“Você não está cansada de fingir ser perfeita o tempo todo? Porque eu estou exausta só de olhar para você”. Eu nunca li “Um de Nós Está Mentindo”, mas se a personagem criada por Karen McManus for tão complexidade como a que adaptaram para a série da Peacock, meu amor, não sei como ela aguentou!
Na adaptação homônima, Bronwyn Rojas é uma das quatro personagens principais do drama de mistério lançado em 2021. A trama gira em torno de cinco adolescentes que vão parar na detenção juntos no primeiro dia de aula do último ano do ensino médio. No entanto, apenas quatro deles saem vivos.
Atormentados por alguém que armou para eles, os quatro improváveis começam uma caçada pela sua inocência. No geral — para alguém que não tem a visão do livro em mente — e curte um bom thriller policial, a série agrada. Pela primeira vez, uma produção do gênero não me torturou durante os episódios tentando descobrir quem era o real assassino — porque percebi que não adiantaria muito tentar, eles souberam mascarar bem desde o início. É aquele tipo de série que você pode assistir com seus pais, porque até as cenas de conteúdo “pesado”, são relativamente leves.
Considerando a segunda temporada, também é a primeira vez que uma continuação se mantém, ao me ver, páreo com a primeira. Um novo drama assombra os quatro protagonistas, e por mais que minha voltasse fosse (alerta de spoiler!) que um deles fosse o real culpado, preciso reconhecer que é uma boa produção (fim do spoiler).

Mas e Bronwyn Rojas? Interpretada por Marianly Tejada, há quem descreva Bronwyn como o “cérebro” do grupo. A frase que abre esta matéria foi uma das únicas que ficou na minha cabeça durante a série. Dita por Maeve Rojas (Melissa Collazo), a irmã mais nova de Bronwyn, descreve a síntese e representação da personagem.
No geral, seu desenvolvimento é clichê: é a garota certinha que namora um bad boy e descobre que a vida é mais do que apenas ser aceita numa Ivy League — e seu maior “pecado” foi ter roubado as respostas de uma prova de química e colado para passar. Crianças, não colem! É errado — muito errado.
Mas Maeve não errou em nenhuma de suas palavras. Certamente a busca pela perfeição é um dos fatores que mais irrita os telespectadores, porque tudo sempre precisa ser do jeito da Bronwyn. E pasmem: muitas vezes seus planos deram errado.
Em meio à sua busca pela vida perfeita, vemos a superproteção com Maeve, que se recuperou de um câncer, e como Bronwyn faz de tudo para manter a irmã “segura”, a afastando — o que, numa adolescente que viveu parte de sua vida restrita, causa o efeito oposto.
Se não fosse a busca pela perfeição, ela não teria roubado as respostas da prova. Se não fosse pelas respostas roubadas, ela não estaria na sala de detenção. Se não fosse pela sala de detenção, ela não teria, possivelmente, perdido sua chance de entrar em Yale, considerando todos os rumos que sua vida levou em seguida. Ao mesmo tempo, é o que chamamos de efeito borboleta: se Bronwyn não tivesse feito o que fez, não teria aprendido a lição: a busca implacável pela perfeição pode emplacar grandes quedas na nossa vida.


Quando se está cego por um ideal de perfeição, e falha, é como se estivesse no topo de uma escada íngreme; só falta você para atravessar a porta, mas de repente ela se fecha. Você tropeça para trás, perde o equilíbrio e não tem onde segurar. Quando se percebe, está rolando todos os degraus, se machucando, sem saber quando vai parar. Então, normalmente uma alma bondosa vem, interrompe sua descida que parece infinita e mostra que, na verdade, ela é finita.
Bronwyn pode ser uma personagem angustiante de se assistir, mas não é todo ruim. Temos muito o que aprender com seus erros e acertos; ela é destemida e desenvolve seu valor para o “time” a cada episódio. O que não a isenta de seus defeitos, e de como isso afeta a todos que estão ao seu redor.
Para toda ação, uma reação, já dizia Ñewton. E perceber que você não pode controlar o mundo ao seu redor é o que, muitas vezes, te salva de tentar controlar tudo que está relacionado a si mesmo.
Escrito por: Ana Clara Reis.