Ao ser perguntada qual personagem feminina seria, com muito humor, Iris Figueiredo responde que gostaria de ser uma personagem independente, resolvida e que não tivesse o nome no Serasa. Dessa forma, ela diz que gosta muito de “Aurora”, do livro “Luzes do Norte”, da autora Giu Domingues. “Ela é uma personagem que me passa bondade, tranquilidade, paz e força”, ela pontua.
Acerca da escrita, Iris compartilha que sua infância foi cercada por livros. Relembrando as suas raízes, menciona que seus pais se conheceram na faculdade de Letras. Crescendo em um lar que respirava literatura, Iris conta que sua família sempre foi uma inspiração para ela em muitos aspectos e na literatura não poderia ser diferente. “Achava muito incrível ter a capacidade de contar histórias. Por meio disso, surgiu o meu desejo de escritora: compartilhar com o mundo as histórias que até então eram só minhas”, relata.
A respeito dos autores que marcaram a sua vida como leitora, a primeira vez que apresentou um texto para outras pessoas foi quando escreveu uma peça no colégio inspirada na obra “O Grande Desafio”, de Pedro Bandeira. Ainda sobre o autor, Iris compartilha que amava ler os seus livros e até “devorava” a obra “Os Caras”. Sua primeira ida em uma Bienal do Livro, aos 12 anos, também marcou bastante sua vida. No dia anterior desse fato, sua mãe, ao assistir a televisão, descobriu que Thalita Rebouças participaria do evento pela primeira vez como autora da Editora Rocco. Com muita empolgação, Iris conta que foi ao evento determinada para conhecer a autora e, ao fazê-lo, foi muito bem tratada e acolhida. Iris conta que leu o livro da Thalita no final daquele ano, mas por conta dessa memória afetiva, a sua experiência foi inesquecível.
Com essa vivência, Iris concluiu que às vezes uma autora marca um leitor não necessariamente pela venda de um livro, mas sim pelo acolhimento gerado pelo contato. Com muita paixão pelas obras que a fizeram amar esse universo, a autora menciona que esse período foi regado de afeto, cuidado, compartilhamento e amizade. “Em alguns momentos, os livros foram os meus amigos e também me trouxeram amigos. É lindo saber que a partir da contação de histórias você trouxe pessoas para a sua vida” afirma.

Sobre o surgimento de ideias, Iris defende que cada uma vem de um processo. A ideia de “Céu Sem Estrelas” veio em uma manhã em 2011 na qual a autora foi fazer matrícula para a UFRJ com uma amiga. A dupla passou pelo laboratório de revelação de filme e imediatamente na sua mente veio a imagem do casal de protagonistas e uma briga ocorrida. Por anos, Iris quis entender o motivo da briga desse casal. No processo de escrita, ela conta que foi adicionando e removendo algumas narrativas. A autora admite que também se inspirou em obras de não-ficção que estava trabalhando enquanto era editora assistente.
Já em “Um Passo de Cada Vez”, Iris fala que trouxe alguns de seus conflitos da adolescência somados ao que gostaria de ter vivenciado. “Para mim, essas histórias acabam sendo pequenos fragmentos de coisas da minha vida”, pontua. Em seu conto na antologia “De Repente Adolescente”, Iris conta que a ideia surgiu na sua ida para Bento Gonçalves na qual o ônibus que estava quebrou na beira da estrada enquanto ela lia “Daisy Jones & The Six”.
Com fome e cansada do imprevisto da viagem, a autora foi a busca de um lanche, e ao abrir a bolsa para pegar a sua carteira, uma nota fiscal caiu em seu colo. E isso acendeu uma luz em sua mente. Quando chegou no hotel, Iris virou a noite escrevendo parte do conto. Desse modo, a autora escreveu um conto que mostra arquivos de uma investigação composta por notas fiscais, mensagens e bilhetes. Na narrativa, acompanhamos uma pessoa coletando fragmentos e tentando solucionar essa situação do lado de fora. Assim, a autora conclui que seu processo criativo ocorre da junção de vivências diversas.
Sobre as etapas da sua escrita, a produtora editorial a divide em duas partes. Na primeira, ela brinca que é egoísta porque só pensa na ideia que está em sua mente e naquilo que ela quer desvendar. Para ela, ao saber o final do livro perde a vontade de escrevê-lo, porque o cérebro dela já completa as lacunas. Segundo a autora, mesmo que pareça inusitado, o que mais a diverte no processo de escrita é pensar esse processo e descobrir como a história chega em determinado ponto. “Tenho vontade de saber como aquele personagem passa aquilo tudo e por mais que eu saiba como vai acabar, eu sei que às vezes pode mudar. Então, esse processo de descoberta e mudança me interessa muito” ela compartilha.
Para Iris, a partir da primeira revisão, o livro já não é mais dela. Desse modo, a autora começa a moldar o livro pensando no leitor e na sua compreensão. “São etapas que para mim são muito importantes por fazerem parte da construção desse universo de histórias, são etapas que me fazem entender que a leitura é individual e coletiva — assim como a escrita”. A autora admite que sente que escreve para si mesma no quesito criar algo que goste, está afim de ler ou gostaria de ter lido em algum momento de sua vida e só posteriormente pensa em quem estará lendo as suas obras. “A partir do momento que decidi transformar a escrita em algo público — nem que seja só para uma pessoa — ela já deixa de ser minha”, relata.
Sobre o seu processo criativo, a autora conta que todos os seus livros foram publicados por editora. Seu primeiro romance “Dividindo Mel” foi escrito aos 17 anos e publicado aos 19. Já o Best Seller “Céu Sem Estrelas” foi o seu quarto livro publicado e o primeiro em uma editora grande (Seguinte). Ela compartilha que foi um livro “surtado” de dentro dela, levou bastante tempo para ser escrito e, ao ser finalizado, ela não se importou se seria publicado em uma grande editora. Ao mostrar o arquivo para a editora, Iris admite que ficou incrédula que teve a aprovação para ser publicado, uma vez que, em sua mente, a obra não iria vender, e ela nunca se sentiu tão grata por ter errado.

Sobre largar ou arquivar uma história, em meio a risadas, Iris comenta que às vezes perde uma história que escreveu. Para o livro que está escrevendo no momento, Iris compartilha que utilizou algumas anotações de 2017 presentes em seu bloco de notas. “Não sou uma escritora planejadora, tenho coisas que começo e deixo descansar, já outras começo, percebo que não funciona e esqueço total”, comenta. Com muita tranquilidade, a autora conta que confia na nuvem (ICloud) e que não tem problema se ela falhar pois escreverá algo novo. “Controlo muita coisa na minha vida, e as vezes gosto que a escrita seja essa coisa que meu sentimento pode falar mais alto do que todo o resto”, afirma.
Sobre o mercado editorial brasileiro, Iris relata que gostaria que houvesse implementação de políticas públicas que impulsionam o mercado editorial por meio de programas de incentivo à leitura e criação de mais bibliotecas. No Dia Nacional da Biblioteca, Iris foi convidada para palestrar em uma escola em São Gonçalo, sua cidade natal e onde reside. Ela relata que tem o costume de iniciar as palestras perguntando quem não gosta de livros e observar as mãos levantadas. Só que dessa vez foi diferente. Um aluno levantou a mão e, ao decorrer da palestra, foi um dos mais engajados realizando o máximo de perguntas. Ao final, o rapaz compartilhou que até então achava que não existia livro para ele. Ao relatar essa vivência, a autora pontua que gostaria que os livros fossem mais acessíveis. “Eu sei o poder transformador do livro já que a minha vida foi transformada pelos livros”, conclui.
A respeito de seu sonho como escritora, confessa que já realizou muitos sonhos na sua carreira que incluem o pagamento da sua carteira de motorista e reformas em casa. “Meu desejo como escritora é continuar realizando os meus sonhos enquanto rego sonhos de outras pessoas. Para mim, a literatura vai florescendo os sonhos de outras pessoas”, afirma. Em 2023, Iris foi convidada para compor a programação oficial Bienal do Livro Rio no estande denominado “Café Literário”. Sobre a experiência, ela relata que, ao receber o convite, ficou muito emocionada e honrada. Com muito humor, ela relembra que sua família a prestigiou nesta conquista e sua mãe ficou “toda boba” por andar nos carrinhos de golfe do evento.
Muito conectada à música, Iris conta que cria playlists durante a escrita de suas obras. Para a sua obra muito musical “Um Passo de Cada Vez”, adicionou uma dose de nostalgia ao ouvir novamente as bandas e cantores que marcaram a sua adolescência. Sobre o contato com leitores, a autora relata que ama participar de feiras literárias. Ela tem o costume de ir para o estande da editora e abordar pessoas que talvez nem a conheçam e conversar sobre livros.
Fenômeno de vendas, ao utilizar essa forma de cativar os leitores, apenas 1 semana todos os exemplares de “Céu Sem Estrelas” foram vendidos na Bienal do Livro em seu ano de estreia e ficou como o terceiro mais vendido da Editora Seguinte naquele ano. Com muito humor, ao ser perguntada sobre quais palavras usaria para se descrever como autora, Iris fala “nossa, você está com cada pergunta difícil”. Muito certeira, a autora escolhe uma frase com três palavras: sonhos virando realidade.

Sobre o seu próximo lançamento, Iris conta que esse ano ainda lançará um livro — que ainda não pode dar muitos detalhes — que fala sobre luto e é inteiramente em cartas. Alguém aí também está animado para esse lançamento? Na época da entrevista — que ocorreu em abril — a autora estava no processo de escrita de um livro da Iasmin — muito pedido pelos leitores. Sobre o processo criativo, a autora compartilha que está sendo muito interessante trabalhar com as emoções dessa personagem que já apareceu em “Céu Sem Estrelas”, mas que tem a própria história para contar. “Adoro isso de escrever personagens que já apareceram em outras histórias porque acredito que todo mundo é protagonista da sua própria história”, afirma.
Em 2021, os direitos da sua obra “Céu Sem Estrelas” foram comprados pelo Elo Studios para que ocorresse uma produção audiovisual, mas que ainda não há data de lançamento. Sobre esse projeto, Iris conta que há uma burocracia no processo e ainda estão lidando com os primeiros detalhes. Quem está animado para ver essa obra nas telinhas levanta a mão!
Acerca do projeto da Julietta, Iris espera que esse movimento seja algo que ocorra ao longo do ano e que as pessoas considerem a literatura nacional (principalmente aquela criada por minorias) para além dos meses que as suas causas são comemoradas. Ela também pontua a necessidade de uma busca ativa da parte dos leitores de serem intencionais ao saírem da bolha/sugestões do algoritmo com a finalidade de conhecer outros autores. Foi maravilhoso conhecer a jornada dessa autora tão inspiradora — e que, segundo ela, agora somos besties!
Escrito por: Maria Eduarda Rocha