Adeline Virginia Stephen, nascida em Kensington em 1882, viria a se tornar uma das maiores escritoras britânicas do modernismo clássico. Após seu casamento com Leonard Woolf, receberia o sobrenome com o qual se tornou conhecida na cena literária do Reino Unido, e mais tarde em escala mundial. Virginia Woolf se tornou símbolo da literatura clássica escrita por mulheres do século XX e durante sua carreira como escritora, juntamente com seu marido, fundou a editora Hogarth Press.

A escrita de Woolf, para leitores acostumados com linearidade absoluta, pode se mostrar confusa, isso porque a britânica utilizava do fluxo da consciência em seus livros. A técnica consiste em apresentar ao leitor a trama do pensamento do personagem com todas as suas nuances.

É comum nesse tipo de escrita a transcrição das impressões da personagem em relação ao ambiente e a outros personagens em um emaranhado de ideias que lhe surgem. Tendo em vista a complexidade de Virginia e o possível interesse em sua leitura, farei um breve guia de por onde começar a lê-la. (Na minha humilde opinião.)

(Foto: Reprodução/Internet)

Em 1925, Woolf lançou “Mrs. Dalloway”, um romance que se tornaria sua obra mais conhecida e é por ela que recomendo o início de sua leitura. “Mrs. Dalloway” narra um dia na vida da protagonista, Clarissa Dalloway, uma proeminente madame da Inglaterra pós-primeira Guerra Mundial. Neste romance, existem mudanças súbitas de narradores e seus respectivos fluxos de consciência. Todos os personagens virão a se conectar com Clarissa até o fim do dia, de uma forma ou de outra. Ao se acostumar com essa leitura, que considero uma das mais tranquilas e cativantes de Woolf, considere-se pronto para a próxima.

Dois anos mais tarde, seria lançado “Ao farol”, que apesar de ter um nível mais complexo, uma vez que concebe o tempo como um vai e vem entre o ontem, o hoje, e o amanhã da vida da família Ramsay, pode ser seu segundo passo como iniciante na autora. Em “Ao farol”, são narrados os dias dos Ramsay em sua residência na Ilha de Skye, na Escócia.

Aqui, Woolf tece a vida e morte dessa família ao longo dos anos, e o faz usando a casa como uma metáfora para o tempo, e uma viagem para o farol que é ansiada desde as primeiras linhas do livro, como motor para a história. A passagem do tempo flui como um verdadeiro labirinto do fluxo da consciência das personagens.

(Foto: Reprodução/Internet)

Um ano após o lançamento de “Ao farol”, Virginia lançaria uma de suas obras mais complexas e enigmáticas. “Orlando” — uma biografia, narra a longa vida do personagem de mesmo nome que na segunda metade do livro, acorda um belo dia e se vê com um corpo feminino. Há quem diga que é uma das obras mais tranquilas de Woolf, mas sua complexidade está na compreensão do leitor sobre os assuntos abordados na trama.

Durante três séculos a vida de Orlando é narrada e suas aventuras são um tanto quanto pitorescas. O leitor vê a situação toda como um absurdo, mas o próprio Orlando após subitamente se transformar em mulher, age como se nada de tão fantástico tivesse ocorrido e segue sua vida. Fica o questionamento: será que Orlando se metamorfoseou tal qual Gregor Samsa? Ou sempre fora mulher e a sociedade que não o via como tal?

(Foto: Reprodução/Internet)

Se ao terminar a leitura destes três, você ainda tiver interesse na escrita de Virginia, as portas desse mundo complexo já estarão escancaradas. A escrita de Woolf reflete sua mente confusa que se alternava desde a pré-adolescência entre os episódios de mania e os de depressão. Ao seguirmos as linhas de pensamento de cada personagem, podemos ter um vislumbre de como a própria escritora pensava.

Para os interessados na vida e nas relações que Virginia manteve durante ela, a leitura de seus diários é altamente recomendada. Por meio deles, as influências de seu passado e de seu cotidiano em seus trabalhos, se tornam cristalinas.

Escrito por: Milena Rayana

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