Quarta rosa com um gostinho especial de “de volta ao passado”! Em 2004, o estilista brasileiro Jum Nakao realizou um desfile que se tornaria um marco na história da moda. Conhecido como o “Desfile de Papel”, esse evento não apenas desafiou as convenções da moda, mas também apresentou um manifesto contra a crescente da fast-fashion.
No início dos anos 2000, a moda brasileira estava em pleno auge. Designers como Alexandre Herchcovitch, Ronaldo Fraga, Gloria Coelho, Reinaldo Lourenço e Jum Nakao estavam colhendo os frutos dessa fase de afirmação e inovação. No entanto, esse período de destaque coincidiu com a chegada da fast-fashion e de tecidos mais baratos, principalmente vindos da China. A introdução desses produtos trouxe uma pressão significativa sobre os estilistas nacionais, forçando-os a se adaptarem a um cenário onde a produção em massa e o consumo rápido se tornaram predominantes.
Com isso, Jum Nakao decidiu usar seu desfile para fazer uma declaração ousada contra essas tendências, em uma mistura de moda, arte e manifesto. Ele concebeu um desfile que iria além do simples ato de mostrar roupas; queria criar uma performance artística que levasse o público a refletir sobre o impacto da indústria da moda. Genial, não?

(Foto: Reprodução/Internet)
O desfile, realizado no São Paulo Fashion Week, foi projetado para ser uma crítica visual e emocional à globalização e à produção em massa. O conceito central envolvia a criação de roupas inteiramente feitas de papel, que foram elaboradas para representar o transitório da moda fast-fashion. A ideia era mostrar a fragilidade e a superficialidade do consumo desenfreado.
Cada peça do desfile foi feita com um tipo específico de papel, incluindo papéis reciclados, papéis especiais e papéis tratados. O processo de criação envolveu técnicas artesanais complexas, incluindo a construção e o acabamento das peças.
O objetivo era claro: destacar a fragilidade das roupas fast-fashion em contraste com o trabalho manual e a atenção aos detalhes.
O desfile começou com modelos vestindo roupas de papel, que gradualmente foram se desfazendo durante a apresentação. Algo extremamente reflexivo para quem, de fato, parou para entender sobre. À medida que as peças se deterioravam, os modelos caminhavam lentamente pela passarela, simbolizando o ciclo de vida curto e insustentável das roupas produzidas em massa. O momento alto do desfile foi quando as roupas se desintegraram completamente, expondo os corpos dos modelos e refletindo a mensagem do consumismo e da “moda rápida e mais barata”.

(Foto: Reprodução/Internet)
Além de um desfile surpreendente, a reação do público fez jus ao que foi visto: como de esperado, as pessoas presentes ficaram impressionadas e comovidas pela mensagem retratada cheia de arte e inovação. Uma forma extremamente criativa de trazer uma reflexão de um assunto tão sério e cada vez mais presente no nosso dia a dia.
O impacto foi tão grande, que a crítica ao consumismo e à globalização tornou-se um tema central em muitos desfiles e coleções subsequentes.
Além do impacto, o desfile foi além: recebeu reconhecimento internacional e ajudou a estabelecer Nakao como um estilista visionário e conhecido. Sua capacidade de combinar moda e arte em uma forma de performance deixou uma marca diferenciada na história da moda.
O desfile de papel de Jum Nakao é um exemplo de como a moda pode ser usada como uma plataforma para crítica social, misturando arte, criatividade e defendendo seus ideais de forma surpreendente. Além de criatividade, foi necessário ousadia: afinal, desafiar a superficialidade da fast-fashion e destacar a fragilidade do consumo em massa não é para todos. Nakao criou um evento que não apenas encantou, mas também inspirou uma nova abordagem para a moda e um novo olhar para um assunto que precisa ser falado; além do mais, ainda nos mostrou uma dupla que funciona: Moda e arte.
Escrito por: Isa Lugon.
Revisão por: Milly Ricardo.