Uma das minhas lembranças de infância era ver minha família explorando o mundo e pensar: “Ah, mas quando chegar a minha vez…”. Minha avó, principalmente, sempre viajou a trabalho, uma mulher aplicada e séria que, um dia, foi a um congresso em Paris com minha tia Naninha. As histórias que ela contava sobre o clima e as ruas da cidade sempre me fascinaram, e eu só conseguia pensar no dia em que seria a minha vez de viver aventuras parecidas.
Acho que minha avó sabia desse meu desejo, pois ela inventou uma música com uma melodia simples e uma letra ainda mais simples, que dizia: “Quem vai pra Paris comigo?”, sempre cantada com uma voz engraçada. Essa música ficou gravada na minha infância e no meu subconsciente, como uma promessa que ainda não tinha se realizado, talvez pela vida corrida. Mas a pequena Gabi, que cantou essa musiquinha por tanto tempo, nunca esqueceu.
No começo deste ano, as coisas finalmente se alinharam. Minha mãe se mudou para outro país, o que abriu novas portas para serem exploradas. O sonho da pequena Gabi estava finalmente se tornando realidade: eu realmente estava indo para Paris. No dia 20 de setembro, saí do aeroporto de João Pessoa com a primeira conexão para o Rio de Janeiro. A ficha ainda não tinha caído. Entre uma espera de cinco horas pelo voo para Paris, me distraí com afazeres da universidade.
Quando finalmente embarquei, era uma sexta-feira à noite e lá estava ela, me esperando: a cadeira econômica, que seria minha companheira por 11 horas e 30 minutos. O que ela não esperava era que nosso relacionamento fosse tão curto, pois, logo após a decolagem, o painel acima da minha cabeça despencou, e o comissário de bordo me levou para a Premium Economy. E foi lá, em uma nova e chique cadeira, que passei o resto da viagem, ao lado de um francês que não falava inglês e de uma Gabi que não falava francês. Imaginem a cena: cada ida ao banheiro era um verdadeiro show de mímicas.

Finalmente, pousei no aeroporto Charles de Gaulle. A ficha ainda não tinha caído. Com 15 documentos diferentes nas mãos, meu nervosismo era imenso para passar pela imigração, mas foi tudo muito rápido. “Você veio passar as férias?” perguntou a policial, e eu respondi que sim, com um sorriso cansado, mas repleto de felicidade. A última coisa que ouvi foi: “Bem-vinda a Paris”. Foi aí que percebi: eu realmente estava em Paris.
Reencontrei minha família, e paramos em um pequeno bistrô de esquina para comer. Me senti criança de novo, descobrindo coisas novas, paisagens novas. Qualquer detalhe diferente me fazia rir junto com minha mãe. Analisei cada roupa, cada jeito de andar e as expressões das pessoas, pensando em quanta coisa eu ainda descobriria nos próximos 14 dias. No dia seguinte, acordamos cedo. A primeira missão era comprar um casaco poderoso, para proteger uma pessoense do outono parisiense. Mas a missão principal era outra, aguardada por tantos: ver a Torre Eiffel.
Quando finalmente a vi, não acreditei nos meus olhos. Parecia uma pegadinha. Aquele monumento, que eu tinha visto em fotos a vida toda, estava ali, diante de mim, marcado com o símbolo das Olimpíadas. Atravessamos o rio Sena e sua umidade, e eu agradeci profundamente por já ter o meu casaco. Fomos em direção ao Arco do Triunfo e à Champs-Élysées. Ao final do dia, eu só conseguia pensar em aprender todas as línguas que ouvi pelas ruas.


Sempre ouvi dizer que, se você não visse pelo menos um rato em Paris, você não tinha ido de verdade. E, em uma tarde no jardim do Museu do Louvre, com a Torre Eiffel ao fundo e um sanfoneiro tocando “La Vie en Rose”, minha viagem foi oficialmente confirmada: eu vi meu primeiro ratinho correndo. Dentro do Louvre, me senti envolta em história. Pensava nas pessoas importantes que talvez tivessem andado pelos mesmos azulejos que eu, ou admirado as mesmas obras de arte. O Louvre tem uma magia que sempre será difícil de descrever. É um lugar de cultura, aprendizado e muita história.
Pegamos alguns dias de chuva, mas isso não impediu uma brasileira de turistar. Visitamos shoppings, a Sacré-Cœur, o Moulin Rouge e vários restaurantes. Em uma sexta-feira, no nosso último dia em Paris, decidi que precisava ver a Torre Eiffel brilhando à noite, nem que fosse sozinha. Com um bilhete de metrô na mão e um sonho na cabeça, lá estava eu, fazendo a contagem regressiva para ver a Torre brilhar. Foi uma sensação mágica, como se estivesse dentro de um filme. Fiz uma chamada de vídeo com meus amigos e namorado, para que eles pudessem compartilhar um pouco daquela experiência comigo.
Os dias parisienses chegaram ao fim, mas novos dias estavam por vir. Peguei um trem-bala rumo a Anglet e Biarritz, no sudoeste da França. A diferença era enorme. Em Paris, ouvíamos sirenes e buzinas; em Anglet, só se ouvia a brisa leve e o som do mar. Foi um choque completo. Eu, que vinha de uma rotina frenética de metrô e caminhadas, agora estava na praia.
Nos hospedamos em Anglet, a 10 minutos de Biarritz, onde comi um dos melhores doces da minha vida – um Gaufre de Nutella – enquanto apreciava uma das paisagens mais lindas que já vi: o mar mais azul. Com um carro alugado, passamos por Bayonne, Saint-Jean-de-Luz e até cruzamos a fronteira com a Espanha.



Os 15 dias passaram rápido. Voltei para Paris para um último dia e me despedi da Torre, agradecendo ao universo e à minha família – meus avós, tios, pais, padrasto, namorado e irmão. Sem eles, não teria havido Gabi em Paris. E com eles, o “Quem vai para Paris comigo?” finalmente se realizou. Não pude ir com minha avó, mas sei que ela estava torcendo por mim de longe, acompanhando minha jornada. Muitos detalhes e experiências dessa viagem ficaram guardados só para mim, mas saibam que sou imensamente grata a todos que ficaram felizes por mim e comigo.
Escrito por: Gabi Siqueira.
Amei a forma que vc escreve, as fotos são lindas tbm, sucesso!
Amei a forma como você relatou sua viagem, passando pelos caminhos de sua infância até chegar ao presente momento, onde me senti envolta do início ao fim. Compartilhamos do mesmo apelido e por um momento senti que compartilhamos até mesmo da história, porque enquanto lia, parecia que era eu mesma indo à Paris. Me emocionei junto e quase chorei, é muito bom ver alguém querido realizando um sonho. Espero que você tenha muito sucesso e estarei aqui pra apoiar! Parabéns amiga! <3
amei !
👏👏👏👏👏♥️
Que coisa linda! 😭❤️
No aguardo das próximas 🙂
Que lindo Gabi, me senti vivendo a experiência com você!!! ✨️