A fluidez da escrita em “Não direi que é amor”, de Natalia Avila

“Não direi que é amor” foi o meu primeiro livro — em muitos tópicos. Primeiro livro do ano, primeiro nacional finalizado em dez anos, primeiro livro que marquei na vida — e, diga-se de passagem, o primeiro livro que eu senti estar conversando com a personagem ao ponto de querer esgana-la de vez em quando. Esse é o efeito que Noelle Vieira Albuquerque causa nos leitores.

Por mais que a história tenha se tornado interessante — em opinião pessoal — lá pela página cem, a escrita de Natalia Avila é tão deliciosa de ser ler quanto uma fatia de bolo de laranja quentinho com calda, recém tirado do forno, em uma cafeteria lindíssima e superfaturada. Natalia escreve magicamente bem, e se pudesse dar uma nota para a fluidez das palavras escritas pelos seus dedos, seria mais de mil.

Encaro que a maioria das pessoas com pré-conceitos acerca da literatura nacional — em geral, fantasia e ficção nacional — não fazem ideia de que a ambientalização continental das personagens não importa tanto quanto elas pensam. Afinal, a leitura se torna tão prazerosa, que seja no Rio de Janeiro ou em Barcelona, o que de fato importa é a trama. Nesses casos, o cenário é mais como um acessório — vezes digno de destaque, vezes apenas um complemento. De toda forma, o local terá maior importância de acordo com sua necessidade para a história.

Quanto a Noelle, ela é uma espécie de bruxa moderna. A protagonista de “Não direi que é amor” me estressou muito, mas ela é só o reflexo de tantas pessoas que não estão nem aí para as reações de suas ações. A Noelle é aquela personagem que você vai amar e se identificar, ou que você vai odiar. Confesso que fiquei mais na linha tênue, pendendo para o ódio, mas percebi que as opiniões sobre ela e suas atitudes dependem da perspectiva de vida do leitor. Quando lemos uma história, esperamos ser acolhidos por ela; esperamos, na grande maioria, nos identificar, mesmo que os livros sejam uma forma de escape. Em várias cenas, eu escrevia o quanto a Noelle, que vivia chamando a irmã mais velha, Jessica, de egoísta, era tão egoísta quanto. Mas com essa personagem tão complexa, Natalia Avila me fez refletir se, no final, a protagonista de sua história não era só uma figura que resumia parte da humanidade. 

(Foto: Reprodução/Instagram)
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A melhor parte do livro, no entanto, é o incrivelmente gostoso Gael — nosso mocinho encantador — e seu fiel escudeiro, e melhor personagem, o golden retriever Luke — inspirado no Skywalker. Star Wars, inclusive, é apenas uma das centenas de referências pop que Natalia incluiu na obra. Ah! E para as Swifties que amamos, Taylor está presente tanto em títulos, quanto falas e trilha sonora. 

Se você for ler o livro esperando uma boa redenção para Noelle, pode ficar tranquila: ela vai chegar! Mas não se engane, você provavelmente irá passar raiva com as burradas dela até as últimas páginas. No entanto, nem dá para acusar que a autora escreveu um final rápido, porque simplesmente, era tudo o que a gente precisava! Ver o casal principal finalmente se encontrando depois de tantos desencontros, aquece nosso coração de um jeito tão especial que queremos abraçar Natalia Avila e colocá-la num potinho por ter nos presenteado com um romance que, em muitas cenas, nos fazem surtar pela fofura e dinâmica entre as personagens.

Minha personagem predileta, no entanto, foi a Manuela. Inicialmente, o que pensamos ser uma rival declarada para a protagonista, se torna uma das personagens secundárias mais bem trabalhadas e desenvolvidas ao longo da história. E por falar em personagens secundárias, todas ganharam um desfecho do qual mereciam. E isso, sem tirar o tempo de “tela”, o qual chamaremos de “tempo de página e linhas” da protagonista. 

Tenho a percepção de que a Noelle mereceu, sim, parte das coisas que aconteceram com ela. Afinal, foram as reações das suas ações. Mas conforta meu coração de leitora saber que ela está em boas mãos depois da última página. Noelle Vieira está segura com seu Universo predileto, o qual ela conversa diariamente; Luke e seu dono maravilindo, Gael; suas novas gatas; seu apartamento novo sem hora para lavar louça e em nossos corações.

Natalia Avila. conhecida como Fada de Saturno. Autora de histórias mágicas. (Foto: Reprodução/Marina Chalom/Instagram) @marina.chalom e @fadadesaturno no Instagram

Ah! E Natalia, você nos disse na exclusiva para a Julietta que estava aceitando sugestões para quem pudesse vir, um dia, a interpretar suas personagens nas telas do cinema. E a Julietta diz: que não há ninguém melhor para imaginarmos como a complexa Noelle quanto a sua esplêndida criadora.

Nota final: 4.5/5

Escrito por: Ana Clara Reis.

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