Rebeca Kim provavelmente vai ser a pessoa mais legal que você irá conhecer hoje. Com um espírito aventureiro e sempre buscando coisas novas para aprender, ela não deixa sua deficiência física a impedir de fazer algo. Kim é nipo-brasileira e cadeirante, e em uma rolagem de tela em suas redes sociais não dá pra negar que ela viveu e muito! Desde pular de parapente no nosso (modéstia a parte) Rio de Janeiro lindão, a conhecer o Papa em Roma. E a lista não para por aqui, tá? São 30 coisas antes dos 30!
Ah, e mesmo que eu tenha usado o “Kim” no parágrafo anterior, aqui vai uma curiosidade: Rebeca Kim é nome composto, Kim não é seu sobrenome. “Kim é o meu segundo nome de origem japonesa, que é a minha ascendência. Eu quis manter a minha ascendência no nome justamente para deixar isso como se fosse uma marca minha.” A marca está registrada! Rebeca Kim é autora de contos incríveis, onde ela busca a representatividade em suas obras contando histórias sobre pessoas com deficiência física, pessoas não-brancas fora de seu país de origem, ou que não tenham crescido ligados à sua cultura e principalmente exaltar o Brasil em diversos detalhes. “Eu quero ver em histórias situações que eu não me encaixava, por ser uma mulher com deficiência, não-branca. Eu quero escrever esses personagens e proporcionar esse tipo de histórias que eu não tive enquanto leitora.” declara a profissional.
O conto “Um Amor de Carnaval” da coletânea “Confetes e Serpentinas” foi sua primeira história publicada, falando sobre a época mais animada desse país e ela se identifica com sua personagem principal “Ela tem a personalidade um pouco mais parecida comigo. Eu gosto muito de carnaval, muito rolezeira, sabe? E ela tem a mesma deficiência que eu, mais ou menos assim, mas talvez a mais próxima de mim fisicamente.” E como (quase) toda autora deixa um pedacinho de si em suas personagens, ela também se identifica com a Lidia Hikari de “Rascunhos de uma Cena Sublime”. “É uma mulher com deficiência, não é que ela pareça comigo, mas ela é o que eu queria ser, digamos assim, que ela está começando a vida adulta sozinha, independente, sabe? Ela é um pouco do que eu quero alcançar ainda” disse Kim.
Em “Rascunhos de uma Cena Sublime”, um conto curto que deixa a afirmação de querermos mais de Rebeca na escrita. Nessa história, Lidia Hikari decidiu que seu primeiro grande ato de independência na capital de São Paulo seria ir ao teatro assistir a uma montagem da Broadway de Amor Sublime Amor. A única coisa que não estava nos seus planos era se encantar por uma das atrizes da peça.”

“Do jeitos mais variados possíveis. Eu já sonhei, aí acordei querendo escrever, tomando banho, ouvindo conversas dos outros. Sabe, eu ouvi uma conversa na rua fragmentada, que você não sabe do que se trata… Eu sou muito assim. E os pontos das coletâneas foram com temas específicos. Já chegou para mim, vai ser sobre Carnaval ou sobre Natal. Então eu fui pensando a partir dos temas.” relatou Rebeca sobre como surgem suas ideias para escrever. E sobre os temas específicos de coletânea, ela se joga mesmo na temática haha e sua playlist diz muito sobre isso.
Momento Playlist!
Conto “Um Amor de Carnaval”
- Milla – Netinho
- Especial de Carnaval – AnaVitória
- Rua 15 – Banda Eva
Conto “Rascunhos de uma Cena Sublime”
- Conquista – Claudinho e Buchecha
- Misery Business – Paramore
- Sk8er Boi – Avril Lavigne
“Tem que entrar dentro do livro, eu amei. Mas isso foi muito difícil, porque inclusive é uma coisa muito difícil, no geral das coletâneas, tanto essa quanto a do Natal, são temas, tem épocas do ano, né? Inclusive eu queria escrever alguma de festa junina, por favor me convidem. Só que daí, uma questão sobre isso é que a gente não escreve na época que é a data. Tipo assim, se o livro vai lançar no Natal, a gente não tá escrevendo no Natal. Então eu tive que programar minha cabeça como se fosse. Não tem a magia do Natal, tem que ser escrito no Natal. É, aí por isso as músicas temáticas.” contou a escritora. Isso é genial, fala a verdade!
Se descrevendo em 3 palavras como autora, ela se descreve como “Romance, Clichê que eu gosto bastante e Final Feliz pode ser uma palavra só?” E apesar de escrever esses clichês, seu livro favorito é “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” e completou dizendo que é um livro que todos deveriam lê-lo. “É meu livro favorito, e todos deveriam ler porque eu acho que é uma história muito envolvente, é muito bem escrito e eu acho que cada um pode sentir de uma forma. Eu acho que é legal esse impacto que o livro tem nas pessoas não é uma história única para cada um.” E se Beca pudesse trabalhar com uma personagem por 1 semana, adivinha quem seria? Isso mesmo, Evelyn Hugo haha “Acho que dá, né? Muita tempo com ela é meio tenso, né? Uma semana acho que tá bom. Mas assim, eu trabalharia com ela na época do auge dela, como atriz e tal. É um universo que eu me interesso muito, de filmagens e filmes. Eu acho ela uma personagem incrível. E é um contexto que eu gostaria muito de conviver por uma semana, assim. Participar desse universo.” declarou Kim.

Sendo uma boa leitora nacional, Kim diz que foi Thalita Rebouças quem a levou a amar a leitura. “Foi a autora que eu comecei a leitura com livros, porque eu gostava muito de Turma da Mônica com o gibis, mas livros mesmo, eu comecei a minha vida de leitura com ela, é uma autora que eu admiro muito pessoalmente, porque ela cativa leitores até hoje. Ela mostrou que é possível viver de ser escritora no Brasil, jovem para adolescente, um público que na minha época assim não existia, então ela.” Mesmo tendo essa inspiração de que é possível, ela mudaria algumas coisas no mercado editorial brasileiro “Eu mudaria justamente essa falta de diversidade que vem melhorando nessas experiências. Pegar aí um recorte de 10 anos pra cá, mas mesmo assim, hoje em dia ainda é escasso. Se você pegar, eu não tenho dados exatos, mas com ranking de vendas, normalmente não são as pessoas não-brancas que estão, pessoas com deficiência estão menos ainda.” desabafou.
É inspirador ver essas mulheres cada vez mais tomando espaços que lhe foram negados por um bom tempo, e ver que Rebeca Kim luta pelo seu sonho e busca trazer histórias e personagens com tamanha representatividade onde as pessoas que se identificam não tem visibilidade no mundo real é inspirador ao dobro. Rebeca Kim merece o reconhecimento e todas as histórias vem de alguma música.
Escrito por: Jullia Vieira