E como eles podem nos deixar realizadas
Eu nunca fui boa nos esportes — muito menos apaixonada por eles. Eu não tinha um time de futebol definido; não por gosto. E não entendo a lógica em correr atrás de uma bola no gramado verde e úmido, ficando toda suada no final. Mas o fato deu não gostar de esportes, não significa que apoie a ausência deles no cotidiano. Pelo contrário.
Como uma garota que cresceu assistindo Disney Channel e “Vale a pena ver de novo” na Sessão da Tarde da Globo, eu criei algumas paixões ao longo da infância e adolescência. Sendo sincera, gostaria que as garotas de hoje em dia pudessem ter acesso a essas paixões, mesmo que eu não tenha tido.
Como jornalista, comunicadora social e brasileira, reconheço que há uma falta de investimento nos esportes e suas respectivas modalidades. Por mais que sejamos conhecidos como “o país do samba e do futebol”, não é dessa forma que funciona no dia a dia.
Eu sempre tive um planejamento de carreira: me formar na escola — o que parecia muito distante para uma garota de seis, sete anos na época —, entrar na faculdade, casar entre os vinte e oito e os 30 anos, comprar minha casa, ter o primeiro e o segundo filho entre meus trinta e dois e trinta e seis anos. Nessa idade, eu achava que seria médica. Um grande engano, porque não compreendo muito de biologia, física, química e todas as outras coisas que vemos na medicina. Mas, antes disso, eu quis ser veterinária também — por causa da Barbie veterinária. E antes de desejar ser veterinária, eu tinha me apaixonado por uma profissão “impossível”: ser uma patinadora (de gelo) profissional! Tudo porque assisti “Sonhos no Gelo” (2005), estrelado por Michelle Trachtenberg, na Sessão da Tarde. Eu também ganhei uma Barbie patinadora, que vinha com um controle remoto e fazia vários passos — era incrível. Segundo uma amiguinha da escola, mesmo que não me recorde deste fato em específico, eu ficava repetindo as mesmas manobras no meu quarto. Eu fui uma criança feliz.
O sonho da patinação no gelo. (Foto: Reprodução/Pinterest)
Sou uma mulher gorda, o que me afasta ainda mais dessa realidade. Comecei a lutar contra o sobrepeso ainda na infância, depois de menstruar. Eu menstruei cedo. Eu nunca pisei em um par de patins, quanto mais no gelo ou ao menos na neve. Nem sei se me sentiria bem na neve — eu sofro com sinusite, qualquer “ah” do frio e eu começo a me sentir mal. Meu nariz fica ressecado, ardendo, e sinto que estão me torturando. É curioso, não é? Por alguma razão, você ainda leu até aqui.
E é por isso que este é o último parágrafo de introdução. Querida Julie Girl, acredito que, assim como eu, você tenha alguns sonhos e vontades, talvez considerados “bobos”, que no fundo, bem lá no fundo, ainda sonha em realizá-los um dia. E talvez, um dos itens abaixo seja um deles. Antes de começarmos, espero que sinta-se abraçada. Você não está sozinha. Então, vamos lá?
- Ballet.
(Foto: Reprodução/Pinterest)
Eu dancei dos três aos cinco anos. Depois, dos sete aos nove, dez; algo assim. Eu nasci em 2004, pode fazer as contas. E, caso não queira se dar ao trabalho, tudo bem. Eu tenho vinte anos. E nasci nos anos 2000. Sou apaixonada pela Barbie, e “Barbie em: O Quebra-Nozes” e “Barbie em: As 12 Princesas Bailarinas” moldaram parte da minha personalidade. Mas não é por isso que eu fiz ballet.
Enquanto os meninos são ensinados a jogarem futebol, somos ensinadas a sermos delicadas. Eu não acredito que jogar futebol ou se aventurar numa luta te faça menos feminina, ou que um homem perca sua masculinidade ao dançar de meia-calça. Isso não tem nada a ver. São exercícios, esportes, um estilo de vida saudável. E temos o direito de nos aventurarmos. Mas serei uma mentirosa se não confessar: sou grata por terem me colocado do ballet, ainda mais porque eu dançava com minhas amiguinhas. Em um pequeno desabafo, eu fiquei chateada quando fomos dançar “O Quebra-Nozes” e eu não fui escolhida para ser a Clara — e eu me chamo Clara.
(Foto: Reprodução/Pinterest)
Uma das coisas as quais eu mais sinto falta, é das roupas bonitas. Das apresentações em cima de um palco. E fico um pouco triste por não ter dado continuidade até chegar às sapatilhas de ponta. Mas ainda me lembro da minha última apresentação: uma mistura de ballet e jazz contemporâneo, em que ficaram surpresos por uma garota gorda ter tanta flexibilidade e dançar tão bem.
Hoje em dia, sinto falta da sensação de dançar. E tive a oportunidade de observar minha mãe, com sessenta anos, começar o ballet. Isso me fez perceber que não importa sua idade, seu peso ou qualquer outra coisa. Se você sonha em dançar, mesmo que por diversão, não pela profissão, nunca é tarde demais para começar. É uma arte linda, e se seu objetivo é se sentir bem, feliz, mais feminina ou realizada consigo mesma, está na hora de correr atrás do seu sonho.
- Tênis
(Foto: Reprodução/Pinterest)
Um dos únicos esportes que eu gostei de praticar — e olha que foi só uma aula experimental [risinho da Debby Ryan em “Rebelde da Rádio”]. Infelizmente, custa caro mantê-lo na rotina. Mas é surpreendente como bater numa bolinha com uma raquete pode ser satisfatório.
Tenho comigo que o fato de o vermos na TV como um esporte de clube, aqueles em que as famílias poderosas e ricas frequentam aos fins de semana no verão e até mesmo no
inverno, gera um desejo ainda maior. Mas é verdadeiramente divertido — além de te ajudar a gastar umas boas calorias.
E eu nem mencionei os conjuntos lindinhos que podemos usar para jogar. Na vida real, não acredito que ninguém usaria uma saia sem shorts por baixo, mas nada que a mistura dos dois não resolva.
- Golfe
(Foto: Reprodução/Pinterest)
Apesar de não considerar isso um esporte, pessoalmente falando, preciso admitir que está entre um dos meus desejos pessoais! Eu consigo imaginar perfeitamente a Milly Bobby Brown com o marido, Jake Bongiovi, se encontrando com a Giulia Be e o Connor Kennedy numa tarde de domingo para jogar, tal como Sharpay Evans com seus tacos personalizados.
Um de seus benefícios é ensinar a concentração e a precisão. Como uma pessoa desatenta, isso seria incrível. Apesar de me fazer questionar o meu senso de competitividade e até onde ele é ou não é saudável.
O fato de você andar bastante entre um buraco e outro, faz com que haja uma boa queima de calorias. Fontes apontam que constrói caráter e senso de aceitação — para quando a gente perde. Olhando por este lado, tem boas vantagens. E eu nem mencionei as vistas, que são lindas.
Você não imagina também? Olhar para o lado e ver um vale magnífico, as cores laranja e rosa brincando com as nuvens no céu… Tudo bem, eu preciso parar por aqui antes que eu chore.
- Arco e Flecha
(Foto: Reprodução/Pinterest)
Minha primeira experiência com arco e flecha foi assistindo Katniss Everdeen. Para a maioria das jovens da minha idade, talvez essa também tenha sido.
Minha primeira experiência real com o arco e flecha foi com as Olimpíadas de 2016. Meu pai me levou para assistir uma partida feminina e, por mais que eu tenha lembranças repletas de indignação com o preço da coca-cola e da coxinha, a experiência foi linda. Na saída da partida, as pessoas podiam pagar para jogar — obviamente, com um material e equipamento diferente —, mas pareceu uma oportunidade bem legal.
Apesar de ser uma modalidade pouco explorada no Brasil, eu acharia incrível se me perguntassem “o que você treina?” e eu pudesse responder “arco e flecha”. Acho super aesthetic.
- Esgrima
(Foto: Reprodução/Pinterest)
Mais uma vez a influência televisa marca o meu fascínio por modalidades que não combinam em nada com o meu cotidiano — leia-se: pobre. Brincadeiras a parte, era uma graça assistir personagens lutando com espadas e uma postura perfeita. Barbie em “Barbie em: As Três Mosqueteiras” foi o primeiro contato que me lembro de cabeça.
Anos mais tarde, Lucinda “Lucy” Price, protagonista da série literária “Fallen”, escrita por Lauren Kate, foi uma diva sem memória de suas vidas passadas, mas com reflexos intactos, que deu um show de elegância e talento.
A confiança em seu adversário, a leveza dos movimentos, tudo. É um conjunto tão único que forma um resultado tão especial, que seria impossível não mencionar o equilíbrio como último tópico da lista.
A realização de sonhos
Escrever é a realização de um sonho para mim. Assim como cada item apresentado na lista acima. Sou muito grata por, hoje em dia, termos tantas formas de lutarmos pelos nossos sonhos e vontades. Por mais que o seu não tenha sido mencionado, você ainda pode realizá-lo.
Quantas vezes precisamos decidir o que fazer em nosso aniversário, e sempre ficamos entre uma programação cheia de gente ou um bolinho intimista? No último ano eu aprendi muitas lições valiosas, e uma delas, foi sobre pensarmos mais em nós mesmas.
Existe uma diferença entre pensar em si mesma e ser egoísta. Como uma festeira, eu amo estar perto das pessoas, comemorando, sendo comemorada. Mas, para muitas pessoas, o aniversário é a única data em que pode se dar ao luxo de fazer algo para si mesma. E está na hora de fazer algo por você mesma, pelos seus sonhos mais fortes. Está na hora de ir em busca da sensação de realização.
Como esta é sua única vida — independente do que você acredita, é a única com esse corpo, com essa composição —, vale a pena terminar de ler esta matéria, abrir o Google e pesquisar: “como fazer aula de…”, “onde posso jogar… no Brasil?” e o que mais tocar no seu coração.
Julie Girl, vá em busca dos seus sonhos. Eles são apenas seus, e só você pode vivê-los. Sonhe, busque, planeje e concretize. Estou torcendo por você, e até à próxima — espero que tenha realizado até lá.
Escrito por: Ana Clara Reis.
Revisão por: Milly Ricardo.