da política cruel que permeiam a vida de Jude Duarte, uma humana criada em um reino feérico. “O Príncipe Cruel” é um mergulho nas complexidades, onde segredos sombrios, traições e a luta por poder dão forma a um enredo hipnotizante. A habilidade única de Holly Black em entrelaçar elementos do folclore das fadas com uma narrativa moderna nos explica o motivo pelo qual essa série de livros virou um um fenômeno hypado.
Dando boas vidas ao universo literário nacional (que nós amamos por aqui), citamos a escritora Carina Rissi, que é uma talentosa contadora de história! Destacam-se entre suas criações os aclamados “Perdida” e “Procura-se Um Marido”, que não apenas se tornaram sucessos literários, mas também fizeram de Rissi uma figura amada entre os leitores nacionais.
Em “Perdida”, Rissi trás uma trama que transcende o tempo, levando os leitores para uma jornada mágica. A protagonista, perdida entre séculos, nos guia por uma narrativa repleta de humor, romance e descobertas, explorando os contrastes entre o passado e o presente de maneira encantadora. Já em “Procura-se Um Marido”, a autora nos presenteia com outra dose irresistível de romantismo, criando personagens que saltam das páginas com autenticidade e paixão! A autora consegue explorar seus protagonistas com excelência, o que a fez conquistar um lugar especial no cenário de Hypes atuais.
Seguindo no universo literário brasileiro, Carla Madeira destaca-se como uma talentosa escritora cujas obras capturaram a atenção e os corações dos leitores. Um de seus livros mais notáveis, “Tudo é Rio”, tornou-se uma sensação literária em 2023, invadindo as redes sociais, especialmente Instagram e TikTok, onde leitores entusiastas compartilhavam suas experiências e reflexões sobre a obra. Em um marco significativo, Carla alcançou a posição de segunda escritora mais lida do Brasil em 2021, refletindo o impacto duradouro de suas histórias no cenário literário nacional.
Assim, ao explorar os distintos universos literários, desde as sagas internacionais que marcaram gerações até as obras nacionais que tem conquistado o coração do público, percebemos um fenômeno contínuo: o apaixonante mundo dos livros persiste, adaptando-se às nuances do tempo. Autores antigos até os novos, seguem conectando leitores por meio de tramas envolventes, personagens inesquecíveis e a magia única da escrita.
O que esses autores compartilham é a habilidade de ir além das páginas e criar laços emocionais com os leitores. Nesse contexto, o hype literário está cada vez mais evidente, segue prosperando, moldando-se de acordo com os anseios e interesses de cada época, conectando gerações, partes do mundo e diferentes temas e hypes por apenas uma razão: a paixão pela leitura.
Escrito por: Ana Clara Reis e Isabella Lugon.
Repost: 28/01/2024.