Fernanda Castro fala da literatura com brilho nos olhos, e acredito que nesse papo gostoso, ela não seria uma Fernanda Castro completa se não houvesse a leitura, já que não se lembra de uma vida sem isso. “Fui criada, escrevendo assim. Eu tenho uma irmã mais velha que há oito anos mais velha do que eu e a gente dormia juntas bem no quarto, e ela sempre me contava histórias antes de dormir. Ela fazia fanfics só pra mim, com os primeiros desenhos animados favoritos. Então, viver com histórias, consumir histórias é uma coisa que eu faço desde criança. É uma coisa muito natural. Foi uma transição muito natural pra mim e pro mundo da escrita. De um jeito que, acho que hoje, uso isso como um meio de me expressar mesmo. Acho que não foi uma escolha consciente” relembra a autora.
“Originalmente sou formada em ciência da computação. Cheguei a fazer até doutorado e do nada eu resolvi assim que eu ia mudar. Eu comecei com um blog de resenhas. Eu resenhava livros como hobby e eu fui conhecendo o mercado editorial. Fui conhecendo quais eram os papéis das pessoas naquele meio, né? Eu descobri o que é que eu fazia, o preparador de texto, o diagramador… fui me apaixonando e fiz essa transição de carreira consciente. Então assim, eu realmente trabalho com o que eu amo. Não consigo me enxergar com as outras coisas no momento” completa a profissional sobre o que a fez começar a escrever.
E assim, a irmã Castro deixou uma escritora em ascensão. Fê escreve fantasias, romantasias, noveletas e até já se aventurou em ficção científica, e assim como na escrita, ela o faz na leitura e indica a fazer o mesmo. “Recomendo que as pessoas não fiquem presos a um nicho, a um gênero, leia coisas doidas, leia coisas que você achou que nunca ia ler, você sempre vai tirar alguma lição, nem que seja descobrir que você realmente não gosta daquilo” conta.
Com toda essa versatilidade literária, atualmente, sua escritora favorita é Meggie Stiefvater, “Ela uma escritora incrível. Assim, tudo que a mulher faz é bom. Ela também escreveu um livro que quando eu li, eu fiz assim ‘Era esse o livro que eu queria ter escrito’, sabe? Não só ela é uma escritora muito boa, como ela é uma escritora que eu gostaria de criar um dia” E para os curiosos de plantão, o livro é “A Corrida de Escorpião”. Se aproveitando de indicações de livro, ela indicou “Serpentário”, do Felipe Castilho. “É um livro nacional que eu acho que ele, pra quem é brasileiro, é um livro que se fosse traduzido pra outra língua, não ia bater tão forte quanto bateria pra quem é brasileiro. Sabe aqueles livros que você lê e faz assim ‘eu entendo do que você tá falando, porque eu moro nesse país” conta a escritora.

E é isto que ela gosta de fazer seus leitores sentir em meio fantasias, a identificação. “Porque todo mundo é doido e eu adoro escrever gente doida, tô brincando [risos]. Mas, assim, eu acho que os meus livros abordam muito mais do que fantasia. Eu abordo muito personagens, problemas familiares e muito questões femininas, né? Sobre o que é ser mulher, essa relação mãe e filha, irmãos, como a sociedade enxerga a mulher louca, entre aspas, a mulher que chuta o pau da barraca e diz assim, ‘eu não vou mais aceitar nada’ E aí você é chamada de mulher estérica, de descontrolada, geralmente são esses os assuntos que eu abordo. E eu acho que pra quem se identifica como mulher, é bom você ter essa vivência, é quase uma fantasia da gente. Podemos ver uma mulher que não pede desculpas, que não pede licença. A gente precisa ter contato com isso de vez em quando. E pra quem não se identifica, a literatura é uma maneira da gente se colocar na pele de outra pessoa, de criar empatia e entender uma problemática pelos olhos de outra pessoa” explica Fê.
Em “Mariposa Vermelha”, seu último lançamento, o livro nos conta a história de Amarílis — uma jovem que, com a ajuda de um demônio, embarca em uma jornada para enfrentar o passado, descobrir a própria força e assumir sua verdadeira essência. Com uma sinopse cativante, a maioria de suas obras chamam atenção não apenas com uma capa bonita, mas Fernanda diz que suas ideias vem de “uma mistureba de coisas”.
Em “Mariposa Vermelha”, ela sabia que queria uma personagem que descobrisse que era uma pessoa ruim e aceitasse isso, e depois ela pega problemáticas familiares e alimenta a história. Ah, e por que Mariposa? É porque sua irmã mora em Portugal, e lá as crianças costumam criar bichos de seda “Então, a minha irmã pensou ‘se eu pegar um ovinho só de bicho da seda, pode ser que corra. Então, vou pegar cem.’ E aí, a minha irmã tentou com cem bichos de seda em casa. […] A minha irmã extraiu a seda, tentou fiar o fio de seda. Então, é através dessas nerdices” E o fato de usar questões familiares, ela acha que eles gostam das análises, rendem boas conversas.

Assim como sua irmã, Fernanda é louca por animais, ela possui 3 porquinhos da Índia e já criou até lagarta! Adivinha seu sonho como escritora [haha] “Eu gosto de falar, eu gosto de pessoas, mas eu tenho um lado muito introspectivo e um lado muito… Eu gosto de bicho, de mato, de natureza. Então, eu tenho um sonho de ser aquela autora que mora no meio do mato, não tem redes sociais. Uma vez por ano, eu saio, entrego o meu manuscrito, digo assim, ‘ó, escrevi mais um, vejam aí como vocês vão fazer’ E volto para o meio do mato. Esse é o meu sonho”
Apesar desse sonho de trabalho, ela trabalharia por uma semana com a personagem fictícia Helen Brandt de sua última leitura que foi “Mesmo Sabendo como Tudo Acaba”, “Ela é maravilhosa. É uma mulher que, ao mesmo tempo que muito segura do que ela faz sem ter aquela banca de impenetrável, ela também tem suas facetas, seus seus erros, seus arrependimentos então mulherão, sabe? Mulherão mesmo” Essa é a Fernanda Castro, com um mundinho verde e fantástico que em suas leituras podem te fazer a Julietta mais pensativa do mundo.
Escrito por: Jullia Vieira